Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

domingo, 26 de dezembro de 2010

JORGE MEDEIROS (Homenagem ao amigo e poeta)


JORGE MEDEIROS

SOBRE O AUTOR
Jorge Luiz de Oliveira Medeiros, carioca de nascimento, amante das noites do Rio, admirador do jeitinho mineiro de ser e de alma definitivamente baiana, pois os fatos importantes de sua vida acontecem sem pressa.
Não se define poeta – para ele o verdadeiro POETA á aquele que vive intensa e verdadeiramente a vida. É na vida que a poesia se encontra.
Seu caminhar com a palavra escrita iniciou-se aos dezessete anos, e hoje pertence e é pertencido pelos grupos Po-de-Poesia e Gambiarra Profana.
Jorge Medeiros é professor, pedagogo, massoterapeuta, e é profissionalmente amigo de quem souber se aproximar.


APRESENTAÇÃO

Jorge Medeiros, poeta da busca. Através de seus versos o poeta pontua suas inquietações a respeito de si e de suas relações sociais.
Reflete suas vivências de encantos e desencantos com a intenção de decifrar suas metáforas mais íntimas. Trazendo os versos do poema para dentro de sua centralidade.Mas, para isso, procura, antes de tudo, compreender a periferia que o cerca na sua ação pedagógica, sem impor qualquer didática rígida na sua construção poética.
Não é prisioneiro de verdades alheias. E sem se preocupar com o tempo, busca seu caminho trilhando-o com seus próprios passos, e não querendo que o digam para onde deve ir.
Ivone Landim

POEMAS DO LIVRO : BAGAGEM DE MÃO

INÍCIO

Contar os passos
Sem vacilar
Pra olhar
O precipício
E buscar
Um novo
Início...
Na queda.

MEUS VERSOS

Não sei brincar de fazer versos
Meus versos não colam em paredes
Não despertam olhares
Não acedem paixões
Meus versos, todos, escorreram-se
Pelos esgotos, pelos bueiros
Pelos cantos negros do meu, do teu corpo...
Meu verso calou-se no beijo
Dado em qualquer calçada
Meu verso não vale nada
Nem no canto da boca
Do riso estragado.

PROCISSÃO

Sigo uma procissão
Descompassada
Onde não há
Cânticos conhecidos
Não há rezas certeiras
Ou costumeiras

É apenas um ir
Indo pelo ir
Pela exigência
Do passo
Pra um caminho
Que desconheço

A ladainha
Da vida
Segue
Contínua
Permaneço
Na procissão...
Até quando?...

FADA

A fada da minha infância
Era indecente
E não tinha idéias...
Contava fábulas
Forjadas em situações
De flertes
Com forasteiros
Que desciam das favelas

A fada não usava fitilhos
Nem fitas no cabelo
A fada fazia firulas
Nas folias de fevereiro.

A fada tinha uma fome
Flutuante,
Faiscava seus flancos
No olhar fixo dos
Fumantes
E fustigava os sexos
Dos falsos
Fabricantes de prazer

BAGAGEM DE MÃO

Minha bagagem
Não é tão espessa
Quanto a de madrinhas
E de padrinhos de poesia
Que vivem a sacudir
Poeiras e verdades inteiras
Minha bagagem
Meus caros amigos poetas
É uma valise de mão
Que carrega versos curtos
Essenciais a uma viagem
De ida, sem volta.

ALGUNS LIVROS LANÇADOS PELA GAMBIARRA PROFANA E FOLHA PATAXÓ

Os Covardes Também Cantam Canções de Amor (Sérgio Salles Oigers)
A Borboleta azul, a Mariposa e o Gafanhoto (Fabiano Soares da Silva)
Ventos na Primavera (Arnoldo Pimentel)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

NATAL E CINZAS (Arnoldo Pimentel e Silviah Carvalho)

NATAL E CINZAS
Arnoldo Pimentel e Silviah Carvalho

Ainda não tenho onde ficar no natal
É apenas uma noite feita para ilustrar
Inventar sorrisos onde não há
Na verdade ilusão de uma noite feita para enganar
Nessa noite ilusória me fecho para não participar
Não tenho onde ficar...
Eu não me encontro, mas talvez alguém me ache
E me faça acreditar
Que esta noite é mesmo especial
Ou então espalharei cinzas na hipocrisia
Desta noite que chamam de natal

domingo, 12 de dezembro de 2010

SÃO LOURENÇO

Os selos abaixo são para todos os visitantes.
Presente da Silviah Carvalho (http://umcoracaoqueama.blogspot.com)
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Presente da Zezinha (http://wwwzezinha.blogspot.com)

REGRAS
1 - Postar e distribuir os selos indicando o link que presenteou (http://ventosnaprimavera.blogspot.com)
2-  Visitar os blogs dos selos
3-  Ler e comentar o poema, razão do blog existir)

                                
SÃO LOURENÇO

Seria apenas um último olhar
Talvez com um pouco de tristeza
De incerteza
Mas um último e profundo olhar
E tudo então ficaria ali

Depois seria só olhar pra frente e caminhar
Acreditar que depois do deserto há um Oasis a esperar
Na bagagem apenas um jeans desbotado
Um sonho para ser alcançado
Um projeto de vida inacabado

Mas as lembranças ainda estarão nos olhos
No rosto marcado pelo sabor amargo
De nunca ter tido ninguém ao seu lado

As noites serão ao relento
Sonhará com a voz meiga e doce
Que toca seus ouvidos e seu coração
Nas noites de São Lourenço
E vinha pelo vento do pensamento
Eternizava cada momento

Era a estrela no deserto a lhe tocar
Pedindo todo amor que tinha para dar
Era o Oasis que precisava encontrar

Seria apenas um último olhar
Um deserto para atravessar
Um Oasis a lhe esperar
Um sonho para acreditar
Sem ter medo de outra vez
No meio do vento
Naufragar



A noite de São Lourenço é quando se vê o maior número de estrelas na Itália, conhecida como a noite mais romântica de todas e muitas pessoas vão a Toscana para ver a chuva de estrelas cadentes e fazer um pedido, realizar o sonho de felicidade.

