Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




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sexta-feira, 6 de maio de 2011

AROMA DE CAFÉ DA MANHÃ / HELENA (Homenagem ao dia das mães)




Estes textos foram feitos em homenagem a minha mãe Helena que nos deixou em março/95 e que sempre viverá em meu coração. A música "Caçador de Mim" gravada pelo Milton Nascimento era sempre tocada lá em casa, e era nossa música preferida.

AROMA DE CAFÉ DA MANHÃ

Ela tinha os cabelos pretos e soltos
Até abaixo dos ombros
E toda manhã preparava o café
Com a janela e a porta da cozinha abertas

O bule verde já estava preparado
Com o coador de pano já com pó de café
Pegou a chaleira com água fervendo
E derramou no coador passando o café

O aroma do café tomou o ambiente
Misturando-se com o aroma
Do pão quente com manteiga
Já sobre a mesa

Era só mais um café da manhã
Que seus filhos ainda crianças tomavam
 Antes de irem para a escola
Antes de sua vida solitária tomar forma


     
  
HELENA (CRÕNICA )
                                                                  
 Era uma manhã de domingo como as outras no mês de março, sol claro e quente. Helena preparou o café no coador de pano, como fazia sempre, o aroma viajava feito pássaros em revoada, sentamos pra tomar café, conversamos e notei que ela estava um pouco triste, mas fiquei quieto, éramos muito ligados um ao outro e sempre respeitei seu silêncio.
             Por volta das nove da manhã estávamos no quintal, olhei uma cena, um retrato que nunca mais saiu de minha memória, era um banco junto à parede da casa em construção, estavam sentados ali, Helena, meu filho que na época estava com três anos, meu sobrinho com dois anos e um tio. Helena acariciava os dois netos, que ficavam sorrindo, nessa hora eu não tinha uma máquina para fotografar aquele último momento que a veria feliz.
Saí um pouco para ir à feira comprar frango fresco para o almoço e no caminho lembrei, não sei por que, da noite do natal passado quando estávamos todos na casa do meu irmão e um pouco depois da meia-noite, saí da casa e fui até o muro do terraço ficar olhando o céu, gosto muito de olhar o vazio do céu, foi quando Helena se aproximou e ficamos ali conversando e olhando os fogos, por um bom tempo ficamos ali e em certo momento ela falou –“Este é o último natal que passamos juntos”, confesso que naquele instante senti um aperto no coração, senti que não havia um horizonte, que não havia um ponto fixo para atravessar a ponte.
         Cheguei da feira e depois fui até a esquina, o sol ainda estava brilhando, o céu azul, limpo com poucas nuvens brancas, mas meu olhar sentia uma infinita tristeza, algo por vir, talvez uma tristeza escondida entre as paredes da esquina. Parei no jornaleiro e fiquei conversando com amigos, acabei me distraindo enquanto os minutos passavam, foi quando veio alguém em minha direção, chamou-me no canto e pediu para eu ir para casa, nesse instante minhas pernas tremeram, senti calafrios e fui caminhando com passos largos, não prestava atenção nas árvores, nas folhas verdes que estavam murchando, entrei pelo quintal e vi o movimento na porta da cozinha, entrei e foi quando vi Helena sendo trazida pelos braços, segurei no braço esquerdo, ajudando a levá-la para o carro, ela olhou pra mim, olhos tristes, cansados, já ausentes, nesse momento  lembrei-me dos tempos de criança, em que eu ficava sorrindo para ela, lembrei-me da cachoeira que muitas vezes ela levava-me para olhar, de quando penteava seus cabelos longos, quando eu pedia colo, e quando adulto, das conversas que tínhamos e até dos filmes em preto e branco que ficávamos assistindo toda noite, mas ali estava seu olhar, ali vi o tempo passar, ela suspirou, olhou-me novamente nos olhos, fez um último esforço apertando de leve minha mão e falou baixinho, quase sussurrando, “Estou indo descansar”, senti um abandono, um abismo, minha mãe tão amiga, tão querida, na minha frente partindo, fiquei ali perdido, esquecido e acho que nunca me senti tão só.

