Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

domingo, 31 de outubro de 2010

SOB O SORRISO DA LUA (CONTO)


SOB O SORRISO DA LUA

O parque estava pouco movimentado naquela noite, os brinquedos eram os mesmos de sempre e o carrossel girava com as crianças sorrindo e acenando para os pais que ficavam acompanhando a brincadeira, o trem fantasma e os gritos de medo inventados pelo clima e ali estava a roda-gigante, iluminada, cadeiras balançando levemente com o toque do vento.
Ele estava lá embaixo só a olhar, olhava para ela que estava sozinha na cadeira a balançar, toda semana estava lá, sozinha no parque a passear. Ele a olhava sentada na cadeira da roda-gigante, mas não tinha coragem para sentar ao seu lado, tinha medo de altura e ficava apenas olhando, silenciosamente olhando, a roda começou a girar, ela subia e descia, seus olhos se encontravam, a roda girava iluminada, iluminada pelas luzes do parque, pelo brilho das estrelas, pela janela de seus sonhos que eram traduzidos pelo olhar. A roda parou, ela desceu, ajeitou-se e passou ao seu lado, quase tocando seu ombro, olharam-se no fundo dos olhos por alguns segundos e ela seguiu caminhando pelo parque, parou na barraca de algodão doce, pegou um e ficou saboreando, jogava os cabelos para os lados, talvez provocando, chamando sua atenção, querendo dar-lhe atenção. Ele ficou pensando, não sabia se poderia ir falar com ela, ela disfarçava um olhar, abaixava a cabeça, sorria, até que ele tomou coragem e foi caminhando devagar, olhos trêmulos, sorriso tímido, parou e ficou ali parado por alguns minutos, ela estava sentada no banco, ajeitou-se e ficou esperando, ele foi se aproximando, chegou perto do banco, pediu para sentar-se e ela acenou que sim, sentou-se, ficou quieto, respiração tensa, coração acelerado, sorriso encabulado.
Em frente ao banco, num lado desgarrado do parque, algumas árvores, um jardim com flores perfumadas pela primavera, ele estava quieto e ela resolveu quebrar o silêncio.

- Eu gosto tanto de flores e fico sempre admirando
+Qual é a sua preferida?
- Rosas vermelhas
+ Por que rosas vermelhas?
- Elas são sonhadoras como eu

Ele ficou quieto novamente e olhou para ela que estava com o rosto iluminado levemente pela luz da lua que aparecia entre as árvores.

+ Vejo você aqui no parque toda semana
- Eu também vejo você
+ Penso sempre em você
- Eu também
+ Eu gosto demais de você, queria te conhecer melhor
- Podemos nos conhecer sim

Olharam-se nos olhos e sentiram que algo estava nascendo entre os dois, ele pegou suas mãos, sorriram e ela falou:

- Já está ficando tarde, preciso ir
+ Posso levar você em casa
- Sim, gostaria muito

Levantaram-se e seguiram para a saída do parque de mãos dadas com a lua apenas sorrindo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CANÇÃO DAS ÁGUAS DO RIACHO


CANTO DAS ÁGUAS DO RIACHO

Houve momentos de esperança
A bicicleta simples encostada
Pronta para o passeio na estrada

De um lado da estrada de terra
Flores brancas e amarelas
Espalhadas
Abraçadas
Por pinheiros que quase alcançavam o céu

Bicicleta simples
Tão simples
Que nem mesmo era pintada
Menino feliz com a bicicleta
Solto na estrada

Tristeza camuflada
No som que vinha da gaita
Perto do riacho quase sem água
Do outro lado da estrada

Som triste traduzido na gaita
Que apenas murmurava
Iludindo as águas trêmulas do riacho
Que sonhavam um dia serem amadas

Que refletiam o vôo da águia solitária
Solidão plainando no céu de minhas asas
Deserto esculpido nas paredes
Do velho forte
Meu olhar tranqüilo
Sonhando com o olhar que vem do norte

Canção das águas do riacho
Vagando pelo vento
Cortando a fresta do tempo
Levando o lamento

Das lembranças dos tempos de menino
E da bicicleta solta na estrada
Hoje apenas uma lágrima afastada
Assim como a camisa listrada

Sem o som que nascia no riacho
Traduzido na voz da gaita
Que um dia ouvi
Sem o canto do colibri
Sem você por aqui

sábado, 23 de outubro de 2010

HELENA









 As imagagens são uma homenagem aos filmes de faroeste que eu e minha mãe Helena sempre assistimos juntos, a primeira é do filme "Rastros de Ódio" do mestre John Ford com John Wayne e a segunda é uma imagem do Monument Valley, que sempre esteve presente nos filmes do mestre.

