Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NOITES DE FRIO (Otávio Venturelli)


NOITES DE FRIO
Autor: Otávio Venturelli

Nos dias gelados do inverno na serra
O frio recita o Poema da geada,
A grama se veste de branco, enfeitada
E o vento da noite segredos encerra.

A lua, pisando de leve na terra,
Invade a janela de vidros fechada,
A conta das horas de insônia não erra,
E as dores mantêm a minha alma acordada.

Imagens passeiam em minha memória,
São mágoas retidas ao curso da história,
Vividas, sofridas e amadas em vão...

Então me levanto, e afastando a tristeza
Acendo o meu quarto, e essa lâmpada acesa
Apaga a saudade no meu coração!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TREM DA ILUSÃO

                                                    TREM DE ILUSÃO

             Hoje é só um dia que o trem não irá enfeitar sua vida.  O dia amanheceu sem alegria,  a chuva embaça a janela por onde seus olhos procuram o céu para saber se está claro para poder sonhar com seu trem no quintal. Hoje a chuva embaça seus sonhos de liberdade no apito que invade o espaço cortando o ar com a delicadeza de sua voz. Seus olhos já estão embaçados como a janela pelas lágrimas que escorrem pelo rosto, pelo desgosto.
             Nesses dias de chuva o pequeno quintal de sua casa passa ser como um horizonte longe demais, então sua sala seria o lugar para seu  trem. Se tivesse um trem de brinquedo, pegaria a máquina e tiraria a poeira com um pequenino espanador, pegaria uma flanela e daria um brilho para ficar bonita como uma princesa de aço, limparia o vagão de lenha e depois os vagões de carga, que seriam dois e por fim os três de passageiros, sim, seria um trem grande, bonito, vistoso. Armaria a estrada de ferro pela sala, emendando pedaço com pedaço, sem pressa, passando a estrada por trás da estante, do sofá, das poltronas e pelo meio da sala, ali seria como o deserto, uma pradaria sem fim, cercada de nada por todos os lados, pelos fantasmas da sede e da solidão, pela noite fria e pelo dia escaldante, com o sol brilhando com toda sua beleza e sua força, assim os passageiros iriam sentir toda a solidão que existe no deserto, no deserto dos lobos, das pessoas, dos poetas, até a caixa d’água, sim, ele não esqueceria a caixa d’água no meio do deserto, ela iria matar a sede do trem e das pessoas, sua sede de brincar, sua sede de amar cada pedaço do trem, sua sede de viver cada minuto da sua infância, depois de matar a sede todos iriam seguir viagem pelo meio da sala, meio do nada, do quadro pintado ao seu redor,  medo de ficar só.Depois de algum tempo de viagem, iriam avistar o povoado, o trem apitando, as pessoas se aglomerando na estação, estação onde chegavam sonhos, de onde partiam sonhos, estação de todos, estação de ninguém, estação de trem, mas não havia trem, apenas uma sala vazia, vazia como sua infância, por onde perambula, por onde só pode ficar com seus pensamentos de um dia ir adiante. Seu olhar só quer fitar os pingos da chuva, tentar enxergar quando passar, para saber se ainda poderá viver, poderá brincar, brincar com seu trem feito de madeira, pedaços de madeira, feito de imaginação, feito de coração, então quando a chuva passar, correrá para o quintal, nem mesmo esperará a terra secar, e montará seu trem com os pedaços de madeira, com os pedaços de sua história, que um dia há de se montar e se mostrar.
             O menino ficou ali observando a chuva pela janela embaçada, as nuvens negras que escondiam o sol, que cobriam o céu, os raios que cortavam sua esperança, como a realidade adulta corta os sonhos de criança. A noite caiu, não tinha estrelas, olhou mais uma vez pela janela, sentiu o frio do desencanto e resolveu entregar-se ao sono, deitou-se desejando sonhar com um dia de sol, que enfeitaria seu quintal para poder sentir alegria no seu coração e montar seu trem de madeira, seu trem feito de ilusão.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Menina do rio (Arnoldo Pimentel e Silviah Carvalho)











http://umcoracaoqueama.blogspot.com
 http://caminhosopostos-vida.blogspot.com
 http://poesiaseternas2.blogspot.com
 http://diariobruxa.blogspot.com
OS SELOS SÃO PARA TODOS OS VISITANTES
REGRAS
1- Postar e distribuir os selos indicando o link que o presenteou (ventosnaprimavera.blogspot.com)
2- Visitar os blogs dos selos
3- Ler e comentar o poema, razão do blog existir


Fiquei na margem do rio,
Desanuviando minha mente,
Meditando na constância das águas,
No desapego da alma, neste vazio...

