Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SHANGRI-LA


Um dia eu fui a Paris
Paris-Texas
Pelos olhos do Wim Wenders

E lá do alto olhando
A estrada lá embaixo
Com seu asfalto, seus ônibus e seus caminhões,
Pude sentir o quanto a solidão é íntima de nós

Quando eu era criança
Morei um tempo em Shangri-la
E lá do alto eu podia ver
Os ônibus na estrada de barro,
De lama em dias de chuva,
Que iam até São João

Numa madrugada de chuva forte
Eu vi um rosto na janela
Nunca esqueci aquele rosto
Acho que era o rosto do vazio

Eu sentia saudades de Bel
Que até hoje é meu lugar

Não importa o imenso tesão
Que sinto por New York
Bel é onde vivo, onde para sempre quero ficar,
E eu nunca trocarei por New York
Ou qualquer outro lugar.

Arnoldo Pimentel

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A CASA DAS MORTES



 Eu tinha medo da Kombi azul
Quando ia à padaria comprar balas
Beirava os muros para esconder-me da Kombi azul
Eu tinha medo da Kombi azul

A sala de aula ficava vazia na hora do intervalo
Vazia como as vidas interrompidas
Como os corpos torturados, mutilados,
Com as almas penduradas pelo pescoço na sala vazia
Almas que nem o crucifixo usado pelo algoz absolvia

A professora não dava aula de democracia
Eu não sabia o que era democracia
O dicionário não tinha a palavra democracia

Uma vez eu estava com minha mãe em Nova Iguaçu
E vi os homens verdes com seus cassetetes
Perfilando e batendo em pessoas
No beco da Ducal
Eu tinha medo dos homens verdes
Dos capacetes da PE

Na estrada para Areia Branca
Tinha uma casa abandonada
Onde as árvores do quintal balançavam
Até em noites sem vento
Em noites sem lua
Em noites com lua

Parecia a casa das mortes
Eu tinha medo da casa das mortes
De olhar a casa das mortes
De entrar na casa das mortes
Eu tinha medo...
Da casa das mortes

Arnoldo Pimentel
 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

GAMBIARRA PROFANA NO LABIRINTO POÉTICO



Este vídeo mostra a participação da Gambiarra Profana no Labirinto Poético da Paixão de Ler no Centro de Artes Calouste Gulbenkian no RJ, dia 10/11/2012.
A convite do poeta Lucas Viriato a Gambiarra Profana se apresentou representada por Sergio-SalleS-oigerS, Fabiano Soares da Silva, Sil, Arnoldo Pimentel, Rosilene Ramos, Flávia, Moduan Matus, Marília, Gisele Andrade, Jorge Medeiros, Claudia Cherr e Vagner Vieira.
Sob as lentes de Lenne Butterfly, Jeferson Gomes, Fabiano Soares da Silva e André Medeiros a poesia, imagem e som se fundem na edição de Sergio-SalleS-oigerS que tem a sua colagem sonora orquestrada por Tom Zé com a sua NYC Subway Poetry
Department (Tom Zé/Henrique Marcusso) do seu excelente álbum     
“Tropicália Lixo Lógico”.



































































































quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

COLD BAY



Deixo que meu olhar um tanto cansado,
Leve-me ao outro lado da janela,
Perto das flores,
Sei que ninguém entrará pela porta.

Perto da hora da visita,
Ouço os ônibus
Que param lá fora,
Na estrada.

Até sinto nascer uma esperança,
Que com o passar dos minutos,
Das horas, se mostra em vão.

Arnoldo Pimentel