GDÁNSK
Este conto é dedicado aos meus amigos de pescaria de anos atrás( José Antônio, Pedro, Edson, Marcos, Vanderley)
Este conto é dedicado aos meus amigos de pescaria de anos atrás( José Antônio, Pedro, Edson, Marcos, Vanderley)
Já passavam das dez horas numa manhã fria de sábado quando o ônibus parou no ponto e um homem desceu, vestia um casaco longo, chapéu e luvas para se proteger do frio, ficou parado um breve instante olhando o mar, depois virou-se e olhou o bar e restaurante do outro lado da via, atravessou e entrou. Sentou em um lugar junto a janela para poder olhar o mar.Parecia sentir a melodia do frio indo em busca das paisagens que iria pintar.
- O
senhor deseja alguma coisa? – perguntou a garçonete
-
Chocolate quente e pão integral
Fez o
pedido e ficou olhando a estrada e do outro lado o mar, o mesmo mar onde
costumava pescar, lá nas pedras, com mais cinco amigos há muito tempo.Quinze
minutos havia se passado quando uma pick up preta, encostou em frente ao
restaurante, um homem mais ou menos de sua idade desceu e entrou esfregando as
mãos, olhou o ambiente, o reconheceu e sentou.
+Você não
mudou muito nestes últimos quarenta anos – Disse o homem
- Você
também não mudou muito – respondeu
+Que nada, envelheci assim como esse lugar
+Que nada, envelheci assim como esse lugar
- O mar
continua o mesmo no inverno
+ Por
isso pescávamos no verão
- Era uma
época boa, éramos jovens, nós todos
+ Recebi
sua carta marcando aqui
- Passei
a vida toda fora depois que deixei nossa cidade
+ Eu
também nunca mais vim aqui, mas continuo vivendo lá.
O amigo pediu um café e
torradas e continuou:
+ Lembro
dos sábados que víamos para pescar, duas horas e meia de trem e ônibus, varas
de pecar, aquelas coisas todas.
- Todo
sábado era a mesma coisa, aqui mesmo, pegávamos o cardápio e ficávamos
escolhendo por uns 20 minutos, sempre bife com fritas,ovos, bacon e
refrigerante
+ Depois
íamos pescar até o amanhecer lá nas pedras
- E nunca
pescávamos nada, ou um peixinho de vez em quando.
+ Mas
sentíamos a vida, plantavamos lembranças que hoje estão vivas em nós.
Ele olhou outra vez o mar, a
estrada, as gaivotas, os barcos e seus sonhos que ficaram.
- Eu
voltei para passar meu resto de tempo aqui
+ Você
vai gostar, aqui parece ser tranquilo ainda.
- Espero
que seja, estou mais parado do que antes, acho que é a idade.
+ Vai
comprar algum imóvel?
- Não,
vou alugar, não teria para quem deixar, nunca formei família.
+ Eu
compreendo, virei sempre te visitar.
- E os
outros como estão?
+Nunca
mais tive notícias deles, todos partiram, você sabe cada um busca seu caminho.
Ele tirou
do bolso um retrato onde estavam os seis com um enorme peixe pendurado no
anzol.
- Este é
o único retrato que tenho
+Aquele
peixe enorme, rsrs
- Mostro a amigos com quem jogo cartas, xadrez, na praça onde moro e acreditam, não percebem que é truque de fotografia, que é apenas uma sardinha.
- Mostro a amigos com quem jogo cartas, xadrez, na praça onde moro e acreditam, não percebem que é truque de fotografia, que é apenas uma sardinha.
Os dois
amigos de outrora riram.
+ Você ainda gosta de assistir filmes?
- Gosto muito.
+ Há tempo não assisto um filme.
+ Você ainda gosta de assistir filmes?
- Gosto muito.
+ Há tempo não assisto um filme.
- Uma vez
assisti a um filme, os homens seguiram em fila indiana pela neve até um
determinado local, no bosque aos redores de uma vila, foram perfilados pelos
soldados, depois ficaram de joelhos, com olhos fechados e fizeram uma oração,
como se rezar adiantasse alguma coisa ali, os tiros ecoaram na escuridão da
manhã e o sangue manchou a neve de vermelho, de medos, de sonhos, de inocentes
e culpados. Naquele momento me lembrei de Gdánsk.
+ Gdánsk?
- Gdánsk
não, me desculpe, Katyn, do massacre de Katyn
Amigo (a) leitor (a), seja sempre bem vindo (a), este
conto faz parte da Trilogia Contos da Solidão, se puder leia os outros contos
da solidão, de minha autoria, links abaixo, desde já agradeço, muito obrigado
mesmo.Basta passar o mouse abaixo dos títulos que o link aparecerá.
A QUITANDA
A PARTIDA