Leituras recomendadas:

http://gambiarraprofana.blogspot.com
http://fcpataxo.blogspot.com
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www.myspace.com/gambiarraprofana
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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

POEMAS FEITOS PRA VOCÊ


POEMAS FEITOS PRA VOCÊ

Eu hoje acordei pensando em você
Fui até a varanda
E tentei encontrar um jeito
Qualquer jeito para lhe ver

Mas você está distante
Não está aqui como ontem
Então lembrei sua voz
Pensei não apenas em mim, mas em nós

Eu hoje como sempre senti sua falta
Abri a gaveta e peguei o caderno onde escrevo poemas
Todos os poemas são pra você, assim posso te ter

Assim posso esperar até poder te ver
São apenas poemas
Que faço pra você, até poder te ver, até poder te ter

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ASA DELTA


ASA DELTA

Se o sol brilha
Quero você ao meu lado
Quero você inteira
E não em pedaços

Se o céu é cinza
E a chuva é fria
Quero te abraçar
E te aquecer
Tudo esquecer

Você é a asa delta
Onde me agarro
E salto num vôo livre
Enchendo meu vazio
Sobre as praias do Rio

Se é noite
Quero amar você
Até adormecer
Sem ver o sol nascer

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NOITES DE FRIO (Otávio Venturelli)


NOITES DE FRIO
Autor: Otávio Venturelli

Nos dias gelados do inverno na serra
O frio recita o Poema da geada,
A grama se veste de branco, enfeitada
E o vento da noite segredos encerra.

A lua, pisando de leve na terra,
Invade a janela de vidros fechada,
A conta das horas de insônia não erra,
E as dores mantêm a minha alma acordada.

Imagens passeiam em minha memória,
São mágoas retidas ao curso da história,
Vividas, sofridas e amadas em vão...

Então me levanto, e afastando a tristeza
Acendo o meu quarto, e essa lâmpada acesa
Apaga a saudade no meu coração!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TREM DA ILUSÃO

                                                    TREM DE ILUSÃO

             Hoje é só um dia que o trem não irá enfeitar sua vida.  O dia amanheceu sem alegria,  a chuva embaça a janela por onde seus olhos procuram o céu para saber se está claro para poder sonhar com seu trem no quintal. Hoje a chuva embaça seus sonhos de liberdade no apito que invade o espaço cortando o ar com a delicadeza de sua voz. Seus olhos já estão embaçados como a janela pelas lágrimas que escorrem pelo rosto, pelo desgosto.
             Nesses dias de chuva o pequeno quintal de sua casa passa ser como um horizonte longe demais, então sua sala seria o lugar para seu  trem. Se tivesse um trem de brinquedo, pegaria a máquina e tiraria a poeira com um pequenino espanador, pegaria uma flanela e daria um brilho para ficar bonita como uma princesa de aço, limparia o vagão de lenha e depois os vagões de carga, que seriam dois e por fim os três de passageiros, sim, seria um trem grande, bonito, vistoso. Armaria a estrada de ferro pela sala, emendando pedaço com pedaço, sem pressa, passando a estrada por trás da estante, do sofá, das poltronas e pelo meio da sala, ali seria como o deserto, uma pradaria sem fim, cercada de nada por todos os lados, pelos fantasmas da sede e da solidão, pela noite fria e pelo dia escaldante, com o sol brilhando com toda sua beleza e sua força, assim os passageiros iriam sentir toda a solidão que existe no deserto, no deserto dos lobos, das pessoas, dos poetas, até a caixa d’água, sim, ele não esqueceria a caixa d’água no meio do deserto, ela iria matar a sede do trem e das pessoas, sua sede de brincar, sua sede de amar cada pedaço do trem, sua sede de viver cada minuto da sua infância, depois de matar a sede todos iriam seguir viagem pelo meio da sala, meio do nada, do quadro pintado ao seu redor,  medo de ficar só.Depois de algum tempo de viagem, iriam avistar o povoado, o trem apitando, as pessoas se aglomerando na estação, estação onde chegavam sonhos, de onde partiam sonhos, estação de todos, estação de ninguém, estação de trem, mas não havia trem, apenas uma sala vazia, vazia como sua infância, por onde perambula, por onde só pode ficar com seus pensamentos de um dia ir adiante. Seu olhar só quer fitar os pingos da chuva, tentar enxergar quando passar, para saber se ainda poderá viver, poderá brincar, brincar com seu trem feito de madeira, pedaços de madeira, feito de imaginação, feito de coração, então quando a chuva passar, correrá para o quintal, nem mesmo esperará a terra secar, e montará seu trem com os pedaços de madeira, com os pedaços de sua história, que um dia há de se montar e se mostrar.
             O menino ficou ali observando a chuva pela janela embaçada, as nuvens negras que escondiam o sol, que cobriam o céu, os raios que cortavam sua esperança, como a realidade adulta corta os sonhos de criança. A noite caiu, não tinha estrelas, olhou mais uma vez pela janela, sentiu o frio do desencanto e resolveu entregar-se ao sono, deitou-se desejando sonhar com um dia de sol, que enfeitaria seu quintal para poder sentir alegria no seu coração e montar seu trem de madeira, seu trem feito de ilusão.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Menina do rio (Arnoldo Pimentel e Silviah Carvalho)











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Fiquei na margem do rio,
Desanuviando minha mente,
Meditando na constância das águas,
No desapego da alma, neste vazio...

Vi pessoas passarem as margens
E notei cada um faz seu próprio rio
E navegam em suas esperanças
Levando as lendas em suas bagagens

Vi a menina sentada à beira do rio
Sonhando com a felicidade
Esperando o boto... Não sei!
Que a tire da beira e se faça seu rei.

Na espera inútil a tristeza vem à tona
Não há encantamento... Eu chorei!
Vendo a tristeza nos olhos da menina
Do rio amazonas...

