Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE COMO ME AFOGUEI EM UMA GOTA D'ÁGUA (Sérgio Salles-Oigers)


Tenho as unhas sujas
como as de um cão que vai à feira

Mesmo sem ouvidos posso ouvi-los
esmurrarem com elegância e belos
o alfaiate contra a parede do ferro-velho.
com sacos plásticos pendurados nas orelhas.
Mesmo sem os dentes da frente
permito-me sorrir incendiário
a cada bordoada que ouço em meu imaginário.

Mesmo sendo eu.
O alfaiate, o cão e o banguela.
Não sou novela.


(Sergio-SalleS-oigerS)

domingo, 22 de maio de 2011

ONDE BROTAM OS LÍRIOS



Gambiarra Profana, o coração que pulsa minha poesia (Arnoldo Pimentel)
Gambiarra Profana. poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata (Fabaino Soares da Silva)

Minha poesia é um livro aberto, sou eu em todas as palavras, sem medo de ficar nu, sem medo de me mostrar, e ela, minha poesia, juntamente com aqueles que me amam, são meu legado

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ONDE BROTAM OS LÍRIOS
Autor: Arnoldo Pimentel
Dedicado à Silvia Camili (filhinha de minha amiga Solange) com carinho 
Pelo seu aniversário de 01 ano de vida
Deus abençoe sua vida


Eu sei que nem tudo são flores
Que o verde depois que ilustra a paisagem
Pode até queimar
Mas mesmo assim eu sigo em frente

Talvez você nem chegue a conhecer
O sol onde fica escondida
A nascente das minhas palavras
Pois minhas fontes sempre secam
Antes do amanhecer

Mas saiba que mesmo que eu
Não veja seus olhos
Que já foram azuis

Seu sorriso de anjo
Abrandará o tornado
Que habita a planície
Do meu coração

Um dia você irá se perguntar
Onde brotam os lírios
E então saberá que é chegada a hora
De seguir o caminho
Que a levará até seu arco-íris

E só então nascerão suas asas
Que ficarão encolhidas
Até que a névoa se dissipe
Por inteira


quinta-feira, 19 de maio de 2011

LEBLON





Enquanto os ventos não chegam
Vou ficar admirando o arrebol
Do mirante do Leblon

Assim ouço a canção que ouvi
Que vivi
Ainda há pouco quando
Passeava pelo Arpoador

E lembrar-me de nossos momentos
De nossas promessas
Do nosso amor

Sábado 21 de maio de 2011, estarei declamando poesias no Centro Cultural em Xerém no show do meu amigo, parceiro poético e músico Cláudio Rangel

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sábado, 14 de maio de 2011

ARPOADOR




Sem o brilho das gaivotas
Que brincam de caçar peixes
Enquanto voam em volta do mar

Parece até que ficamos
Apenas sentados na varanda
Esperando o dia cair
Entre as folhagens que a noite vai cobrir

Sei que os dias passam
E os anos ainda vagam
Pelo tempo

Sei que apenas nos olhamos
Cada um em sua varanda
Com os rostos tocados pelo lamento do vento


sexta-feira, 13 de maio de 2011

MADALENA/ DAVI /BUSCA ( Poesias de Jorge Medeiros)


Hoje o Gambiarra Profana estárá na residência do poeta Jorge Medeiros,  festejando seu aniversário, com poesias, músicas, ensaios teatrais, estarão presentes entre outros Jorge Medeiros, Sérgio Salles-Oigers, Arnoldo Pimentel, Márcio Rufino, Lenne Butterfly, Ivone Landim, Rodrigo Souza, Gabriela Boechat, Fabiano S. Silva.

Poemas de Jorge Medeiros

MADALENA

Puta
Ela não foi
Profanada
Por religiosos
Certamente...
Quem limpará
O seu nome?
Que resgatará
Sua dignidade?
Santíssima
Madalena
Maria
Mulher
De Deus.

QUATRO EVANGELHOS

Os evangelhos
São quatro...
O poder
Assim os definiu:
Glória
Ao Pai
Ao Filho
E ao Espírito Santo...
E é claro
Aos mistérios da vida
Que ninguém
Descobrirá.

BUSCA

Busco a santíssima
E idolatrável amizade
Fumegante e carnal
Como a de Jônatas e Davi
No livro santo de Samuel
Que mesmo a morte
Não suplantou tanto ardor
E estima

Busco a amizade plena
Divinamente permitida
Divinamente concedida
E contemprâneamente
Deturpada

Visite o blog do Gambiarra Profana e conheça um pouco do nosso trabalho, nos apresentamos em Centro Culturais, Teatros , Bares e onde está a poesia.