HELENA


Era uma manhã de domingo como as outras no mês de março, sol claro e quente. Helena preparou o café no coador de pano, como fazia sempre, o aroma viajava feito pássaros em revoada, sentamos pra tomar café, conversamos e notei que ela estava um pouco triste, mas fiquei quieto, éramos muito ligados um ao outro e sempre respeitei seu silêncio.
Por volta das nove da manhã estávamos no quintal, olhei uma cena, um retrato que nunca mais saiu de minha memória, era um banco junto à parede da casa em construção, estavam sentados ali, Helena, meu filho que na época estava com três anos, meu sobrinho com dois anos e um tio. Helena acariciava os dois netos, que ficavam sorrindo, nessa hora eu não tinha uma máquina para fotografar aquele último momento que a veria feliz.
Saí um pouco para ir à feira comprar frango fresco para o almoço e no caminho lembrei, não sei por que, da noite do natal passado quando estávamos todos na casa do meu irmão e um pouco depois da meia-noite, saí da casa e fui até o muro do terraço ficar olhando o céu, gosto muito de olhar o vazio do céu, foi quando Helena se aproximou e ficamos ali conversando e olhando os fogos, por um bom tempo ficamos ali e em certo momento ela falou –“Este é o último natal que passamos juntos”, confesso que naquele instante senti um aperto no coração, senti que não havia um horizonte, que não havia um ponto fixo para atravessar a ponte.
Cheguei da feira e depois fui até a esquina, o sol ainda estava brilhando, o céu azul, limpo com poucas nuvens brancas, mas meu olhar sentia uma infinita tristeza, algo por vir, talvez uma tristeza escondida entre as paredes da esquina. Parei no jornaleiro e fiquei conversando com amigos, acabei me distraindo enquanto os minutos passavam, foi quando veio alguém em minha direção, chamou-me no canto e pediu para eu ir para casa, nesse instante minhas pernas tremeram, senti calafrios e fui caminhando com passos largos, não prestava atenção nas árvores, nas folhas verdes que estavam murchando, entrei pelo quintal e vi o movimento na porta da cozinha, entrei e foi quando vi Helena sendo trazida pelos braços, segurei no braço esquerdo, ajudando a levá-la para o carro, ela olhou pra mim, olhos tristes, cansados, já ausentes, nesse momento lembrei-me dos tempos de criança, em que eu ficava sorrindo para ela, lembrei-me da cachoeira que muitas vezes ela levava-me para olhar, de quando penteava seus cabelos longos, quando eu pedia colo, e quando adulto, das conversas que tínhamos e até dos filmes em preto e branco que ficávamos assistindo toda noite, mas ali estava seu olhar, ali vi o tempo passar, ela suspirou, olhou-me novamente nos olhos, fez um último esforço apertando de leve minha mão e falou baixinho, quase sussurrando, “Estou indo descansar”, senti um abandono, um abismo, minha mãe tão amiga, tão querida, na minha frente partindo, fiquei ali perdido, esquecido e acho que nunca me senti tão só.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

SILÊNCIO MUDO (CONTO)


SILÊNCIO MUDO (CONTO)

