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quarta-feira, 21 de julho de 2010

MARIPOSA IMPERIAL



MARIPOSA IMPERIAL
Autora: Silviah Carvalho

A natureza nos trás surpresas, gosto muito de admirá-la, fauna, flora nos trás conhecimentos
Que não teríamos no cotidiano urbano, vale a pena guardar um tempo para assistir espetáculos naturais.
Há um fato curioso a respeito da mariposa imperial: ela sai do casulo por uma abertura que parece pequena demais ao seu corpo. E, interessante, não deixa vestígio de sua passagem:
Um casulo vazio é tão perfeito como um casulo ocupado, segundo se supõe a exígua abertura
Desse casulo é uma provisão da natureza para forçar a circulação dos humores nas asas da mariposa, asas que ao tempo da eclosão são menores que as de outros insetos congêneres.
Guardado por algum tempo um desses casulos, que tem uma forma cilíndrica interessante e que estava ocupado, eu anelava por ver chegar o dia da saída do inseto. Finalmente o dia esperado chegou: e lá fiquei eu uma manhã inteira, interrompendo a todo instante todo o meu serviço, para observar a trabalhosa saída da mariposa.
Ao meu entender, aquela saída estava difícil demais! Pensei que talvez fosse por ter o casulo ficado tanto tempo fora do habitat natural, quem sabe em condições desfavoráveis. Podia ser que suas fibras tivessem ressecado ou enrijecido. E agora o pobre inseto não teria condições de sair dali.
Depois de muito pensar, arvorando-me em ser mais sábia e compassiva que o seu Criador, resolvi dar-lhe uma pequena ajuda. Tomei uma tesoura e dei-lhe um pique no fiozinho que lhe embaraçava a saída. Pronto! Sem mais dificuldade, saiu a minha mariposa, arrastando um corpo intumescido.
Fiquei atenta e curiosa para ver a expansão de suas asas encolhidas, o que é um espetáculo admirável aos olhos do observador. Olhava curiosamente aqueles minúsculos pontos coloridos, ansiosa por vê-los dilatarem-se, formando os desenhos que fazem da mariposa imperial a mais bela de sua espécie. Mas, nada... E o fenômeno, nunca se deu! Na pressa de ver o inseto em liberdade, eu havia, sem saber, impedido que completasse o laborioso processo que estimularia a circulação nos minúsculos vasos de suas asas! E a mariposa, criada para voar livremente pelos ares, atravessou sua curta existência arrastando um corpo disforme, com asas atrofiadas.
Alem de ter agido incorretamente, esse ocorrido me levou a outra dimensão, aquela que nos traz uma experiência extra, a de se colocar no lugar da vítima, e quem ou o que seria nosso algoz?
Recentemente me fizeram a seguinte pergunta: “você é feliz?” ao que respondi felicidade não existe, o que existe são momentos felizes, ninguém é totalmente feliz ou infeliz, às vezes falta tão pouco para sermos felizes, como faltava pouco para minha mariposa voar e eu lhe interrompi a vida e a felicidade de poder voar e encantar a muitos.
Assim, percebo que as pessoas entram em nossas vidas a fim de “interromper” nossa solidão e nem imaginam o prejuízo que nos causam, a solidão, a tristeza fazem parte no nosso crescimento, moldam nosso caráter para melhor ou pior.
O ser humano tem o costume de atropelar o tempo destinado a cada processo de suas vidas: invade um a vida de outro e se perde na hora de consertar os próprios erros diante do estrago causado por atitudes incoerentes.
Eu, nada mais podia fazer pela mariposa, além de vê-la definhando, a natureza a colocou no meu caminho ou eu no caminho dela? Por certo, a resposta veio da própria natureza, ela minguou em minhas mãos, eu estava no caminho dela.
Deixemos a vida e a natureza seguir o seu curso, aquilo que não cabe a nós, deve não nos interessar, a nossa curiosidade pode surpreender nossas expectativas e nos tornar assassinos de vítimas vivas, destruidores de sonhos, exterminadores de vidas sentimentais em reconstrução.
Guardemos em nós nossa vã curiosidade, que pensamos não poder controlar, ou seremos covardes despertando sentimentos que não temos a intenção de sustentar.
Há uma porta de entrada na vida e no coração das pessoas, devemos bater e pedir permissão para entrar, pois não há saída, quebrar essa porta é determinar uma sina, depois é só parar assistir o espetáculo: vida ou morte, e você passa a depender da própria sorte.

4 comentários:

  1. sua uma admiradora da fauna e da flora
    e esse é um belo texto
    Que iluminou meu dia ;D
    bela quinta feira
    Beijo

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  2. Oi meu amigo,
    Passando pra te deixar um beijo.
    Adorei o texto sobre a Mariposa.

    Bjinhoss,
    *Simone*

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  3. Um texto magnífico, Arnoldo! Como precisamos ler textos simples e profundamente esclarecedores para o nosso raciocínio. Como se encaixa em diversos seguimentos da vida em relação as nossas atitudes nos chamando a razão. Agradeço, imensamente, este exercício tão saudável através de um belo e bem escrito texto.

    Beijos e lindo dia, amigo.

    * Respondi ontem a noite seu email, ta? Qualquer dúvida estou a disposição, amigo. Com carinho.

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