Eu a vi partindo só e com frio
Deixando nas margens o fim do seu rio
Eu a vi sofrer por um conto infantil
Eu soube que ela nunca mais sorriu

E eu! Ainda espero só,
Na margem do rio... do meu Rio.

domingo, 21 de novembro de 2010

SEMEAR O VERBO AMAR


SEMEAR O VERBO AMAR

Um dia pensei em pegar um pedaço de amor
Apenas um pedaço para não faltar no amanhã
Eu queria plantar na minha lavoura de espinhos
Para quando a chuva chegasse pudesse germinar
Pudesse me ensinar a conjugar o verbo amar

A sentir o calor das folhas quando
Viajasse para os pólos
Quando meus pés vacilantes tocassem o solo
E eu estivesse preparado para amar
Quem por ventura fosse me amar

Um dia eu ouvi a canção do Bob Dylan
E não esqueci mais a montanha que eu queria escalar
Mas a montanha era feita de miragem e gelo
E para escalar
Eu teria que aprender além de conjugar, semear
Semear o verbo amar
Aprender a me doar
A acreditar
No amor que tinha para dar

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

OLHANDO OS TROVÕES QUE CORTAM O CÉU


OLHANDO OS TROVÕES QUE CORTAM O CÉU

Eu não quero sentir saudades de você
Não quero que você atravesse a ponte
Pra ficar longe

Não quero que você chore
Se o orvalho se esquecer
De embelezar a flor
Não quero sentir essa dor

Não quero que você brigue
Se a chuva que prometi não cair
Não quero ver você partir
Prefiro morrer ao ver você se despedir

Não quero te machucar
Não quero nem saber se o mar
Vai desabrochar
Só quero uma coisa

Que você esteja sempre ao meu lado
Pra saber que irei sempre te amar

sábado, 13 de novembro de 2010

ACONTECER


ACONTECER

Um dia vai acontecer
Eu vou te ver
Na praia do arpoador
Ou num disco voador

As palavras que tenho pra te dizer
Estão todas guardadas
Há tempos sonhadas
Como frases aladas

Eu quero te beijar
Beijar seus lábios
Sentir o calor
Do seu amor

Eu preciso te dizer
Dizer uma coisa
Mas não é qualquer coisa

Preciso é te dizer
Que gosto muito de você
Que amo você

terça-feira, 9 de novembro de 2010

DIÁRIO DE BORDO

Recebi os selos abaixo e ofereço a todos os amigos
http://umcoracaoqueama.blogspot.com               -   Silviah Carvalho
http://nalvinhafigueroa.blogspot.com   -  Nalvinha
http://ternuras56.blogspot.com         -  Ana Paula
http://meusamigosseusmimosseusencantos.blogspot.com      - Outros Encantos
http://floresdevenus.blogspot.com                                        - Allyssen
htp://molhe-se.blogspot.com                                                - Ana Agarriberi


Regras
1- Escolher, postar e distribuir os selos escolhidos indicando o link que presenteou (ventosnaprimavera)
2- Se puder visitar o blog dos selos
3- Ler e comentar o poema, razão do blog existir

                                                             
DIÁRIO DE BORDO

Eu hoje poderia apenas estar lendo meu diário
Diário de bordo
Poderia estar vendo onde naveguei
As pessoas que amei
Montanhas que escalei

Quem sabe pegasse emprestado uma linha do tempo
Para medir as palavras que foram soltas
Para escrever meu diário
E esquecer meus aniversários

Meu diário que não foi escrito só tem lembranças
Lembranças do ônibus inventado na varanda
Dos sonhos coloridos na infância

Do amor que não foi vivido quando nasceu
Que deixou saudades quando morreu
Da dormideira na beira da estrada
Que só porque toquei, ela encolheu

Hoje eu poderia estar lendo meu diário de bordo
Dia após dia sempre a mesma filosofia
Acordar
Sonhar e ver o tempo passar
Esperar o mundo se acabar
Esconder-me no diário do meu mar

Eu hoje poderia estar apenas lendo meu diário
Folhear as páginas da vida que não aconteceu
Lembrar da noite que assisti
Audrey Hepburn em “A flor que não morreu”
Antes do dia já esquecido que nasceu
E não floresceu

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

NÉCTAR


NÉCTAR

Quero amar você
Nos campo de flores de mel
Sentir a maciez da sua vida
A suavidade
Dos seus carinhos
Nas várias estrelas do céu

Quero saciar
Minha sede de você
Como náufrago
Numa ilha
Depois de dias à deriva
No mar verde das incertezas

Quero viajar
No sorriso dos seus olhos
Como pássaros que migram
Sonhando em suas asas
Para terras distantes
E desconhecidas

Quero me alimentar
No seu amor
Nos seus desejos
Nos seus beijos
Como o beija-flor
No néctar da flor

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

SÉRGIO SALLES OIGERS (Homenagem ao amigo, poeta e músico)

                                                  

                                                
                                                  SÉRGIO SALLES-OIGERS
               Não é preciso dizer de como é feito os versos de Sérgio Salles Oigers.Sua composição é feita por palavras que resumem a angustia do homem, a alegria e suas paixões
               Porém, cabe ao leitor, a tarefa de encontrar as mensagens, que as perfeições e imperfeições destas palavras querem dizer.
            A compreensão da realidade vista pela poesia, requer algo que possa semelhar a si, que é, em síntese, a imperfeição moldada na sua maneira de ser.
           A imperfeição esta, que torna complexa, dinâmica e autêntica a natureza humana e suas criações.
          Fabiano Soares da Silva

          Sérgio Salles Oigers é compositor hermético dadaísta de plantão.

Zine
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Livro
Os Covardes Também Cantam Canções de Amor

Links                                                                                                                                                             www.myspace.com/gambiarraprofana                                                                                                           gambiarraprofana.blgospot.com                                                                                                                   chicletesalgado.blogspot.com                                                                                                                    

Blog que colabora                                                                                                                                      
po-de-poesia.blogspot.com        


 OUTUBRO
Autor: Sérgio Salles-Oigers

Meu amor
Seu amor
Nosso amor
Pra sempre existirá
Por que não há
Um outro igual
Tão doce assim
Tão terno assim
Que nem mesmo toda brancura
Possa se comparar
E se há que há
Que seja feliz assim
Como sou
Diante...

... Do teu olhar
Da tua paz
Do teu bem
Que tão bem me faz
Quando sorri
E ao respirar
Enfeita o céu
Da cor ao mar
Deixa tão lindo
Tudo de mais lindo que há

Entristecer
Desesperar
Será impossível
Pra quem te acompanhar

  
HANS, ÍSIS, JADE E ABEL
Autor: Sérgio Salles-Oigers

Com desprezo
me agarro
ao cadáver
de minha mãe
caído, ali no chão,
dividindo espaço
com tantos outros corpos
chacinados
pela mesma mão,
que não há muito tempo
com beijos ela abençoou,
entregando seu coração
ferido por um filho
que à beira de seu caixão
suas jóias particulares saqueou.

Dentre suas jóias particulares
se encontrava
um Hierofante de marfim
talhado por mim
enquanto o réu se escondia
atrás do vidro maternal
estampado no funeral
a lágrima de alegria
escorria pelos braços do cortejo
sob velas
transcendentais
e quentinhas de carne-de-sol com jerimum
preparadas
por mamãe
pouco antes de eu matá-la
à marretadas.

