Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




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terça-feira, 5 de outubro de 2010

EU FIZ UM GOL



EU FIZ UM GOL


Houve um tempo que me dediquei ao futebol, como técnico e também como diretor de escolinha para garotos até 14 anos. No ano de 2001, eu e um amigo professor iniciamos um projeto para ensinar futebol e cidadania para garotos entre doze e quatorze anos, no começo eram 12 garotos e no final em 2006, quando deixamos o projeto com outros amigos, tínhamos cinquenta e oito garotos entre sete e quatorze anos. O professor ficava basicamente com a parte de campo e eu com a organização e um pouco de campo, e todo fim de semana tínhamos treinamento e também partidas amistosas com outros projetos. A parceria entre eu e o professor sempre deu certo, apesar termos visões diferentes em algumas coisas, como o tratamento aos garotos, ele era totalmente profissional, não se envolvendo em nada a não ser ensinar a prática do esporte e cidadania, enquanto eu me envolvia muito com os garotos, procurando saber junto às famílias sobre estudo e comportamento, com isso eles tinham em mim um amigo de todas as horas, e acho que por isso minha parceria com o professor sempre deu certo, pois além de amigos, nos entendíamos perfeitamente dentro do que fazíamos, apesar de opiniões diferentes em alguns pontos.
Todo sábado e domingo eu saia de casa com o material, bolas, uniformes, e alguns garotos me acompanhavam, pois residiam por ali, e foi num desses dias que vi na esquina um garoto pequeno, bem pequeno, uma chuteira na mão e um sorriso no rosto e me perguntou se poderia ir, respondi que sim, mas precisaria de uma autorização do responsável, no caso dele o pai, por escrito e assinada e assim ele entrou para o time. Quando chegamos ao clube, os outros garotos logo o chamaram de Romarinho, talvez por ser baixinho, mas assim passou a ser conhecido no projeto. Todas as categorias eram divididas por idade, e Romarinho ficou na categoria dele. Todo fim de semana, quando eu saia de casa por volta das seis da manhã para ir à padaria, lá estava Romarinho, sentado na calçada de sua casa com a chuteira na mão, eu falava que estava cedo, ele falava que já estava pronto e que iria fazer um gol, seu sonho era fazer um gol para o pai ver, mas o pai de Romarinho trabalhava todo fim de semana e não podia ir, mas ele sempre falava hoje vou fazer um gol pro meu pai ver, o pai não ia e o gol também não saia. Como Romarinho era menor e menos experiente, geralmente ficava na reserva, mas sempre entrava, corria, brigava, chutava, mas o gol não saia. Um dia quando eu passava pela rua para ir a padaria pelas seis da manhã e vi Romarinho sentado na calçada de sua casa, senti algo no coração, acho até hoje que foi um toque de Deus, e pensei hoje é o dia, alguma coisa me falava que naquele dia o gol sairia, o gol tão esperado, o gol tão sonhado, tão acreditado. Esperei o pai do garoto sair para o trabalho e fui falar com ele, pedi para ir no jogo, era importante pro menino, e seria na parte da tarde, as 15 horas, era festa de aniversário do projeto e teríamos um projeto amigo convidado, ele falou que tentaria ir. O jogo começou às 15 horas e o pai do Romarinho ainda não havia chegado, mas do campo, no banco de reservas ele olhava todo momento para a arquibancada, esperando ver o pai ali, torcendo por ele, acabou o primeiro tempo, descanso, menino impaciente, com os olhos procurando seu pai, o segundo tempo começou e ele entrou em campo, o jogo corria e lá pela metade do segundo tempo, o pai de do menino entrou no clube, sentou-se na arquibancada e ficou torcendo pelo filho, que do campo o viu na torcida, nessa hora ele começou dar mais ainda de si, as gotas de suor escorriam pelo corpo, tanto que antes do final estava cansado, o professor olhou pra mim e falou que iria substituir o Romarinho, então lhe pedi pela primeira vez, pois o professor tem a responsabilidade, autonomia, e eu jamais interferia no seu trabalho de campo, mas falei com ele, deixe o Romarinho e assim foi feito, o menino ficou em campo. Quando faltavam uns cinco minutos para o final, houve uma roubada de bola no meio do campo, e esta foi passada para o Mateus, ele tinha dois adversários pela frente, poderia passar por eles em direção ao gol, tinha plenas condições disso, mas jogou para a direita e levou até o fundo, lançou para o meio, a bola veio cortando a área, pernas tentando alcançar, em vão, o goleiro mergulhou esticando as mãos, mas não alcançou, foram quando o menino franzino veio correndo pela esquerda, o nome dele, Romarinho, estava ali a sua frente o gol esperado, sonhado, perseguido, o pai levantou-se na arquibancada, pescoços se esticaram, mãos acenaram, todos torcendo, uns contra, outros a favor, e a bola sorrateira como ela, cortava a grama em direção aos pés de Romarinho, ele chegou chutando, naquele momento, houve um silêncio, a bola viajou em direção ao gol, cortando o vento, cortando o tempo, o vácuo entre a alegria e a tristeza, segundos de incerteza, Romarinho olhando com os olhos arregalados e mãos cerradas, e então a bola balançou as redes, finalmente o gol, perseguido, sonhado, tudo parou, a única imagem que existia era a do garoto franzino correndo para as grades, agarrando-se nas grades, subindo pelas grades como se fosse alcançar o céu, gritando para o pai, eu fiz um gol, eu fiz um gol, eu fiz um gol.