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Adquire os livros do Gambiarra Profana

Ventos na Primavera (Arnoldo Pimentel)
Bagagem de Mão (Jorge Medeiros)
Cada Passo, Um Passo (Fabiano Soares da Silva)

Contato
MSN - arnoldopimentelfilho@hotmail.com

EMAIL - gambiarraprofana@yahoo.com.br
               arnoldopimentel@gmail.com

quarta-feira, 11 de maio de 2011

ARPOADOR



Meus dias são iguais aos seus
Sem o brilho das gaivotas
Que brincam de caçar peixes
Enquanto voam em volta do mar

Parece até que ficamos
Apenas sentados na varanda
Esperando o dia cair
Entre as folhagens que a noite vai cobrir

Sei que os dias passam
E os anos ainda vagam
Pelo tempo

Sei que apenas nos olhamos
Cada um em sua varanda
Com os rostos tocados pelo lamento do vento


segunda-feira, 9 de maio de 2011

MONÓLOGO DA TUBERCULOSE VAGINAL



      Eu pensei que tivesse um tesouro, mas vi que o tesouro era o simples orvalho que evaporava com o luar. Eu sei que já havia tempos que estava angustiada com sua presença ausente, com sua indiferença aparente, seu jeito distante de ouvir o violão silencioso do nosso filme falado colorido em preto e branco. Naquela noite tudo já estava consumado, faltava apenas o ultimo ato, não ensaiado, há muito pensado, para eu saber que não precisava de você ao meu lado, que não precisava ficar olhando seu corpo adormecido ignorando meus anseios, meu desejo de te ter, de fazer com amor durante as madrugadas frias ou quentes sobre nossa cama, sempre deserta, povoada apenas pela minha azia, tendo somente o cobertor barato comprado na promoção de final da feira livre, servindo de metáfora para aquecer-me e extasiar-me do prazer isolado do não ter.  Naquela noite passeei pelo quarto, fui até a janela, abri a cortina e deixei a noite clarear minha camisola azul piscina opaca, depois encostei-me na parede,  junto a porta, deslize-me silenciosamente até sentar-me no chão, estiquei as pernas,  deixei as alças da camisola caírem e meus seios ficaram desnudos, comecei apalpar-me e senti o amor que tenho por mim, com meu corpo banhado pela tênue luz da lua que entrava pela janela com as cortina aberta.


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sexta-feira, 6 de maio de 2011

AROMA DE CAFÉ DA MANHÃ / HELENA (Homenagem ao dia das mães)




Estes textos foram feitos em homenagem a minha mãe Helena que nos deixou em março/95 e que sempre viverá em meu coração. A música "Caçador de Mim" gravada pelo Milton Nascimento era sempre tocada lá em casa, e era nossa música preferida.

AROMA DE CAFÉ DA MANHÃ

Ela tinha os cabelos pretos e soltos
Até abaixo dos ombros
E toda manhã preparava o café
Com a janela e a porta da cozinha abertas

O bule verde já estava preparado
Com o coador de pano já com pó de café
Pegou a chaleira com água fervendo
E derramou no coador passando o café

O aroma do café tomou o ambiente
Misturando-se com o aroma
Do pão quente com manteiga
Já sobre a mesa

Era só mais um café da manhã
Que seus filhos ainda crianças tomavam
 Antes de irem para a escola
Antes de sua vida solitária tomar forma


     
  
HELENA (CRÕNICA )
                                                                  
 Era uma manhã de domingo como as outras no mês de março, sol claro e quente. Helena preparou o café no coador de pano, como fazia sempre, o aroma viajava feito pássaros em revoada, sentamos pra tomar café, conversamos e notei que ela estava um pouco triste, mas fiquei quieto, éramos muito ligados um ao outro e sempre respeitei seu silêncio.
             Por volta das nove da manhã estávamos no quintal, olhei uma cena, um retrato que nunca mais saiu de minha memória, era um banco junto à parede da casa em construção, estavam sentados ali, Helena, meu filho que na época estava com três anos, meu sobrinho com dois anos e um tio. Helena acariciava os dois netos, que ficavam sorrindo, nessa hora eu não tinha uma máquina para fotografar aquele último momento que a veria feliz.
Saí um pouco para ir à feira comprar frango fresco para o almoço e no caminho lembrei, não sei por que, da noite do natal passado quando estávamos todos na casa do meu irmão e um pouco depois da meia-noite, saí da casa e fui até o muro do terraço ficar olhando o céu, gosto muito de olhar o vazio do céu, foi quando Helena se aproximou e ficamos ali conversando e olhando os fogos, por um bom tempo ficamos ali e em certo momento ela falou –“Este é o último natal que passamos juntos”, confesso que naquele instante senti um aperto no coração, senti que não havia um horizonte, que não havia um ponto fixo para atravessar a ponte.
         Cheguei da feira e depois fui até a esquina, o sol ainda estava brilhando, o céu azul, limpo com poucas nuvens brancas, mas meu olhar sentia uma infinita tristeza, algo por vir, talvez uma tristeza escondida entre as paredes da esquina. Parei no jornaleiro e fiquei conversando com amigos, acabei me distraindo enquanto os minutos passavam, foi quando veio alguém em minha direção, chamou-me no canto e pediu para eu ir para casa, nesse instante minhas pernas tremeram, senti calafrios e fui caminhando com passos largos, não prestava atenção nas árvores, nas folhas verdes que estavam murchando, entrei pelo quintal e vi o movimento na porta da cozinha, entrei e foi quando vi Helena sendo trazida pelos braços, segurei no braço esquerdo, ajudando a levá-la para o carro, ela olhou pra mim, olhos tristes, cansados, já ausentes, nesse momento  lembrei-me dos tempos de criança, em que eu ficava sorrindo para ela, lembrei-me da cachoeira que muitas vezes ela levava-me para olhar, de quando penteava seus cabelos longos, quando eu pedia colo, e quando adulto, das conversas que tínhamos e até dos filmes em preto e branco que ficávamos assistindo toda noite, mas ali estava seu olhar, ali vi o tempo passar, ela suspirou, olhou-me novamente nos olhos, fez um último esforço apertando de leve minha mão e falou baixinho, quase sussurrando, “Estou indo descansar”, senti um abandono, um abismo, minha mãe tão amiga, tão querida, na minha frente partindo, fiquei ali perdido, esquecido e acho que nunca me senti tão só.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