Minha marreta Juliana
só ela me entende,
não faz nenhum drama.
Minha marreta Juliana,
minha amada, minha cúmplice;
minha dama.

O terror!
O terror
de quem nunca se arriscou
a nadar na banheira
pra mergulhar
na língua da ribanceira
a testemunhar seu início
no fim da vida de alguém.

O terror!
O terror!
O amor!
A testemunhar seu início
no fim da vida
de outra pessoa.


domingo, 31 de outubro de 2010

SOB O SORRISO DA LUA (CONTO)


SOB O SORRISO DA LUA

O parque estava pouco movimentado naquela noite, os brinquedos eram os mesmos de sempre e o carrossel girava com as crianças sorrindo e acenando para os pais que ficavam acompanhando a brincadeira, o trem fantasma e os gritos de medo inventados pelo clima e ali estava a roda-gigante, iluminada, cadeiras balançando levemente com o toque do vento.
Ele estava lá embaixo só a olhar, olhava para ela que estava sozinha na cadeira a balançar, toda semana estava lá, sozinha no parque a passear. Ele a olhava sentada na cadeira da roda-gigante, mas não tinha coragem para sentar ao seu lado, tinha medo de altura e ficava apenas olhando, silenciosamente olhando, a roda começou a girar, ela subia e descia, seus olhos se encontravam, a roda girava iluminada, iluminada pelas luzes do parque, pelo brilho das estrelas, pela janela de seus sonhos que eram traduzidos pelo olhar. A roda parou, ela desceu, ajeitou-se e passou ao seu lado, quase tocando seu ombro, olharam-se no fundo dos olhos por alguns segundos e ela seguiu caminhando pelo parque, parou na barraca de algodão doce, pegou um e ficou saboreando, jogava os cabelos para os lados, talvez provocando, chamando sua atenção, querendo dar-lhe atenção. Ele ficou pensando, não sabia se poderia ir falar com ela, ela disfarçava um olhar, abaixava a cabeça, sorria, até que ele tomou coragem e foi caminhando devagar, olhos trêmulos, sorriso tímido, parou e ficou ali parado por alguns minutos, ela estava sentada no banco, ajeitou-se e ficou esperando, ele foi se aproximando, chegou perto do banco, pediu para sentar-se e ela acenou que sim, sentou-se, ficou quieto, respiração tensa, coração acelerado, sorriso encabulado.
Em frente ao banco, num lado desgarrado do parque, algumas árvores, um jardim com flores perfumadas pela primavera, ele estava quieto e ela resolveu quebrar o silêncio.

- Eu gosto tanto de flores e fico sempre admirando
+Qual é a sua preferida?
- Rosas vermelhas
+ Por que rosas vermelhas?
- Elas são sonhadoras como eu

Ele ficou quieto novamente e olhou para ela que estava com o rosto iluminado levemente pela luz da lua que aparecia entre as árvores.

+ Vejo você aqui no parque toda semana
- Eu também vejo você
+ Penso sempre em você
- Eu também
+ Eu gosto demais de você, queria te conhecer melhor
- Podemos nos conhecer sim

Olharam-se nos olhos e sentiram que algo estava nascendo entre os dois, ele pegou suas mãos, sorriram e ela falou:

- Já está ficando tarde, preciso ir
+ Posso levar você em casa
- Sim, gostaria muito

Levantaram-se e seguiram para a saída do parque de mãos dadas com a lua apenas sorrindo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CANÇÃO DAS ÁGUAS DO RIACHO


CANTO DAS ÁGUAS DO RIACHO

Houve momentos de esperança
A bicicleta simples encostada
Pronta para o passeio na estrada

De um lado da estrada de terra
Flores brancas e amarelas
Espalhadas
Abraçadas
Por pinheiros que quase alcançavam o céu

Bicicleta simples
Tão simples
Que nem mesmo era pintada
Menino feliz com a bicicleta
Solto na estrada

Tristeza camuflada
No som que vinha da gaita
Perto do riacho quase sem água
Do outro lado da estrada

Som triste traduzido na gaita
Que apenas murmurava
Iludindo as águas trêmulas do riacho
Que sonhavam um dia serem amadas

Que refletiam o vôo da águia solitária
Solidão plainando no céu de minhas asas
Deserto esculpido nas paredes
Do velho forte
Meu olhar tranqüilo
Sonhando com o olhar que vem do norte

Canção das águas do riacho
Vagando pelo vento
Cortando a fresta do tempo
Levando o lamento

Das lembranças dos tempos de menino
E da bicicleta solta na estrada
Hoje apenas uma lágrima afastada
Assim como a camisa listrada

Sem o som que nascia no riacho
Traduzido na voz da gaita
Que um dia ouvi
Sem o canto do colibri
Sem você por aqui

sábado, 23 de outubro de 2010

HELENA









 As imagagens são uma homenagem aos filmes de faroeste que eu e minha mãe Helena sempre assistimos juntos, a primeira é do filme "Rastros de Ódio" do mestre John Ford com John Wayne e a segunda é uma imagem do Monument Valley, que sempre esteve presente nos filmes do mestre.

