Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó
"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)
"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)
"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)
"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)
"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
UM VENTO NA NOITE DO TENNESSE
Abriu a porta e saiu para a varanda, queria sentir o frescor do anoitecer, ficaria por ali olhando a estrada de terra que passava em frente ao portão. A varanda era grande, com algumas plantas, assim como o quintal daquela tranqüila casa de campo. Caminhou até a cadeira de balanço do lado esquerdo da mesa de madeira e sentou-se. Do outro lado da estrada havia uma casa, do lado esquerdo uma curva e do direito uma reta até o centro do bairro. Ali é tudo quieto, vez por outra passava um automóvel e podia-se ouvir os pássaros e o som do riacho lá no fundo após a curva da estrada de terra. Seu coração já não era tão forte como em tempos passados e por isso não se sentia bem na cidade, não se sentia mais um homem urbano. Depois de alguns minutos sua esposa, companheira há mais de cinqüenta anos veio sentar-se ao seu lado, com passos também curtos, um tanto cansados, atravessou a distância que os separava e sentou na cadeira de balanço ao lado da sua. Ficaram alguns minutos em silêncio admirando o anoitecer. Ela sabia que ele gostava de sentir o toque do vento em seu rosto sem muitas palavras. Assim ficaram e a noite cobriu o quintal, ela levantou, acendeu a lâmpada e voltou a sentar.
- O que você pensa quando está aqui? Perguntou Maria
- Sinto que algo escapa de mim aos poucos. – Respondeu José
- Algo como?
- A vida, talvez.
- Sente-se infeliz?
- Não, sinto-me feliz pela vida que tive.
- Sente saudades de quando éramos mais jovens?
- Acho que não, tudo tem seu tempo, agora só me resta esperar enquanto fico aqui sentado observando a natureza.
- Eu sou feliz por todo tempo que vivemos juntos.
- É tão bom ouvir isso de você.
Ficaram novamente em silêncio, quem sabe não estavam lembrando cada um ao seu modo tudo que passaram juntos. A noite era fresca e as estrelas piscavam, talvez para a lua cheia que ilustrava com sua beleza aquele pedaço do céu.
- Quer um refresco? Perguntou Maria
- Quero sim, uma laranjada sem açúcar – Respondeu José
- Vou preparar.
- Enquanto espero ficarei observando a lua e as estrelas.
Maria levantou-se para ir à cozinha e José ficou na cadeira de balanço, balançando e ouvindo a voz das estrelas cantando pra lua. Era apenas um lugar, que ficou escondido no tempo em que a cadeira balançava na varanda, tocada pelo vento, protegida do sol, protegida da chuva, dos olhares ermos que passavam na estrada, dos sonhos que vagavam perdidos, enquanto o outono não dobrava a esquina pra deixar a manhã vazia.
Maria voltou com a laranjada e colocou sobre a mesa, ao lado de José, mas ele não esticou a mão para pegar, ela sentiu um aperto no coração quando viu seus olhos fechados.
- “Talvez tenha dormindo” – Pensou
- José
- José
Ela tocou seu ombro e sua cabeça caiu para o lado
- Meu velho, não me deixe sozinha
- Não me deixe sozinha meu amor, não me deixe sozinha
O vento parou de balançar a cadeira e a lua escondeu-se atrás das nuvens que deixaram as lágrimas caírem na noite.
Arnoldo Pimentel
Quer uma dica de uma leitura ótima e diferente do que costuma ler?
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http://chicletesalgado.blogspot.com
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Amei o seu escrito. De fato inspirador! amei também seu retorno ao blog.Beijos. Voltarei!!!!
ResponderExcluirAmei o seu escrito e seu retorno ao blog. Voltarei!!!
ResponderExcluirMEU QUERIDO ARNOLDO QUE TEXTO LINDO E TRISTE
ResponderExcluirPOR MAIS QUE SE SAIBA QUE UM DIA ELA VIRÁ SEM BATER NA PORTA VAI ENTRANDO SEM SER CONVIDADA
INSOLENTE MAS SILENCIOSA FAZENDO ATÉ MESMO A LUA OCULTAR-SE POR DETRAZ DAS NUVENS POR NÃO CONSEGUIR CONTER AS LAGRIMAS POR SER SOLIDARIA A SAUDADE QUE MARIA IRÁ SENTIR DO SEU JOSÉ TÃO AMADO BJS POETA
MARLENE
O momento triste do final não apaga uma vida plena, feliz, harmoniosa na convivência de anos.
ResponderExcluirLindo conto!
Bjs.
Olá Arnoldo,
ResponderExcluirUm conto lindo e emocionante!
Parabéns pela encantadora narrativa!
Abraço.
lindo e real..
ResponderExcluircheguei a pensar que ela não voltaria com a laranjada..
bjs.Sol
Olá!
ResponderExcluirLindo seu blog,seus textos.Que Deus te ilumine sempre.Grande abraço
se cuida
Olá,Arnoldo!
ResponderExcluirUma bela história!Com um final comovente!
Biejos!
tudo de bom!
Lindíssimo Pimentel!!!
ResponderExcluirGostei muito do seu conto!!!
Parabéns!!!
1 beijo Lídia
OLÁ MEU BOM ESCRIBA:
ResponderExcluirBELO TEXTO POST, FROM RIO, TE ABRAÇAMOS E A VIDA SAUDAMOS!
VIVA LA VIE
Linda história,lindo o final. Beijinhos carinhosos meu amigo, e um lindo final de semana para ti.
ResponderExcluirA minha amizade por você é tão especial que não saberei explicar em palavras.
ResponderExcluirSempre sinto vontade de dizer o quanto é importante contar com amigos (as) como você.
Hoje você já faz parte da minha vida, agradeço a Deus por
ter te encontrado e descoberto com você a verdadeira amizade.
Obrigada por sua preciosa amizade,e que Deus a abençoe cada dia mais.
Um Domigo Feliz e tremendamente abençoado.
Beijos meus no seu coração.
Evanir..
Será este o viveram felizes para sempre? Re-definindo um/o fim...
ResponderExcluirAbraço,
Araceli
http://chicletesalgado.blogspot.com
Dia de domingo é dia de visitar as pessoas queridas...por isso que venho trazer um afago para deixar teu domingo mais iluminado,,,
ResponderExcluirPoetar lindo!!!!!!!!!!!
bjs de de dia de domingo!
Nossa! Um vento na noite, que parou de balançar, quando as lágrimas caíram na noite...
ResponderExcluirMuito lindo e nostálgico este seu conto, meu amigo. Um final emocionante que nos deixa com sabor de poesia e reflexão na boca. Belo mesmo! Parabéns!
Uma linda tarde para você!
Lembranças e meu carinho.
Ange.
Muito lindo amigo...Ao ler senti a suavidade do vento e a delicadeza da noite. Bjos achocoaltados
ResponderExcluirArnoldo, parabéns pelo conto, emocionante!
ResponderExcluirUm abraço.
Olá, Arnoldo!!!
ResponderExcluirTenha um ótimo dia!!!
Beijos!
Arnoldo !Lindo seu conto, criatividade na descrição da natureza,nostalgia e riqueza de detalhes! Amei te conto querido amigo! Taís V Mariano
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