CEREAL MATINAL


                                    
 Cobriu a paisagem com seu olhar distante e inquieto, a janela era de 1,20 x 1,20 e não tinha como entrar por ela toda vastidão do que ficou para trás, apenas o olhar do décimo primeiro andar, onde habitava só havia um mês, depois das chuvas que devastaram a plantação de milho, que ia além do horizonte que ficava depois do pequeno cata-vento, que ilustrava a parede do pequeno quarto bem acima da cômoda. Algumas horas se passaram enquanto estava ali tentando descobrir um jeito de voltar, quem sabe um dia, a sorrir, enfim fechou a janela, vestiu uma camisa que deixou solta por cima da calça e aberta na parte de cima, deixando um pouco do peito à mostra, abriu a porta, saiu,trancou-a e foi caminhando pelo corredor mal iluminado, preferiu descer pela escada, como se quisesse que o tempo passasse logo, saiu do prédio e ganhou a rua. Tudo era diferente agora, não conseguia acostumar-se com sua nova realidade, não aceitava as nuvens que estavam cobrindo seus dias. Na calçada, olhares desconhecidos, pessoas que apenas passavam,  dobrou a esquina olhando as lojas ainda fechadas, com suas portas de ferro cheias de cadeados, entrou na padaria e pediu um café.

__ Puro ou pingado? – perguntou a moça

__ Puro – respondeu

__ Pão e manteiga?

__ Não, apenas o café

Pegou o açucareiro, colocou um pouco de açúcar, não adoçando muito, mexeu com a colher, olhou para o lado para sentir um pouco do clima, saboreou o café, tirou uma moeda e pagou, saiu da padaria e foi até a banca de jornal para ler as noticias da capa e nada, nada diferente das notícias de todos os dias. Enquanto o tempo passava ficou como um andarilho, sempre com olhar distante e a fisionomia entristecida, longe da sua própria vida. Já era hora do almoço e procurou um lugar para alimentar-se, encontrou uma pequena pensão, numa galeria comercial, era no segundo andar, subiu a rampa que dava acesso,  viu as mesas postas do lado de fora,  entrou na pensão, era self service, pegou o prato, serviu-se de feijão, arroz, massa e um pedaço de frango grelhado, sentou-se no lado de fora, pediu um refrigerante e almoçou vagarosamente, terminou o almoço e saiu pelas ruas até chegar a um cinema em frente a uma pequena e tranqüila praça, como não tinha mesmo o que fazer, a não ser ver as horas passarem, resolveu entrar no cinema e assistir o filme do Wim Wenders, sentou-se no interior da sala e começou a assistir o filme que havia começado fazia uns quinze minutos, identificou-se um pouco com o personagem central, um homem que isolou-se de tudo e todos e virou um andarilho em busca de si mesmo, ficou ali pensando em seu próprio mundo, nem sombrio, nem claro, apenas seu mundo, onde ele parecia ser seu próprio espantalho, seu próprio ocaso, seu próprio exílio. Quando o filme terminou, apenas saiu do cinema, atravessou a rua em direção a pequena e tranqüila praça sem chafariz, sem flores, coberta por árvores, sentou-se num dos bancos da praça e ficou olhando os pombos, que talvez fossem os mesmos de Varsóvia.

domingo, 1 de maio de 2011

VERDE LIMÃO




Acho que a lua já se deitou
Procuro levantar
Olhar o silêncio do quarto
E caminhar

Lá fora é só mais um dia
Em que tentarei encontrar
O significado
Da minha alforria

Passo pelas ruas
E vejo que o sol
Nem para todos
Quer se levantar

O sol irá apenas passar
Pelo céu que cobre meu rosto
Que engole meu dia

Antes do anoitecer preciso me encontrar
Seja em meu único cômodo da casa
Ou quem sabe em algum ponto
Perdido do meu mapa