HELENA


Era uma manhã de domingo como as outras no mês de março, sol claro e quente. Helena preparou o café no coador de pano, como fazia sempre, o aroma viajava feito pássaros em revoada, sentamos pra tomar café, conversamos e notei que ela estava um pouco triste, mas fiquei quieto, éramos muito ligados um ao outro e sempre respeitei seu silêncio.
Por volta das nove da manhã estávamos no quintal, olhei uma cena, um retrato que nunca mais saiu de minha memória, era um banco junto à parede da casa em construção, estavam sentados ali, Helena, meu filho que na época estava com três anos, meu sobrinho com dois anos e um tio. Helena acariciava os dois netos, que ficavam sorrindo, nessa hora eu não tinha uma máquina para fotografar aquele último momento que a veria feliz.
Saí um pouco para ir à feira comprar frango fresco para o almoço e no caminho lembrei, não sei por que, da noite do natal passado quando estávamos todos na casa do meu irmão e um pouco depois da meia-noite, saí da casa e fui até o muro do terraço ficar olhando o céu, gosto muito de olhar o vazio do céu, foi quando Helena se aproximou e ficamos ali conversando e olhando os fogos, por um bom tempo ficamos ali e em certo momento ela falou –“Este é o último natal que passamos juntos”, confesso que naquele instante senti um aperto no coração, senti que não havia um horizonte, que não havia um ponto fixo para atravessar a ponte.
Cheguei da feira e depois fui até a esquina, o sol ainda estava brilhando, o céu azul, limpo com poucas nuvens brancas, mas meu olhar sentia uma infinita tristeza, algo por vir, talvez uma tristeza escondida entre as paredes da esquina. Parei no jornaleiro e fiquei conversando com amigos, acabei me distraindo enquanto os minutos passavam, foi quando veio alguém em minha direção, chamou-me no canto e pediu para eu ir para casa, nesse instante minhas pernas tremeram, senti calafrios e fui caminhando com passos largos, não prestava atenção nas árvores, nas folhas verdes que estavam murchando, entrei pelo quintal e vi o movimento na porta da cozinha, entrei e foi quando vi Helena sendo trazida pelos braços, segurei no braço esquerdo, ajudando a levá-la para o carro, ela olhou pra mim, olhos tristes, cansados, já ausentes, nesse momento lembrei-me dos tempos de criança, em que eu ficava sorrindo para ela, lembrei-me da cachoeira que muitas vezes ela levava-me para olhar, de quando penteava seus cabelos longos, quando eu pedia colo, e quando adulto, das conversas que tínhamos e até dos filmes em preto e branco que ficávamos assistindo toda noite, mas ali estava seu olhar, ali vi o tempo passar, ela suspirou, olhou-me novamente nos olhos, fez um último esforço apertando de leve minha mão e falou baixinho, quase sussurrando, “Estou indo descansar”, senti um abandono, um abismo, minha mãe tão amiga, tão querida, na minha frente partindo, fiquei ali perdido, esquecido e acho que nunca me senti tão só.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

SILÊNCIO MUDO (CONTO)


SILÊNCIO MUDO (CONTO)

No ar o aroma do café fresco sendo passado no coador de pano, aroma que tomava todo o ambiente da cozinha, a mesa posta para as duas pessoas que viviam ali, por fim, o café ficou pronto e X serviu-o nas duas canecas enquanto Y olhava com olhar desatento, X sentou-se à mesa e começaram a refeição matinal, refeição simples, café, pão, manteiga e ovos estrelados, alimentaram-se em silêncio, não tinham nada mesmo para conversar, levantaram-se após terminarem o café, era hora de começar o dia, Y retira a mesa do café, lava as canecas e pratos, guarda as sobras de pão e começa a arrumar o alimento que levarão para o trabalho, enquanto X ocupa-se em preparar os lampiões com querosene para acenderem quando voltarem no início da noite e iluminar a casa, arruma também as ferramentas que usarão durante o dia no trabalho.
A caminhada para o local onde estavam trabalhando era longa, seguem lado a lado, o sol já brilha no céu prometendo um dia bastante quente. A paisagem é um tanto seca, o vento levanta a poeira que sobe pelos corpos suados. Todos os dias a mesma caminhada silenciosa, sem palavras para enfeitar o quadro que vai sendo pintado ao longo do tempo, um quadro pintado pelas cores do silêncio, da paz que esconde mágoas, da terra que não espera nada. Em alguns momentos apenas se olham, talvez esperando algumas palavras, ou um beija-flor aparecer e tocar as flores que estão no jardim dos sonhos. O dia foi passando e o trabalho correndo normalmente, trabalhar a terra, plantar, colher, sobreviver, é essa a vida que levam. A tarde chega o sol vai baixando, sem palavras, sem gestos amigos, apenas o companheirismo de estar sempre perto, com o mesmo propósito, ver todos os dias o sol nascer, manterem a esperança de um dia ser melhor, poder dizer que vale a pena viver.
Chega a hora de voltarem, fim do dia, outro dia que poucas vezes se olharam, poucas vezes se notaram, mas o trabalho foi feito, dever cumprido, o retorno não é diferente, apenas os corpos demonstrando cansaço, caminham lado a lado, o silêncio ecoa nos lados da estrada, o sol começa a se deitar, o anoitecer começa a nascer.
Foi apenas mais um dia na vida de duas pessoas, que vivem juntas, trabalham juntas e quase não se conhecem.Foi só mais um dia que acaba no por do sol, sem o canto do rouxinol, com o arame farpado do silêncio que separa vidas, impede idas e vindas de vidas impedidas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

QUADRO


QUADRO

Pintei um quadro na parede
Um quadro meio sem nada
Sem cores para brotar
Um quadro sem enfeites

Pintei um quadro pincelado de dores
De olhares sem vulto
Sem espelho para se fitar
Sem paredes para pintar

Pintei um quadro chamado solidão
Com muitas pessoas ao seu redor
E um sol tímido partindo no entardecer

Um quadro que não será lembrando
Mostra apenas o triste dia que vi morrer
Entre cores brancas do amanhecer

terça-feira, 12 de outubro de 2010

EU E O IPÊ (Silviah Carvalho e Arnoldo Pimentel)





SELOS (Sinto -me honrado em ter recebido esses selos e repasso a todos os amigos que vistarem meus blogs)

1- Nina - http://doce-meio-amargo.blogspot.com
2- Maria- http://algarve-saibamais.blogspot.com
3- Corina-http://o-meu-reino-da-noite.blogspot.com
4- Ana - http://ternuras56.blogspot.com

REGRAS
1- Ler e comentar o poema (Estou sempre pedindo porque a poesia é a razão do blog existir e acho que todos deveriam fazer o mesmo, pois sempre ficamos tão felizes com o presente que esquecemos de ler e comentar a poesia)

2- Visitar, se possível, os blogs dos selos
3- Postar o selo e colocar o blog que presenteou (ventosnaprimavera.blogspot.com)
4- Repassar para no mínimo 05 blogs amigos


Eu e o Ipê
Autores: Silviah Carvalho e Arnoldo Pimentel)

Ouço palavras nos ventos
O canto das ondas no quebra mar
Vejo a lua procurando direção
Como uma câmera a fitar meu coração.

Em noites de chuva fina prefiro ficar na janela
Fugindo talvez, dos tristes olhos dela
Observo as vias, os carros parados
Imagino corações desesperados

Gotas cintilantes molham as vidraças
Como cristais de lagrimas a derreter
Vejo no outro lado da rua, o reflexo
Da minha tristeza, o solitário pé de Ipê

Suas flores roxas no chão mudam o cenário
Pintam um quadro imaginário
Minha vida, eu e quem sabe você
Abstrato – impossível crer...

