Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




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terça-feira, 19 de outubro de 2010

SILÊNCIO MUDO (CONTO)


SILÊNCIO MUDO (CONTO)

No ar o aroma do café fresco sendo passado no coador de pano, aroma que tomava todo o ambiente da cozinha, a mesa posta para as duas pessoas que viviam ali, por fim, o café ficou pronto e X serviu-o nas duas canecas enquanto Y olhava com olhar desatento, X sentou-se à mesa e começaram a refeição matinal, refeição simples, café, pão, manteiga e ovos estrelados, alimentaram-se em silêncio, não tinham nada mesmo para conversar, levantaram-se após terminarem o café, era hora de começar o dia, Y retira a mesa do café, lava as canecas e pratos, guarda as sobras de pão e começa a arrumar o alimento que levarão para o trabalho, enquanto X ocupa-se em preparar os lampiões com querosene para acenderem quando voltarem no início da noite e iluminar a casa, arruma também as ferramentas que usarão durante o dia no trabalho.
A caminhada para o local onde estavam trabalhando era longa, seguem lado a lado, o sol já brilha no céu prometendo um dia bastante quente. A paisagem é um tanto seca, o vento levanta a poeira que sobe pelos corpos suados. Todos os dias a mesma caminhada silenciosa, sem palavras para enfeitar o quadro que vai sendo pintado ao longo do tempo, um quadro pintado pelas cores do silêncio, da paz que esconde mágoas, da terra que não espera nada. Em alguns momentos apenas se olham, talvez esperando algumas palavras, ou um beija-flor aparecer e tocar as flores que estão no jardim dos sonhos. O dia foi passando e o trabalho correndo normalmente, trabalhar a terra, plantar, colher, sobreviver, é essa a vida que levam. A tarde chega o sol vai baixando, sem palavras, sem gestos amigos, apenas o companheirismo de estar sempre perto, com o mesmo propósito, ver todos os dias o sol nascer, manterem a esperança de um dia ser melhor, poder dizer que vale a pena viver.
Chega a hora de voltarem, fim do dia, outro dia que poucas vezes se olharam, poucas vezes se notaram, mas o trabalho foi feito, dever cumprido, o retorno não é diferente, apenas os corpos demonstrando cansaço, caminham lado a lado, o silêncio ecoa nos lados da estrada, o sol começa a se deitar, o anoitecer começa a nascer.
Foi apenas mais um dia na vida de duas pessoas, que vivem juntas, trabalham juntas e quase não se conhecem.Foi só mais um dia que acaba no por do sol, sem o canto do rouxinol, com o arame farpado do silêncio que separa vidas, impede idas e vindas de vidas impedidas.

9 comentários:

  1. ...Todos os dias a mesma caminhada silenciosa,sem palavras para enfeitar o quadro que vai sendo pintado ao longo do tempo, um quadro pintado pelas cores do silêncio, da paz que esconde mágoas...

    Foi só mais um dia que acaba no por do sol, sem o canto do rouxinol, com o arame farpado do silêncio que separa vidas, impede idas e vindas de vidas impedidas.
    Vejo neste texto a luta pala sobrevivência, é a realidade de muitos em todo o país.

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  2. Esta realidade de estar juntos e não se sentir junto é muitas vezes a realidade também de muitas pessoas que não trabalham na terra, mas que o próprio dia a dia e a própria rotina vai lapidando esse tipo de situação, por isso devemos regar a plantinha da cumplicidade e do interêsse pelos assuntos corriqueiros do dia e que envolve o outro.Parece bobagem, mas ajuda muito a manter laços. Parabéns Arnoldo, este texto é maravilhoso.

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  3. Lindo conto, parabéns.. a rotina de um casal que mesmo estando juntos estão tão distantes, algo tão comum porém este é diferente pois ambos gostam de estar lá!

    ^^

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  4. Realmente estava um pc insegura :) mas ja passou!

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  5. O quadro fala enquanto ouço a poesia lida da alma e sinto vontade de esparramar melodias ao som do coração... Maravilhoso teu blog Arnoldo traz sempre uma paz que soa na alma!

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  6. Olá Arnoldo,
    adoro como escreve com tanta sensibilidade,
    que nos envolve no poema..
    Ah, mas o ritual do café foi perfeito..o meu preferido, soube descrevê-lo com detalhes perfeitos..parabéns..
    E o silêncio..esse fala "O silêncio também fala, fala e muito! O silêncio pode falar mesmo quando as palavras falham."
    Osho

    Tudo de bom para você!

    Beijos.

    Marion

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  7. As conquisats dependem de cada um, um abraço Lisette.

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  8. O conto me envolve, a simplicidade me toma por inteira!
    Adoro a forma com que abordas as cosias.
    Desculpe-me o sumiço por aqui, estava fora esses dias!

    Bjs!

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  9. ola passando para visitar aqui também e já seguindo voltarei mais vezes!!!

    bjinhus...

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