11 comentários:

  1. Olá Arnaldo!!!

    Lindo esse momento, eu sinto essa emoção todas as segundas e quintas o meu filho tem 6 anos e adora futebol!!! Já treina desde os 4anos. "quem não sonha em ser um jogador de futebol"


    Fica bem.

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  2. Arnoldo,

    hoje estou sensível e este texto causou-me uma forte e linda emoção. Foi um gol no meu coração. Parabéns por sua dedicação Arnoldo...Um gol inesquecível.


    Carinhoso beijo.

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  3. Olá Arnoldo
    Tem sido difícil gerir o meu tempo, estou em falta consigo, amigo.
    Hoje o tema que nos brinda é um dos réis das emoções... perceba- se ou não de futebol, o golo é um culminar alegria... ou de tristeza!
    E o Arnoldo, mais uma vez, descreveu toda essa emoção na perfeição.Este texto está encantador!!!
    Tem selinho no Ternuras
    Um abraço

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  4. Boa noite Arnoldo,
    estou relendo o teu conto mais uma vez..
    E sempre me emociono, parece que estou revivendo o passado, quando meu filho participava de uma escolinha de futebol e sonhava em fazer o gol..
    Parabéns, esse conto é lindo demais.
    Muito obrigada pelo carinho da visita e comentário em meu blog.
    Tudo de bom!

    Beijos

    Marion

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  5. Olá Arnoldo...
    Fiquei esticando a perna como se meu pé chutasse a bola ao gol....desde que comecei lêr seu texto, deu-me uma vontade imensa que Romarinho marcasse o gol tão desejado....
    Parabéns.... além de um poeta és um homen de coração valioso....
    Quem sabe mais tarde conhecerei seu garoto de ouro nos campos profissionais marcando vários GOOOOOOOLssss

    Abraços carinhoso e mais uma vez PARABÉNS..
    Preciosa Maria

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  6. Arnoldo que emoção estou sentindo neste momento que acabo de ler, esta crônica que você escreveu, sinceramente estou emocionada, parabéns pelo conteúdo, pela estória, pelo trabalho, rico, muito rico.Olha eu adorei visitar pó da poesia, gostei de ver os poemas escritos, muito bom vou visitá-lo sempre sim, e obrigado pelo carinho de suas visitas ao meu blog.abraços carinhosos sempre. beijo.

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  7. Estou tendo dificuldades para postar meus comentários no seu blog e não estou sabendo corrigir, mas saiba que me emociono cada vez que viajo nele, este gol de Romarinho me emocionou por demais, lindo, lindo,obrigado pelo carinho, e parabéns beijos.

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  8. Oi, Arnaldo,

    Aqui em casa, estou rodeada de amantes do futebol, temos uma cena na cabeça que aconteceu quando eu estava grávida do meu segundo filho: estávamos na praia de Tibau/RN e enquanto andávamos à beira mar, eu, meu marido e meu filho mais velho, vimos um bocado de meninos numa pelada de praia. Tinham entre 10/12 anos. Passamos, achando graça do jogo. Na volta, às nossas costas, ouvimos: "Passa a bola, Raimundo, passa a bola!!! Quando olhamos, era um molequinho de quase 6 anos, correndo esbaforido, morto de feliz, porque estava indo atrás da bola, com tudo, os ostros meninos admirados pela "gana" do Raimundo...Paramos para ver a cena que nunca mais saiu de nossas mentes...o molequinho correndo e rindo...Seu texto também faz isso! Parabéns!

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  9. Olá, meu amigo querido, bonita história, ao escrever essa crônica vc fez um golaço. Obrigada pela visita ao meu blog e no da minha irmã.
    Espero te encontrar mais vezes. Bjosss!!!!

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  10. "Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças"
    Charles Darwin

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  11. Olá!
    Fiquei muito Feliz em saber que você gostou do meu blog...
    Até mesmo porque Escrever é tudo de bom, e é melhor ainda quando dividimos essa delícia que são as palavras, com pessoas que tbm admiram!
    Sucesso pra vc, Que DEUS lhe abençoe!
    Amei seus Blogs!
    (to seguindo já ;D )

    Beijos

    Nina.

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