Da minha janela vejo tudo que passa lá fora
Da fina chuva pessoas vão se esconder
Na praça balanços giram na força dos ventos
E você é constante nos meus pensamentos

Sinto-me preso a raros momentos
Vestígios em mim que ficou de você
Restos de saudades, frágeis lembranças
Que só diminuem minhas esperanças

Da minha janela sonho acordado com você
Desço as escadas da vida tentando te encontrar
Ao menos fim. Triste realidade a vida sem te ter
Encosto-me, divido a saudade com meu solitário Ipê

sábado, 9 de outubro de 2010

TUDO QUE EU QUERIA


TUDO QUE EU QUERIA

Tudo que eu queria ter
Era um pedaço de papel e uma caneta
Para escrever minha própria vida
Minhas próprias escolhas
Minha própria sorte

Tudo que eu queria encontrar
Era uma garrafa boiando no mar
Trazendo uma carta sua que me desse esperança
E me fizesse sonhar, viajando no meu próprio tempo
Vencendo barreiras e fronteiras a nos separar

Tudo que eu queria sonhar
Era com minha própria aquarela
Pintar meu próprio céu, aonde na
Realidade estivesse você e que
Nosso encontro deixasse de ser um conto

Tudo que eu queria ser
Era o papel que está escrito minha vida
Para poder ficar na chuva, para molhar
Até a tinta sumir até deixa de existir
Pois a vida não é vida, se você não está aqui

GAMBIARRA PROFANA (ZINE N. 7)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

EU FIZ UM GOL



EU FIZ UM GOL


Houve um tempo que me dediquei ao futebol, como técnico e também como diretor de escolinha para garotos até 14 anos. No ano de 2001, eu e um amigo professor iniciamos um projeto para ensinar futebol e cidadania para garotos entre doze e quatorze anos, no começo eram 12 garotos e no final em 2006, quando deixamos o projeto com outros amigos, tínhamos cinquenta e oito garotos entre sete e quatorze anos. O professor ficava basicamente com a parte de campo e eu com a organização e um pouco de campo, e todo fim de semana tínhamos treinamento e também partidas amistosas com outros projetos. A parceria entre eu e o professor sempre deu certo, apesar termos visões diferentes em algumas coisas, como o tratamento aos garotos, ele era totalmente profissional, não se envolvendo em nada a não ser ensinar a prática do esporte e cidadania, enquanto eu me envolvia muito com os garotos, procurando saber junto às famílias sobre estudo e comportamento, com isso eles tinham em mim um amigo de todas as horas, e acho que por isso minha parceria com o professor sempre deu certo, pois além de amigos, nos entendíamos perfeitamente dentro do que fazíamos, apesar de opiniões diferentes em alguns pontos.
Todo sábado e domingo eu saia de casa com o material, bolas, uniformes, e alguns garotos me acompanhavam, pois residiam por ali, e foi num desses dias que vi na esquina um garoto pequeno, bem pequeno, uma chuteira na mão e um sorriso no rosto e me perguntou se poderia ir, respondi que sim, mas precisaria de uma autorização do responsável, no caso dele o pai, por escrito e assinada e assim ele entrou para o time. Quando chegamos ao clube, os outros garotos logo o chamaram de Romarinho, talvez por ser baixinho, mas assim passou a ser conhecido no projeto. Todas as categorias eram divididas por idade, e Romarinho ficou na categoria dele. Todo fim de semana, quando eu saia de casa por volta das seis da manhã para ir à padaria, lá estava Romarinho, sentado na calçada de sua casa com a chuteira na mão, eu falava que estava cedo, ele falava que já estava pronto e que iria fazer um gol, seu sonho era fazer um gol para o pai ver, mas o pai de Romarinho trabalhava todo fim de semana e não podia ir, mas ele sempre falava hoje vou fazer um gol pro meu pai ver, o pai não ia e o gol também não saia. Como Romarinho era menor e menos experiente, geralmente ficava na reserva, mas sempre entrava, corria, brigava, chutava, mas o gol não saia. Um dia quando eu passava pela rua para ir a padaria pelas seis da manhã e vi Romarinho sentado na calçada de sua casa, senti algo no coração, acho até hoje que foi um toque de Deus, e pensei hoje é o dia, alguma coisa me falava que naquele dia o gol sairia, o gol tão esperado, o gol tão sonhado, tão acreditado. Esperei o pai do garoto sair para o trabalho e fui falar com ele, pedi para ir no jogo, era importante pro menino, e seria na parte da tarde, as 15 horas, era festa de aniversário do projeto e teríamos um projeto amigo convidado, ele falou que tentaria ir. O jogo começou às 15 horas e o pai do Romarinho ainda não havia chegado, mas do campo, no banco de reservas ele olhava todo momento para a arquibancada, esperando ver o pai ali, torcendo por ele, acabou o primeiro tempo, descanso, menino impaciente, com os olhos procurando seu pai, o segundo tempo começou e ele entrou em campo, o jogo corria e lá pela metade do segundo tempo, o pai de do menino entrou no clube, sentou-se na arquibancada e ficou torcendo pelo filho, que do campo o viu na torcida, nessa hora ele começou dar mais ainda de si, as gotas de suor escorriam pelo corpo, tanto que antes do final estava cansado, o professor olhou pra mim e falou que iria substituir o Romarinho, então lhe pedi pela primeira vez, pois o professor tem a responsabilidade, autonomia, e eu jamais interferia no seu trabalho de campo, mas falei com ele, deixe o Romarinho e assim foi feito, o menino ficou em campo. Quando faltavam uns cinco minutos para o final, houve uma roubada de bola no meio do campo, e esta foi passada para o Mateus, ele tinha dois adversários pela frente, poderia passar por eles em direção ao gol, tinha plenas condições disso, mas jogou para a direita e levou até o fundo, lançou para o meio, a bola veio cortando a área, pernas tentando alcançar, em vão, o goleiro mergulhou esticando as mãos, mas não alcançou, foram quando o menino franzino veio correndo pela esquerda, o nome dele, Romarinho, estava ali a sua frente o gol esperado, sonhado, perseguido, o pai levantou-se na arquibancada, pescoços se esticaram, mãos acenaram, todos torcendo, uns contra, outros a favor, e a bola sorrateira como ela, cortava a grama em direção aos pés de Romarinho, ele chegou chutando, naquele momento, houve um silêncio, a bola viajou em direção ao gol, cortando o vento, cortando o tempo, o vácuo entre a alegria e a tristeza, segundos de incerteza, Romarinho olhando com os olhos arregalados e mãos cerradas, e então a bola balançou as redes, finalmente o gol, perseguido, sonhado, tudo parou, a única imagem que existia era a do garoto franzino correndo para as grades, agarrando-se nas grades, subindo pelas grades como se fosse alcançar o céu, gritando para o pai, eu fiz um gol, eu fiz um gol, eu fiz um gol.