Vi pessoas passarem as margens
E notei cada um faz seu próprio rio
E navegam em suas esperanças
Levando as lendas em suas bagagens

Vi a menina sentada à beira do rio
Sonhando com a felicidade
Esperando o boto... Não sei!
Que a tire da beira e se faça seu rei.

Na espera inútil a tristeza vem à tona
Não há encantamento... Eu chorei!
Vendo a tristeza nos olhos da menina
Do rio amazonas...

Eu a vi partindo só e com frio
Deixando nas margens o fim do seu rio
Eu a vi sofrer por um conto infantil
Eu soube que ela nunca mais sorriu

E eu! Ainda espero só,
Na margem do rio... do meu Rio.

domingo, 21 de novembro de 2010

SEMEAR O VERBO AMAR


SEMEAR O VERBO AMAR

Um dia pensei em pegar um pedaço de amor
Apenas um pedaço para não faltar no amanhã
Eu queria plantar na minha lavoura de espinhos
Para quando a chuva chegasse pudesse germinar
Pudesse me ensinar a conjugar o verbo amar

A sentir o calor das folhas quando
Viajasse para os pólos
Quando meus pés vacilantes tocassem o solo
E eu estivesse preparado para amar
Quem por ventura fosse me amar

Um dia eu ouvi a canção do Bob Dylan
E não esqueci mais a montanha que eu queria escalar
Mas a montanha era feita de miragem e gelo
E para escalar
Eu teria que aprender além de conjugar, semear
Semear o verbo amar
Aprender a me doar
A acreditar
No amor que tinha para dar

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

OLHANDO OS TROVÕES QUE CORTAM O CÉU


OLHANDO OS TROVÕES QUE CORTAM O CÉU

Eu não quero sentir saudades de você
Não quero que você atravesse a ponte
Pra ficar longe

Não quero que você chore
Se o orvalho se esquecer
De embelezar a flor
Não quero sentir essa dor

Não quero que você brigue
Se a chuva que prometi não cair
Não quero ver você partir
Prefiro morrer ao ver você se despedir

Não quero te machucar
Não quero nem saber se o mar
Vai desabrochar
Só quero uma coisa

Que você esteja sempre ao meu lado
Pra saber que irei sempre te amar

sábado, 13 de novembro de 2010

ACONTECER


ACONTECER

Um dia vai acontecer
Eu vou te ver
Na praia do arpoador
Ou num disco voador

As palavras que tenho pra te dizer
Estão todas guardadas
Há tempos sonhadas
Como frases aladas

Eu quero te beijar
Beijar seus lábios
Sentir o calor
Do seu amor

Eu preciso te dizer
Dizer uma coisa
Mas não é qualquer coisa

Preciso é te dizer
Que gosto muito de você
Que amo você

terça-feira, 9 de novembro de 2010

DIÁRIO DE BORDO

Recebi os selos abaixo e ofereço a todos os amigos
http://umcoracaoqueama.blogspot.com               -   Silviah Carvalho
http://nalvinhafigueroa.blogspot.com   -  Nalvinha
http://ternuras56.blogspot.com         -  Ana Paula
http://meusamigosseusmimosseusencantos.blogspot.com      - Outros Encantos
http://floresdevenus.blogspot.com                                        - Allyssen
htp://molhe-se.blogspot.com                                                - Ana Agarriberi


Regras
1- Escolher, postar e distribuir os selos escolhidos indicando o link que presenteou (ventosnaprimavera)
2- Se puder visitar o blog dos selos
3- Ler e comentar o poema, razão do blog existir

                                                             
DIÁRIO DE BORDO

Eu hoje poderia apenas estar lendo meu diário
Diário de bordo
Poderia estar vendo onde naveguei
As pessoas que amei
Montanhas que escalei