29 comentários:

  1. oi Arnoldo,

    que delicia de homenagem,
    o aroma desse café fresquinho,
    chegou aqui,
    e que vazio se instala em
    nossos corações,
    sem a presença da mãe,ao nosso lado,
    nos resta lembrar da sua dedicação, e do seu doce amor...

    beijinhos

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  2. Amei o bule fazendo alusão ao dia das mães!
    Tenha um lindo dia caro poeta!
    Beijos

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  3. Muito legal esse post!
    Olá linda, vim lhe parabenizar,
    seu blog está cada vez melhor!
    PARTICIPE do mês louco de sorteio do BLOG vai ter vários!
    CONFIRA e PARTICIPE!! Entre para o HALL DA FAMA!
    bjinhos♥
    http://coisasdeladdy.blogspot.com

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  4. ...Lendo esse post, chorei, sofri, lembrei, senti a intensidade de cada palavra pra você.
    O mesmo já vivi, embora de forma diferente.
    Mesmo depois de anos da partida de quem tanto amei ainda me sinto só num abismo soberbo de saudades e medo. Mãe é um bem precioso que depois da perda nada mais completa.
    Mas sigo firme cada dia pois sei que é isso que ela deseja, onde quer q ela esteja.
    Muito lindo seu texto.
    grande abraço do Manoel.
    Fique com Deus...

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  5. Fiquei tão sensibilizada ao ler seu texto. Sabe, essas perdas são inconsoláveis. Sei que o tempo passou, que hoje guarda lembranças e uma coisa que ninguém pode tirar: você teve a felicidade de conviver om ela, de tê-la em sua vida.

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  6. Sabe Arnoldo...eu senti a sua dor. Lagrimas me vieram aos olhos.
    Lembrei-me da minha v'o, Minha mae, gracas a Deus ainda esta conosco.
    Vovo era um desses anjos iluminados, Nunca vi uma mulher tao forte.
    Teve 18 fihos...15 morreram.
    Era de origem Holandeza..meu avo de origem indigena.
    Era linda..cabelos longos, olhos azuis.
    Veio correndo com seus tres filhos. Deixou td por l'a. Casa, bens..td
    Medo de ser assassinada, meu avo foi...por conta de umas terras.
    Fez a vida aqui com muita dificuldade.
    Nasci no interior. A lembranca q tenho e de irmos juntas a roca, de cafe, amendoim...eu sempre com ela. Super carinhosa.
    Depois mudamos para sp e ela veio conosco. Sempre independente.
    Sempre fazendo seus guardanapinhos, saindo pra vender...
    Eu ja adolescente..trabalhando ..
    Me arrependo de nao ter saido mais com ela, de nao ter d dido a ela o qto q a amava.
    Eu sempre digo....a pessoa que mais me ensinou no mundo, nem sabia escrever..e era tao sa'bia!!
    So um desabafo!!

    Um beijo.. ( desculpe a falta de acentos, cedilhas, nao sei colocar neste computador ).



    Ma Ferreira

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  7. Esta semana, Arnoldo, senti falta da minha mãe. Ela também se foi há pouco mais de três anos. A gente fica sem referência e, realmente, se sente perdido como você disse e extremamente só. Belo e comovente o seu relato. Um beijo no seu coração, poeta querido!

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  8. Deus, que saudade senti ao ler seu poema....Amigo.
    Lembranças de infância que com o passar dos anos tornam-se mais vivas e mais saudosas.

    Um abraço de muita amizade

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  9. Lindo este post! as lágrimas foram caindo... senti cada momento!
    Beijinhos

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  10. Que a sua querida Helena descanse em paz amigo!
    Beijos e bos noite!
    Carla

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  11. Linda demais a sua homenagem a sua amada mãe...que palavras mais emocionantes meu querido... tenho certeza que onde ela estiver, vai receber o perfume deste amor tão bonito que voce tem por ela..
    Te deixo meu abraço...beijinhos...
    Valéria

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  12. Sabe poeta, mães não deveriam morrer jamais, Deus está cuidando dela e ela orgulhosa por ter um filho assim,
    Beijos.

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  13. O bule...O bule nos fala tanto, nao é? A geracao de hoje já nao terá esta lembranca.
    Muito bonita a homenagem que você faz a sua mae. Com certeza pessoa preciosa em nossas vidas. Eu nao a tive.
    Deixo meu abraco, meu respeito e carinho, com votos de um bom final de semana!