No ar o aroma do café fresco sendo passado no coador de pano, aroma que tomava todo o ambiente da cozinha, a mesa posta para as duas pessoas que viviam ali, por fim, o café ficou pronto e X serviu-o nas duas canecas enquanto Y olhava com olhar desatento, X sentou-se à mesa e começaram a refeição matinal, refeição simples, café, pão, manteiga e ovos estrelados, alimentaram-se em silêncio, não tinham nada mesmo para conversar, levantaram-se após terminarem o café, era hora de começar o dia, Y retira a mesa do café, lava as canecas e pratos, guarda as sobras de pão e começa a arrumar o alimento que levarão para o trabalho, enquanto X ocupa-se em preparar os lampiões com querosene para acenderem quando voltarem no início da noite e iluminar a casa, arruma também as ferramentas que usarão durante o dia no trabalho.
A caminhada para o local onde estavam trabalhando era longa, seguem lado a lado, o sol já brilha no céu prometendo um dia bastante quente. A paisagem é um tanto seca, o vento levanta a poeira que sobe pelos corpos suados. Todos os dias a mesma caminhada silenciosa, sem palavras para enfeitar o quadro que vai sendo pintado ao longo do tempo, um quadro pintado pelas cores do silêncio, da paz que esconde mágoas, da terra que não espera nada. Em alguns momentos apenas se olham, talvez esperando algumas palavras, ou um beija-flor aparecer e tocar as flores que estão no jardim dos sonhos. O dia foi passando e o trabalho correndo normalmente, trabalhar a terra, plantar, colher, sobreviver, é essa a vida que levam. A tarde chega o sol vai baixando, sem palavras, sem gestos amigos, apenas o companheirismo de estar sempre perto, com o mesmo propósito, ver todos os dias o sol nascer, manterem a esperança de um dia ser melhor, poder dizer que vale a pena viver.
Chega a hora de voltarem, fim do dia, outro dia que poucas vezes se olharam, poucas vezes se notaram, mas o trabalho foi feito, dever cumprido, o retorno não é diferente, apenas os corpos demonstrando cansaço, caminham lado a lado, o silêncio ecoa nos lados da estrada, o sol começa a se deitar, o anoitecer começa a nascer.
Foi apenas mais um dia na vida de duas pessoas, que vivem juntas, trabalham juntas e quase não se conhecem.Foi só mais um dia que acaba no por do sol, sem o canto do rouxinol, com o arame farpado do silêncio que separa vidas, impede idas e vindas de vidas impedidas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

QUADRO


QUADRO

Pintei um quadro na parede
Um quadro meio sem nada
Sem cores para brotar
Um quadro sem enfeites

Pintei um quadro pincelado de dores
De olhares sem vulto
Sem espelho para se fitar
Sem paredes para pintar

Pintei um quadro chamado solidão
Com muitas pessoas ao seu redor
E um sol tímido partindo no entardecer

Um quadro que não será lembrando
Mostra apenas o triste dia que vi morrer
Entre cores brancas do amanhecer

terça-feira, 12 de outubro de 2010

EU E O IPÊ (Silviah Carvalho e Arnoldo Pimentel)





SELOS (Sinto -me honrado em ter recebido esses selos e repasso a todos os amigos que vistarem meus blogs)

1- Nina - http://doce-meio-amargo.blogspot.com
2- Maria- http://algarve-saibamais.blogspot.com
3- Corina-http://o-meu-reino-da-noite.blogspot.com
4- Ana - http://ternuras56.blogspot.com

REGRAS
1- Ler e comentar o poema (Estou sempre pedindo porque a poesia é a razão do blog existir e acho que todos deveriam fazer o mesmo, pois sempre ficamos tão felizes com o presente que esquecemos de ler e comentar a poesia)

2- Visitar, se possível, os blogs dos selos
3- Postar o selo e colocar o blog que presenteou (ventosnaprimavera.blogspot.com)
4- Repassar para no mínimo 05 blogs amigos


Eu e o Ipê
Autores: Silviah Carvalho e Arnoldo Pimentel)

Ouço palavras nos ventos
O canto das ondas no quebra mar
Vejo a lua procurando direção
Como uma câmera a fitar meu coração.

Em noites de chuva fina prefiro ficar na janela
Fugindo talvez, dos tristes olhos dela
Observo as vias, os carros parados
Imagino corações desesperados

Gotas cintilantes molham as vidraças
Como cristais de lagrimas a derreter
Vejo no outro lado da rua, o reflexo
Da minha tristeza, o solitário pé de Ipê

Suas flores roxas no chão mudam o cenário
Pintam um quadro imaginário
Minha vida, eu e quem sabe você
Abstrato – impossível crer...