Quem sabe pegasse emprestado uma linha do tempo
Para medir as palavras que foram soltas
Para escrever meu diário
E esquecer meus aniversários

Meu diário que não foi escrito só tem lembranças
Lembranças do ônibus inventado na varanda
Dos sonhos coloridos na infância

Do amor que não foi vivido quando nasceu
Que deixou saudades quando morreu
Da dormideira na beira da estrada
Que só porque toquei, ela encolheu

Hoje eu poderia estar lendo meu diário de bordo
Dia após dia sempre a mesma filosofia
Acordar
Sonhar e ver o tempo passar
Esperar o mundo se acabar
Esconder-me no diário do meu mar

Eu hoje poderia estar apenas lendo meu diário
Folhear as páginas da vida que não aconteceu
Lembrar da noite que assisti
Audrey Hepburn em “A flor que não morreu”
Antes do dia já esquecido que nasceu
E não floresceu

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

NÉCTAR


NÉCTAR

Quero amar você
Nos campo de flores de mel
Sentir a maciez da sua vida
A suavidade
Dos seus carinhos
Nas várias estrelas do céu

Quero saciar
Minha sede de você
Como náufrago
Numa ilha
Depois de dias à deriva
No mar verde das incertezas

Quero viajar
No sorriso dos seus olhos
Como pássaros que migram
Sonhando em suas asas
Para terras distantes
E desconhecidas

Quero me alimentar
No seu amor
Nos seus desejos
Nos seus beijos
Como o beija-flor
No néctar da flor

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

SÉRGIO SALLES OIGERS (Homenagem ao amigo, poeta e músico)

                                                  

                                                
                                                  SÉRGIO SALLES-OIGERS
               Não é preciso dizer de como é feito os versos de Sérgio Salles Oigers.Sua composição é feita por palavras que resumem a angustia do homem, a alegria e suas paixões
               Porém, cabe ao leitor, a tarefa de encontrar as mensagens, que as perfeições e imperfeições destas palavras querem dizer.
            A compreensão da realidade vista pela poesia, requer algo que possa semelhar a si, que é, em síntese, a imperfeição moldada na sua maneira de ser.
           A imperfeição esta, que torna complexa, dinâmica e autêntica a natureza humana e suas criações.
          Fabiano Soares da Silva

          Sérgio Salles Oigers é compositor hermético dadaísta de plantão.

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 OUTUBRO
Autor: Sérgio Salles-Oigers

Meu amor
Seu amor
Nosso amor
Pra sempre existirá
Por que não há
Um outro igual
Tão doce assim
Tão terno assim
Que nem mesmo toda brancura
Possa se comparar
E se há que há
Que seja feliz assim
Como sou
Diante...

... Do teu olhar
Da tua paz
Do teu bem
Que tão bem me faz
Quando sorri
E ao respirar
Enfeita o céu
Da cor ao mar
Deixa tão lindo
Tudo de mais lindo que há

Entristecer
Desesperar
Será impossível
Pra quem te acompanhar

  
HANS, ÍSIS, JADE E ABEL
Autor: Sérgio Salles-Oigers

Com desprezo
me agarro
ao cadáver
de minha mãe
caído, ali no chão,
dividindo espaço
com tantos outros corpos
chacinados
pela mesma mão,
que não há muito tempo
com beijos ela abençoou,
entregando seu coração
ferido por um filho
que à beira de seu caixão
suas jóias particulares saqueou.

Dentre suas jóias particulares
se encontrava
um Hierofante de marfim
talhado por mim
enquanto o réu se escondia
atrás do vidro maternal
estampado no funeral
a lágrima de alegria
escorria pelos braços do cortejo
sob velas
transcendentais
e quentinhas de carne-de-sol com jerimum
preparadas
por mamãe
pouco antes de eu matá-la
à marretadas.

Minha marreta Juliana
só ela me entende,
não faz nenhum drama.
Minha marreta Juliana,
minha amada, minha cúmplice;
minha dama.

O terror!
O terror
de quem nunca se arriscou
a nadar na banheira
pra mergulhar
na língua da ribanceira
a testemunhar seu início
no fim da vida de alguém.

O terror!
O terror!
O amor!
A testemunhar seu início
no fim da vida
de outra pessoa.