
DIA ESCURO
Autor: Marcio Rufino
Na manhã estranha
De tardes tacanhas
Saio com o dia escuro
Embaixo de nuvens negras
Entre as luzes ainda acesas
No infinito ainda o reflexo
Da queda do último relâmpago
As marcas da tempestade
Que escureceu todo meu âmago
Nada impede que eu ande
Entre casas sem muros
De mármores escuros
A ventania soprando mundo afora
Talvez eu quisesse ter alguém
Do meu lado agora
Na primeira esquina
Cruzo com o sorriso aberto
De uma criança escura
Que clareia toda a rua
Que esclarece toda dúvida
Ninguém sabe o que se passa dentro dos aviões
Dos carros, ônibus e caminhões
Que param e passam
Que dão passagem e atropelam
Passam por cima e salvem
E deixam morrer na estrada molhada de chuva
Nem por dentro da cabeça das pessoas que não sabem
Que o sorriso largo da criança
Perante o dia escuro
É tão contraditório
Quanto vôo da ave de rapina
Pelo céu e mar limpo
Entre o sol mais que vivo
Dias escuros, noites claras
Manhãs violentas, tardes lentas
Amores aflorando, ódios sangrando
Corpos transando, cabeças rolando
E o dia escuro cresce
Assim ele aparece
Assim ele se determina
Assim ele domina
O olhar dos que vêem seus filhos
Irem à escola em capa que os protegem da chuva
Mas não do frio
O olhar dos adolescentes mortos de tédio
A perda da vida das cores das tintas
O triste impulso sem graça do céu cinza
O fraco aspecto de ternuras sem carícias
Os cruéis detalhes das últimas notícias
Dos jornais, das revistas, nas bancas, livrarias
A velha que escorrega
Caindo na lama
Os corpos que batalham
Desejando ainda estar na cama
Comanda os pensamentos poluídos dos homens do mal
Que guardam o sexo na cabeça e as idéias no pau
O fundo do coração das moças de mente vazia
Que fazem bebês assim como fazem comida
A teimosia das aves que não se cansam de voar
A bravura das árvores que insistem em respirar
Talvez o mistério da noite venha esconder o medo no olhar
Mas a realidade é má e tão fácil não irá nos desvencilhar
E o negro do sorriso da besta
Cobrirá o branco da lua
Como a urina do bêbado
Escorrendo da calçada para a rua
Se é doce morrer no mar
É amargo morrer no asfalto
Não vale morrer de enfarte
Depois de escapar do assalto
Nos motéis, os debates do ego
Que se fingem de sexo
Com certeza se acirrarão
Só que eles nunca saberão
Que nas minhas mãos está a solução
Da limpeza de toda podridão
Que toda mentira possa sujar
Mas não se percam nas confusas palavras desses versos-pensamentos
Pois o dia escuro, como um pesadelo
Sucumbirá nem só acinte
No despertar do nascer do sol do dia seguinte
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