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  14. Testo da net

    Minha mãe E sua Mãe
    Que ao dar a benção da vida, entregou a sua...
    Que ao lutar por seus filhos, esqueceu-se de si mesma...
    Que ao desejar o sucesso deles, abandonou seus anseios...
    Que ao vibrar com suas vitórias, esqueceu seu próprio mérito...
    Que ao receber injustiças, respondeu com seu amor...
    E que, ao relembrar o passado, só tem um pedido:
    DEUS, PROTEJA MEUS FILHOS, POR TODA A VIDA!
    Para você mãe, um mais que merecido:
    Feliz Dia das Mães!
    Você merece!!!
    Meu abraço meu carinho para você
    amado amigo.
    Feliz Dia Das Mães.
    beijos e beijos com infinita
    ternura,Evanir.
    www.aviagem1.blogspot.com

    Nosso Dia Das Mães..Brasil

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  15. Belissima homenagem ao dia das mães meu amigo,,,mãe é ter o dom da vida,,,o poder do amor infinito...abraços fraternos de bom sabado.

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  16. Linda e perfeita a homenagem às mães.

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  17. Tenho um presentinho para ti:
    http://lectandome.blogspot.com/2011/03/saudacoes-atemporais-lectores-chegou-o.html
    Abraço fraterno,
    Jasanf.

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  18. muito lindo!
    os cheiros nos marcam muito mesmo..
    beijos

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  19. Amigo que post maravilhoso, que homenagem linda, quanta sensibilidade a amor.
    Tenha um excelente fim-de-semana pleno de alegria e paz.
    “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.”( Dalai Lama)
    Beijinhos
    Maria

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  20. Arnoldo lindo também é sua homenagem em tão belo post! Senti ate o aroma do café, seguido em grande estilo com Milton Nascimento, minha mãe também já não esta mais nesse plano, mais mesmo assim um feliz dias das Mães beijo no coração.

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  21. ARNOLDO,
    QUANTA EMOÇÃO SENTI AO LER SEU TEXTO!
    TAMBÉM ESTAVA DO LADO DO MEU PAI QUANDO O VI PARTIR.
    É UM DOR INSANA, MAS A VIDA CONTINUA E VOCÊ RECEBEU DE PRESENTE ESTE DOM MARAVILHOSO, DE TRANSMITIR AS EMOÇÕES COM TANTA SENSIBILIDADE. COM CERTEZA, ESTA ARTE SUAVIZA
    A SUA DOR.
    ABRAÇO.

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  22. Olá, Arnold
    que bela homenagem... Parabéns pelos lindos textos. Beijos!!

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  23. Arnoldo, emocionei-me com suas palavras, só quem já perdeu a mãe pode entender a dor que você sentiu.

    Um abraço.

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  24. Olá Arnoldo, muito delicada sua homenagem... Que bom saber de sua ligação com a Gabriela Boechat. Descobri as telas dela por acaso e apreciei muito. Já está nos meus favoritos... Grande abraço,

    Úrsula

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  25. Belissimos os textos!
    Tambem, co m uma insiracao tao perfeita, impossivel escolher as palavras erradas que descrevam amor de filho e mae. Mae vive pra sempre.

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  26. Oi Arnoldo
    Um relato que emociona.
    Uma lembrança bonita, paesar de triste.
    As passagens aão assim , silenciosas , inexplicáveis, sentidas.
    Digo-te que até gostaria de ter podido vivenciar uma cena assim porque nao conheci minha mae, era muito pequena quando ela nos deixou. E o vazio é maior.
    Cada um vivendo sua história Arnoldo
    Obrigada pela emoção que passa e ao mesmo tempo acalma.
    Voce teve uma mãe com muita luz.
    abraços, bom domingo

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  27. Sua mensagem é confortavel, em 2002 passei por esse moemento insano, perdi a minha mãe,me arrependo por não ter dado a atenção merecida, mas fico feliz pelos seus ensinamentos, mesmo sendo iletrada, foi uma grande sábia, obrigado pela sua mensagem a esse grande dia.

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  28. sem palavras, poeta...deixo a emoçao me levar...bjuuu

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  29. Querido amigo,

    Reli ,hoje ,com mais emoção! O amor une mães e filhos na eternidade.

    Que você tenha tido um domingo em família abeçoado e feliz. Que a sua semana seja maravilhosa!


    Beijos com carinho, Arnoldo.

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