Da minha janela vejo tudo que passa lá fora
Da fina chuva pessoas vão se esconder
Na praça balanços giram na força dos ventos
E você é constante nos meus pensamentos

Sinto-me preso a raros momentos
Vestígios em mim que ficou de você
Restos de saudades, frágeis lembranças
Que só diminuem minhas esperanças

Da minha janela sonho acordado com você
Desço as escadas da vida tentando te encontrar
Ao menos fim. Triste realidade a vida sem te ter
Encosto-me, divido a saudade com meu solitário Ipê

sábado, 9 de outubro de 2010

TUDO QUE EU QUERIA


TUDO QUE EU QUERIA

Tudo que eu queria ter
Era um pedaço de papel e uma caneta
Para escrever minha própria vida
Minhas próprias escolhas
Minha própria sorte

Tudo que eu queria encontrar
Era uma garrafa boiando no mar
Trazendo uma carta sua que me desse esperança
E me fizesse sonhar, viajando no meu próprio tempo
Vencendo barreiras e fronteiras a nos separar

Tudo que eu queria sonhar
Era com minha própria aquarela
Pintar meu próprio céu, aonde na
Realidade estivesse você e que
Nosso encontro deixasse de ser um conto

Tudo que eu queria ser
Era o papel que está escrito minha vida
Para poder ficar na chuva, para molhar
Até a tinta sumir até deixa de existir
Pois a vida não é vida, se você não está aqui

GAMBIARRA PROFANA (ZINE N. 7)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