sábado, 2 de outubro de 2010

VITÓRIA RÉGIA


VITÓRIA RÉGIA

Eu queria apenas olhar pela janela
Sentir a cor do olhar tocar minha pele
Sem desbotar o que eu trazia no coração
Para levar ao pólo norte das flores

Eu queria apenas que as rosas fossem flores
Para vestir junto com a calça jeans
Que estava esperando secar no varal
E entrar na vida antes que chegasse o fim

O fim da viagem que está logo ali
Depois do olhar que se prendeu na janela
E não viu a solidão passar
Não viu a flor sem mácula desabrochar

Eu sei que um dia, que talvez seja escuro
Irá nascer o caminho estreito e sem futuro
Que deverá sucumbir entre minhas folhas brancas
Onde estão escritos meus poemas ilhados

Nublados
Apagados
Sem ter pra onde voltar

Visite os blogs parceiros dos grupos de poesia que participo

http://po-de-poesia.blogspot.com
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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

LIBERTA (Silviah Carvalho)


LIBERTA
Autora: Silviah Carvalho (http://umcoracaoqueama.blogspot.com)

Descobri que o centro da angustia... Onde estive!
Não foi o lugar onde você me pôs e me deixou,
Neste lugar de aprendizado eu fui fortalecida,
Aqui deixo tudo que me afligiu a vida.

Renovada, fecho os olhos, estendo a mão,
Procurando a força de um abraço,
Uma chama que não se apague,
Presa em outro coração.

Eu acredito numa fonte eterna que jorre amor,
E anseio por beber desta água...
Pois vejo o sol brilhar através da chuva,
E sinto meu coração bater sem nenhuma dor.

Encontrei o caminho das flores - a realidade.
Por ela paguei com vigilância e temor,
Desci ao vale da purificação e renúncia,
E lá descobri que eu tenho valor.

Que a vida mostra os caminhos,
Mas, eu decido qual seguir...
Que dos erros surgem as circunstâncias
E que, sou responsável até por minhas esperanças.

Vi que, há razões para toda atitude ou ação,
Mas, não devo me martirizar se não as descobrir,
Sou livre, deixo a vida seguir com naturalidade,
Meu coração descansa na plenitude da liberdade.

domingo, 26 de setembro de 2010

FABIANO SOARES DA SILVA (Homenagem ao Poeta e Amigo)




Fabiano Soares da Silva é poeta fluminense, professor e produtor áudio-visual.Possui uma poesia sem paradeiro, à beira da marginalidade literária e da sensualidade desvenda seu verdadeiro amor pela poesia.

LIVROS
Evanto da Vida 1995
Et Coetera 1996
Fonte da Rosa 1996
Poema Pequeno 1997
Agridoce 1999
O Que da Poesia 2000
Pedras E Poesia 2001
O Pão e a Fome 2002
Se Eu Te Disser um Poema 2003
Ferrugem no Papel, na Alma e no Ar 2004
Da Sala de Aula ao Olho da Rua 2006
Pequeno Livro de Poemas 2009
A Borboleta Azul, a Mariposa e o Gafanhoto 2010

ZINE
Pataxó Folha Cultural

GRUPOS DE POESIA
Gambiarra Profana
Pó-de-Poesia

BLOG
http://fabianopoe.blogspot.com

BLOGS PARCEIROS
www.myspace.com/gambiarraprofana
http://gambiarraprofana.blogspot.com
http://po-de-poesia.blogapot.com

GAIVOTA DE PAPEL
Autor: Fabiano Soares da Silva

Te escreverei um poema
Talvez para te pedir desculpas
Por não depor a teu favor
Pois contra o vento a vida nos leva
A favor de nossas histórias
Que começam e terminam aqui e ali,
Nos Andes ou nas cataratas dos rios do sul,
Talvez ainda no norte ou nordeste,
Toda menina tenha um sorriso tão lindo
Quanto o teu, talvez também tenha alegria
Como a que você esconde nos livros
Em palavras perdidas de cadernos solitários.
Não creio que elas, as palavras
Se esconderão por muito tempo.
Elas crescerão e não poderás mais escondê-las
Como não podes a ti se esconder do mundo.
O que posso depor a teu favor?
Apenas, que você não tem culpa de ser a mais bela
Que as flores que nascem livres

BUEIRO SEM TAMPA (Poesia dedicada a Fabiano Soares da Silva)
Autor: Arnoldo Pimentel

Eu quero sorrir
Ao invés de chorar
Não lamentar
O que passou

Não acreditar
No paraíso prometido
Que tentaram
Me ensinar

Não me prender
Ao passado
Ingrato
De ter que atirar pedras

De ter que tentar
Sobreviver
Fingir que era feliz
Para poder renascer

Visite os blogs parceiros dos grupos que participo

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http://emaranhadorufiniano.blogspot.com
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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

TERRA ENCANTADA (Arnoldo Pimentel e Luciene Lima Prado)


TERRA ENCANTADA

Terra encantada,
Sem sombras na parede,
Singelamente enfeitada,
Tendo os sonhos como enfeites.

Diante de tanta graça,
Sempre esperarei a aurora;
E ao erguer minha taça,
Cobrirei de flores o mundo afora.

Eclode-se meu pensamento,
Na lindeza deste momento;
Realidade e fantasia em oração
Em cada canto da minha visão.

Em cada canto uma ilusão,
Que um dia poderá ser real,
O carinho de um dia de sol,
Borboletas colorindo o arrebol

terça-feira, 14 de setembro de 2010

TEMPO QUE SE FOI (CONTO)


TEMPO QUE SE FOI

O dia amanhecia com o sol tocando as folhas verdes das árvores, acariciando as flores que enfeitavam a entrada da varanda. Folhas e flores dançavam levemente levadas pelo vento que chegava junto com o sol, alegrando a manhã desse novo dia.
Chegou como se fosse do nada, abriu a porteira de madeira e foi entrando pelo quintal sem prestar atenção nas folhas e nem nas flores que dançavam levadas pelo vento. Caminhou até o tanque e serviu-se de água fresca e nem mesmo percebeu o olhar do menino que acompanhava pela janela os seus passos. Tirou o chapéu e bateu na roupa com força para tirar a poeira que acumulou durante a caminhada. O menino saiu da janela, atravessou a sala, abriu a porta e foi caminhando pela varanda ao encontro do estranho, desceu os degraus e foi passo a passo até o tanque onde o estranho estava parado olhando a simples casa. Olharam-se por alguns minutos sem falar nada, até que o estranho quebrou o silêncio.

