Já estava cansado de ouvir discos, já passavam das 19 horas e estava viajando
nos discos desde as 10, entre latinhas de cerveja e goladas de whisky, rolou de
Erasmo Carlos a Bob Dylan (o Dylan é foda, foda mesmo), foi como assistir
“Coração Satânico”,“Platoon” e “Laranja Mecânica”ao mesmo tempo, foi uma viagem
na 66, desligou o som, jogou as latinhas no lixo, colocou o Chivas no armário e
foi tomar um banho para sair um pouco e tomar uma cerveja no bar ali perto, na
outra rua.
O bar estava cheio, mesas ocupadas do lado de dentro, na calçada de fora e na
calçada do outro lado da rua, embaixo das árvores, mas ele gostava mesmo de
ficar no balcão, em pé, para olhar o movimento que existia no lado de fora, na
rua. Aos sábados sempre rolava uma música ao vivo, era tudo que gostava, e o
repertório era muito bom, só rolava coisa boa.
- E ai
cara, o que vai querer? – Perguntou o barman.
- Uma
cerveja, um conhaque e uma porção de carne seca com aipim.
O barman
trouxe a cerveja, serviu o conhaque.
- A
porção já vem.
- Tudo
bem.
Ficou por ali beliscando o conhaque e tomando a cerveja, enquanto o músico se
preparava para cantar. A noite era quente e o natal estava próximo, faltavam
dois dias, a atmosfera natalina já tinha tomado conta das ruas, algumas
crianças passavam com os pais nos carros, outras pelas ruas também com os pais,
talvez vindo do shopping ali perto, mas nem todas as crianças tinham heróis,
algumas tinham seus próprios heróis, seus próprios deuses.
Ele ficou distraído bebendo sua cerveja, seu conhaque e saboreando seu tira
gosto de aipim com carne seca enquanto a música ao vivo rolava e percebeu que
algumas crianças estavam brincando por ali, uma menininha de cabelos
louros e olhos azuis tinha um Batman e um Super-Homem de plástico nas mãos, ele
pensou no papai Noel, pois era tempo de natal, e aquela menininha estava
indefesa mostrando para ele como o Batman e o Super-Homem são frágeis. Os pais
das crianças que vagavam ali eram as tempestades, que poderiam estar em todos
os lugares, debaixo das árvores, de frente para o mar, de frente para
ilha lá longe sem farol, do outro lado da rua tão deserta, um deserto tão ermo
que não tinha nem esfinge para nos olhar, ou proteger as crianças, ou proteger
o céu, ou proteger aqueles que pensam que existe céu, que acreditam no céu. As
crianças estavam tão sozinhas que ele pode perceber o quanto papai Noel é
frágil.Papai Noel é tão frágil quanto o Batman, o Super Homem ou o Poderoso
Thor.
As portas estão fechadas e as luzes logo irão se apagar. Papei Noel vai
proteger as crianças sim, as crianças que estão em seus lares e não as que
estão pelas ruas a vagar, para elas nem a porta da igreja se abrirá, nenhum céu
existirá.
É tão
triste ver crianças num bar.
Arnoldo
Pimentel
Amigo (a) leitor (a) seja bem vindo (a),este conto faz
parte da Trilogia Contos do Bar, são três de contos de minha autoria, todos
passados na atmosfera do bar, se tiver um tempinho leia os contos e deixe sua
opinião, ela é sempre muito importante. Os links e títulos estão abaixo, desde
já agradeço a opinião e a visita.Basta passar o mouse no link abaixo do título.
JOHN
BÚFFALO
A fragilidade está no ser.
ResponderExcluirOi Arnoldo :)
ResponderExcluirLi a Trilogia Contos do Bar.
Gostei muito.
Adorei ler 'John',(fiquei com dó dele).
Meu texto preferido foi 'BATMAN E O SUPER-HOMEM SÃO FRAGÉIS',
Não gosto de ver crianças num bar...
Bjs!
Isso me lembrou tanto eu. Num bar, observando somente. Música ao vivo...Pessoas mostrando suas fragilidades. Gente que vai pro bar comemorar, que vai pra sorrir, que vai pra chorar ou que vá esquecer as tristezas que essa vida nos dá.
ResponderExcluirótimo conto.
Um beijo Arnoldo.
Tamires.
Gostei dos contos Arnoldo
ResponderExcluirO que lamento mesmo é nao poder ainda priorizar o que se vai ler, os amigos surgem e nem sempre podemos acompanhá-los como deveria.
Tanto pra ler devagar aqui no Arnoldo.rs
Vou fazendo o que posso, e sempre que passo adoro.
Parabéns
um abraço
Arnoldo,
ResponderExcluirmuito interessante.
O conto que iniciou com um toque de humor sutil, foi ganhando corpo de ironia, mas aquela ironia inteligente, também característica do humor, onde a crítica social está embutida.
parabéns!
Parabéns Arnoldo,
ResponderExcluirAdministrou até o fim, achei muito bom.
Dos tres contos,esse foi o que mais gostei!Uma realidade triste de muitas crianças!bjs,
ResponderExcluirOlá meu caro.
ResponderExcluirMuto bom o seu conto. Entre o humor e a ironia, você colocou a verdade dos nossos dias. Parabéns!
Abraços
Leila
Arnoldo
ResponderExcluirÉ triste esta realidade. Que infelizmente vemos todos os dias .
E você elaborou com muita mestria.
Amei.
Parabéns.
Abraços.
Arnoldo
ResponderExcluirBem observado. Melhor gizado. Descrito com alma. Com sentimento. Faz bem a gente saber que há outros que se preocupam com as crianças da rua. Com as crianças que não tiveram a sorte de poder acreditar no Papai Noel. Enquanto existirem pessoas assim há uma réstia de esperança para estes excluídos.
Parabéns. Um abraço.