EU FIZ UM GOL



EU FIZ UM GOL


Houve um tempo que me dediquei ao futebol, como técnico e também como diretor de escolinha para garotos até 14 anos. No ano de 2001, eu e um amigo professor iniciamos um projeto para ensinar futebol e cidadania para garotos entre doze e quatorze anos, no começo eram 12 garotos e no final em 2006, quando deixamos o projeto com outros amigos, tínhamos cinquenta e oito garotos entre sete e quatorze anos. O professor ficava basicamente com a parte de campo e eu com a organização e um pouco de campo, e todo fim de semana tínhamos treinamento e também partidas amistosas com outros projetos. A parceria entre eu e o professor sempre deu certo, apesar termos visões diferentes em algumas coisas, como o tratamento aos garotos, ele era totalmente profissional, não se envolvendo em nada a não ser ensinar a prática do esporte e cidadania, enquanto eu me envolvia muito com os garotos, procurando saber junto às famílias sobre estudo e comportamento, com isso eles tinham em mim um amigo de todas as horas, e acho que por isso minha parceria com o professor sempre deu certo, pois além de amigos, nos entendíamos perfeitamente dentro do que fazíamos, apesar de opiniões diferentes em alguns pontos.
Todo sábado e domingo eu saia de casa com o material, bolas, uniformes, e alguns garotos me acompanhavam, pois residiam por ali, e foi num desses dias que vi na esquina um garoto pequeno, bem pequeno, uma chuteira na mão e um sorriso no rosto e me perguntou se poderia ir, respondi que sim, mas precisaria de uma autorização do responsável, no caso dele o pai, por escrito e assinada e assim ele entrou para o time. Quando chegamos ao clube, os outros garotos logo o chamaram de Romarinho, talvez por ser baixinho, mas assim passou a ser conhecido no projeto. Todas as categorias eram divididas por idade, e Romarinho ficou na categoria dele. Todo fim de semana, quando eu saia de casa por volta das seis da manhã para ir à padaria, lá estava Romarinho, sentado na calçada de sua casa com a chuteira na mão, eu falava que estava cedo, ele falava que já estava pronto e que iria fazer um gol, seu sonho era fazer um gol para o pai ver, mas o pai de Romarinho trabalhava todo fim de semana e não podia ir, mas ele sempre falava hoje vou fazer um gol pro meu pai ver, o pai não ia e o gol também não saia. Como Romarinho era menor e menos experiente, geralmente ficava na reserva, mas sempre entrava, corria, brigava, chutava, mas o gol não saia. Um dia quando eu passava pela rua para ir a padaria pelas seis da manhã e vi Romarinho sentado na calçada de sua casa, senti algo no coração, acho até hoje que foi um toque de Deus, e pensei hoje é o dia, alguma coisa me falava que naquele dia o gol sairia, o gol tão esperado, o gol tão sonhado, tão acreditado. Esperei o pai do garoto sair para o trabalho e fui falar com ele, pedi para ir no jogo, era importante pro menino, e seria na parte da tarde, as 15 horas, era festa de aniversário do projeto e teríamos um projeto amigo convidado, ele falou que tentaria ir. O jogo começou às 15 horas e o pai do Romarinho ainda não havia chegado, mas do campo, no banco de reservas ele olhava todo momento para a arquibancada, esperando ver o pai ali, torcendo por ele, acabou o primeiro tempo, descanso, menino impaciente, com os olhos procurando seu pai, o segundo tempo começou e ele entrou em campo, o jogo corria e lá pela metade do segundo tempo, o pai de do menino entrou no clube, sentou-se na arquibancada e ficou torcendo pelo filho, que do campo o viu na torcida, nessa hora ele começou dar mais ainda de si, as gotas de suor escorriam pelo corpo, tanto que antes do final estava cansado, o professor olhou pra mim e falou que iria substituir o Romarinho, então lhe pedi pela primeira vez, pois o professor tem a responsabilidade, autonomia, e eu jamais interferia no seu trabalho de campo, mas falei com ele, deixe o Romarinho e assim foi feito, o menino ficou em campo. Quando faltavam uns cinco minutos para o final, houve uma roubada de bola no meio do campo, e esta foi passada para o Mateus, ele tinha dois adversários pela frente, poderia passar por eles em direção ao gol, tinha plenas condições disso, mas jogou para a direita e levou até o fundo, lançou para o meio, a bola veio cortando a área, pernas tentando alcançar, em vão, o goleiro mergulhou esticando as mãos, mas não alcançou, foram quando o menino franzino veio correndo pela esquerda, o nome dele, Romarinho, estava ali a sua frente o gol esperado, sonhado, perseguido, o pai levantou-se na arquibancada, pescoços se esticaram, mãos acenaram, todos torcendo, uns contra, outros a favor, e a bola sorrateira como ela, cortava a grama em direção aos pés de Romarinho, ele chegou chutando, naquele momento, houve um silêncio, a bola viajou em direção ao gol, cortando o vento, cortando o tempo, o vácuo entre a alegria e a tristeza, segundos de incerteza, Romarinho olhando com os olhos arregalados e mãos cerradas, e então a bola balançou as redes, finalmente o gol, perseguido, sonhado, tudo parou, a única imagem que existia era a do garoto franzino correndo para as grades, agarrando-se nas grades, subindo pelas grades como se fosse alcançar o céu, gritando para o pai, eu fiz um gol, eu fiz um gol, eu fiz um gol.

sábado, 2 de outubro de 2010

VITÓRIA RÉGIA


VITÓRIA RÉGIA

Eu queria apenas olhar pela janela
Sentir a cor do olhar tocar minha pele
Sem desbotar o que eu trazia no coração
Para levar ao pólo norte das flores

Eu queria apenas que as rosas fossem flores
Para vestir junto com a calça jeans
Que estava esperando secar no varal
E entrar na vida antes que chegasse o fim

O fim da viagem que está logo ali
Depois do olhar que se prendeu na janela
E não viu a solidão passar
Não viu a flor sem mácula desabrochar

Eu sei que um dia, que talvez seja escuro
Irá nascer o caminho estreito e sem futuro
Que deverá sucumbir entre minhas folhas brancas
Onde estão escritos meus poemas ilhados

Nublados
Apagados
Sem ter pra onde voltar

Visite os blogs parceiros dos grupos de poesia que participo

http://po-de-poesia.blogspot.com
www.myspace.com/gambiarraprofana
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www.arnoldopimentel.recantodasletras.com.br
www.dudida.com.br
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