- Você mora aqui?
+ Sim – respondeu o menino com voz tímida e baixa
- Não vai me convidar para sentar nos degraus da varanda pelo menos?

O menino acenou que sim e caminharam para a varanda em silêncio e sentaram-se nos degraus.
+ De onde você vem? – perguntou o menino
- De terras de meu Deus, onde andei fugindo de mim mesmo
+ Conheço seu rosto de algum lugar e não sei de onde
- Talvez de algum retrato antigo ou algum sonho esquecido

Os dois ficaram em silêncio observando as aves que cortavam o céu, cortavam o tempo voando de encontro a novos, antigos lugares, paisagens remotas, ou cortando os horizontes sem destino, apenas cortando o silêncio com suas asas.

O estranho fitou a cerca por um momento e disse:
- Já vivi aqui
+ Onde? Aqui?
- Sim, há anos atrás
+ E por que foi embora?
- Talvez por não acreditar na vida
+ Na sua vida?
- Em tudo
+ E o que fez esses anos todos?
- Andei por ai, sentindo o vento da solidão
+ Tem filhos?
- Sim, mas não me conhece
+ Mas talvez ele possa sentir você, sentir sua falta
- Ninguém sente falta daquilo que não conhece
+ Talvez sinta e você nem mesmo sabe o quanto

O estranho ficou um pouco distante, pensativo
+ Preciso regar o jardim
- Tem alguém além de você em casa?
+ Minha avó, ela está doente, não tem muitos dias, diz que logo partirá
- E sua mãe?
+ Partiu pro céu
O estranho calou-se, ficou quieto, entristecido e de seus olhos nasceram pequenas e sentidas lágrimas e por fim falou:
- Vamos regar o jardim

Os dois ficaram ali um bom tempo regando o jardim, depois ficaram caminhando pelo quintal, passos leves e lentos, sentindo o calor do sol em seus rostos e de repente o estranho falou:
- Preciso ir
+ Pra onde vai?
- Sem rumo, seguirei meu destino
+ Fique
- Acho melhor não
+ Por que não?
- Tenho lembranças do tempo que não vivi, que perdi
+ Poderá recuperar
- Não há o que recuperar
+ Não me esqueça
- Nunca te esquecerei, adeus

E assim o estranho foi caminhando em direção a porteira, colocou o chapéu, abriu a porteira devagar e saiu do quintal seguindo rumo ao horizonte sem fim, rumo a sua própria solidão. O menino ficou olhando um tempo, sentindo um aperto no coração, virou as costas e entrou na casa para ver a avó, que observou por alguns momentos, pela janela do quarto e voltou a deitar-se. O menino entrou no quarto, chegou perto da avó e falou:
+ Conheço o estranho de algum lugar e acho que sempre senti sua falta
= Olhe o retrato na cômoda do seu quarto, aquele que nunca prestou atenção
O menino saiu e foi ao seu quarto, olhou o retrato e voltou
= Quem são no retrato?
+ Minha mãe, o estranho e eu criança no colo de minha mãe
= E agora sabe quem ele é?
+ Sim
= Quer ir atrás dele?
+ Não
= Ficará sozinho, não tenho muitos dias de vida
+ Mas tentarei ser assim, sozinho
O menino saiu do quarto da avó, atravessou a sala e debruçou-se na janela e ali ficou olhando a distância que o separou do futuro e do estranho.

sábado, 11 de setembro de 2010

ANTES DA CHUVA/DEPOIS DA CHUVA

SELOS
1- portaldabruxa.blogspot.com
2-portaldabruca.blogspot.com
3-cynthiadayanne.blogspot.com
4-vanuzapantaleao.blogspot.com
5-doce-meio-amargo.blogspot.com
6-heidykeller.blogpot.com

Recebi estes selos dos blogs acima e ofereço a todos os amigos visitantes
REGRAS
1- Postar o selo
2- Se puder visitar o site do selo
3- Comentar as poesias abaixo, razão do meu blog existir, peço sempre que leiam e cometem, pois muitas vezes na alegria de receber o presente esquecemos a poesia e nós poetas sabemos como é importante uma visita e um comentário.

                             ANTES DA CHUVA

Acho que olhei a lua de forma diferente
Com olhos ausentes
E não percebi que havia uma fresta de luz
Que iluminava o canto onde eu estava

Talvez a lua tenha virado o rosto naquele momento
E deixado de mostrar o sorriso
Que pintaria em cores, mesmo listradas
Assim meio apagadas
A casa onde nasci

Quem sabe a lua não quis me ver assim
Com o rosto empoeirado
Pelas sobras dos dias que não vivi

Talvez a lua tenha sentido o frescor do vento
Que chega escondido por trás da serra
Trazendo a chuva que semeará os campos

A chuva que semeará meus sonhos
Sonhos de poder correr pelos campos
Abraçar os lírios brancos
Cantar um novo canto

Sonhos de entrar em minha casa
E amar os pingos coloridos da chuva pela janela
Sonhos de plantar a liberdade
Plainar pelas montanhas da minha mocidade
Sonhos de amar a minha vida de verdade

Talvez a lua tenha virado o rosto para não olhar
Meus olhos iluminados
Pelos sonhos que seriam frustrados

Antes da chuva
Eu tinha sonhos

                            DEPOIS DA CHUVA

Eu já dei tudo que tinha pra dar
Até mesmo minhas sombras
Meu calvário
Os passos que eu tinha pra me encontrar

Já se foi a vida que eu sonhava por aqui
As montanhas de Machu Picchu
A mensagem de vida eterna
Que eu nem mesmo vi ou ouvi

Já sumiram minhas chagas
Rasgadas
No rincão onde nasci
Chagas que nunca pude sentir

Eu dei tudo que pude por aqui
Não sobrevivi
Não senti a magia do beija-flor
Nem mesmo morri
Na solidão em que vivi