Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

CEREAL MATINAL


                                    
 Cobriu a paisagem com seu olhar distante e inquieto, a janela era de 1,20 x 1,20 e não tinha como entrar por ela toda vastidão do que ficou para trás, apenas o olhar do décimo primeiro andar, onde habitava só havia um mês, depois das chuvas que devastaram a plantação de milho, que ia além do horizonte que ficava depois do pequeno cata-vento, que ilustrava a parede do pequeno quarto bem acima da cômoda. Algumas horas se passaram enquanto estava ali tentando descobrir um jeito de voltar, quem sabe um dia, a sorrir, enfim fechou a janela, vestiu uma camisa que deixou solta por cima da calça e aberta na parte de cima, deixando um pouco do peito à mostra, abriu a porta, saiu,trancou-a e foi caminhando pelo corredor mal iluminado, preferiu descer pela escada, como se quisesse que o tempo passasse logo, saiu do prédio e ganhou a rua. Tudo era diferente agora, não conseguia acostumar-se com sua nova realidade, não aceitava as nuvens que estavam cobrindo seus dias. Na calçada, olhares desconhecidos, pessoas que apenas passavam,  dobrou a esquina olhando as lojas ainda fechadas, com suas portas de ferro cheias de cadeados, entrou na padaria e pediu um café.

__ Puro ou pingado? – perguntou a moça

__ Puro – respondeu

__ Pão e manteiga?

__ Não, apenas o café

Pegou o açucareiro, colocou um pouco de açúcar, não adoçando muito, mexeu com a colher, olhou para o lado para sentir um pouco do clima, saboreou o café, tirou uma moeda e pagou, saiu da padaria e foi até a banca de jornal para ler as noticias da capa e nada, nada diferente das notícias de todos os dias. Enquanto o tempo passava ficou como um andarilho, sempre com olhar distante e a fisionomia entristecida, longe da sua própria vida. Já era hora do almoço e procurou um lugar para alimentar-se, encontrou uma pequena pensão, numa galeria comercial, era no segundo andar, subiu a rampa que dava acesso,  viu as mesas postas do lado de fora,  entrou na pensão, era self service, pegou o prato, serviu-se de feijão, arroz, massa e um pedaço de frango grelhado, sentou-se no lado de fora, pediu um refrigerante e almoçou vagarosamente, terminou o almoço e saiu pelas ruas até chegar a um cinema em frente a uma pequena e tranqüila praça, como não tinha mesmo o que fazer, a não ser ver as horas passarem, resolveu entrar no cinema e assistir o filme do Wim Wenders, sentou-se no interior da sala e começou a assistir o filme que havia começado fazia uns quinze minutos, identificou-se um pouco com o personagem central, um homem que isolou-se de tudo e todos e virou um andarilho em busca de si mesmo, ficou ali pensando em seu próprio mundo, nem sombrio, nem claro, apenas seu mundo, onde ele parecia ser seu próprio espantalho, seu próprio ocaso, seu próprio exílio. Quando o filme terminou, apenas saiu do cinema, atravessou a rua em direção a pequena e tranqüila praça sem chafariz, sem flores, coberta por árvores, sentou-se num dos bancos da praça e ficou olhando os pombos, que talvez fossem os mesmos de Varsóvia.

17 comentários:

  1. Linsa musica. Impossivel não se emocionar com sua escrita. Eu me coloquei no lugar da pessoa..tive sentimentos melancólicos.
    Acho que uma das intenções de quem escreve é esta..transmitir emoção. Teu texto cumpre esta função muito bem.
    Quanto ao personagem... talvez é preciso morrer pra renascer..como a Fenix.

    Parabéms meu amigo poeta!!
    Eu tenho um amigo poeta!!

    Beijo..dia lindo pra vc!!

    MA Ferreira

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  2. Que bela música! Fazia tempo que não a ouvia.
    E qto ao texto, comovedor.
    Beijo meu querido!

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  3. Ótima escolha do vídeo. A música é linda e remete à melancolia do personagem de seu belo texto.
    Abraço.

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  4. Arnoldo,

    Muito belo seu texto , como sempre !
    Te ler é um imenso prazer ...


    Saudades também.
    Bjo e uma Noite de Paz.

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  5. Cereal matinal é bom a qualquer hora do dia... como ler seus textos...a qualquer hora prendes minha atenção...
    bj.

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  6. Linda música. A melancolia de seu personagem encontrou parceria no do filme, o que o tornou ainda mais introspectivo, mais sensível... acontece na vida.

    Bjs.

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  7. Por vezes as praças, os cafés,a solidão... por vezes o filme diante dos olhos, e a vida passando (em vão)... Me vi nestas linhas... Beijo grande, poeta.

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  8. A solidão é uma companhia que nos deixa, às vezes, pensativos e melancólicos...
    Lindo!

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  9. Msica linda, triste também!
    A vida no final das contas é muito triste porque tudo acaba...

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  10. Um recomeço é sempre assustador. Parece que no final das contas, precisamos da rotina, dos rostos conhecidos, do calor que o outro nos dá.
    Mas a mudança vem com uma caixa de possibilidades, basta colocar nela o olhar dos sonhos que aparecerão pombos vindo de Varsóvia e nuvens de algodão cobrindo tudo.

    Machado de Assis teria gostado deste texto, assim como eu.

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  11. Bom dia,Arnoldo!

    Lindo texto...sentir solidão é sempre triste...
    Beijos!
    Bom dia!

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  12. Meu querido, que sensível texto...o retrato de uma saudade...do vazio que ficou dentro de si... e assim tantos vivem por aí...
    Ameiii a música...linda demais...
    Beijinhos...
    Valéria

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  13. um texto pra nem se comentar...apenas ficar...com a impressao...bjuuu

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  14. Arnoldo que poema mais lindo e triste
    como é triste a pessoa sentir um vazio assim em meio a tanta coisa,parece que o mundo esta vazio que tudo parou de existir,deixei as lagrimas cairem porque não as consegui segurar,,
    lindo e comovente,parabens poeta,um grande abraço com carinho marlene

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  15. Boa noite Arnoldo!
    Gostei muito da tua postagem
    Essa música é muito linda e fazia algum tempo que não ouvia.
    Gostei demais.
    Beijo,
    Mara

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  16. E assim o tempo passa...bela cronica da vida real! beijoas

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