Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

THE END



O por do sol é logo ali
Depois do campo
Todos os meus discos estão trancados
Até o Jim Morrison
E o James
A Discovery desapareceu no céu ainda há pouco
Não existe farol
Não existe mar

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

"FAROL DE SÃO TOMÉ" OU "É PRECISO PARAR DE CHORAR"




FAROL DE SÃO TOMÉ OU É PRECISO PARAR DE CHORAR
Dedicado aos amigos Fabiano Soares da Silva e Rosilene Ramos
Obs: “Farol de São Tomé” é título de um poema Do Fabiano
“É preciso parar de chorar” é um verso do poema
“Adorno” da Rosilene


FAROL DE SÃO TOMÉ OU É PRECISO PARAR DE CHORAR
Passam das dez horas
E o toque de silêncio
Avisa que é hora de apagar as luzes

Minha luta contra o regime opressor é eterna
Assim como minha busca em compreender Deus

Quase todas as camas estão vazias
E forradas com lençóis brancos
Vou deitar-me numa lá no canto
E ouvir o rádio baixinho para tentar dormir

Muitas músicas são proibidas
Aqui, quase tudo é proibido,
Por isso, ouço o rádio no volume mínimo,
Para que os guardas não possam ouvir
E vir com seus paus de barraca

A carceragem fica junto ao muro dos fundos
E sempre cabe mais um
Eu já estive naquelas celas, sei muito bem com o é

Eu tenho um livro de poesias
De uma poetisa amiga minha
Em um de seus versos ela diz
“Que é preciso parar de chorar”

Todas as noites aqui são escuras
E os dias não existem
Este lugar está cheio de fantasmas
Em noites de tempestade eles são visíveis
Eu sei, sempre os vejo.

Arnoldo Pimentel

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

MIGRANTES



Levei flores pra você
Sei que não estás mais ali
Mas mesmo assim levei flores
Depois olhei para o céu
E vi pássaros migrando
Arnoldo Pimentel 
 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

MONÓLOGO (Trilogia dos Lobos Parte III)




MONÓLOGO
TRILOGIA DOS LOBOS PARTE III
                                              
Eu acredito em Deus
Eu não acredito em Deus
Eu acredito em Deus
Eu não sei mais em que acreditar
Eu acredito em Deus

Ontem o padre falou sobre o amor ao próximo
Falou sobre Jesus e sobre o que Ele ensinou
Acho que Jesus nunca vai conseguir
Colocar amor no coração do homem
Por mais que Ele queira

Todas as manhãs eu tinha que rezar
E tomar café
Só depois eu podia ir brincar no quintal
Eu brincava, corria, até cansar
Depois eu ia até a cerca de madeira

A cerca era pintada de branco
Eu me encostava e ficava olhando lá longe
Os prédios das cidades

Eu queria muito ir às cidades
Eu acreditava que nas cidades eu poderia ser...
Ser alguém de verdade
Eu acreditava nas cidades

Mas não podia atravessar a cerca de madeira
Ali dentro eu tinha o quintal
Eu tinha as bênçãos, as razões, as ordens, os medos

O livro virou decoração
As casas estão vazias
As igrejas estão vazias
O olhar olha de um outro jeito
Eu queria muito ir às cidades

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

MINHA VIDA SEM MARY (Trilogia dos Lobos Parte II)



MINHA VIDA SEM MARY
TRILOGIA DOS LOBOS PARTE II

Não entendo as luzes, os arranha-céus
Não entendo as cidades a nos desenhar
Olho ao redor e só vejo o mar
Na estrada tem um carro de combate
Está indo direto pra minha cidade
Lá tem mulheres e crianças
Não tem hospital
Não tem escola
Não tem praça para criança brincar
Olho pra você e fico a pensar aonde quer chegar
Você tem um livro, um carro, uma moto,
E uma nave espacial
Você chegará onde quiser
Aqui perto tem um parque ecológico
É só largar tudo e ficar pra cuidar
Na estrada tem um carro de combate
A caminho da cidade
E ele vai atirar.
Arnoldo Pimentel

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A LAGOA DOS LOBOS (Trilogia dos Lobos Parte I)



 

A LAGOA DOS LOBOS
TRILOGIA DOS LOBOS – PARTE I

           Do portão vi alguém que estava de passagem, acenei e ouvi um pouco do que tinha a dizer, mas acho que não ouvi tudo que deveria, ele foi até um canto da rua e plantou sementes, depois as regou.
          Ao anoitecer, sob um manto, descansou num quarto onde o piso era de terra batida, levantou logo ao amanhecer, foi olhar o canteiro onde plantou as sementes, mas talvez tenha percebido que a terra, apesar de fértil, não dá bons frutos, os frutos daqui são ruins, assim esse alguém que estava de passagem, partiu.
         Lá no fundo, bem longe, atrás da montanha eu vi um clarão no céu, pode ser uma queimada, pode ser chaminés, pode ser a flor, ou quem sabe, um passeio dos apaches.

Arnoldo Pimentel