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"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
ÁRVORES BRANCAS DESENHADAS NO CÉU
ÁRVORES BRANCAS DESENHADAS NO CÉU
Autor: Arnoldo Pimentel
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gambiarraprofana.blogspot.com
As janelas da casa ficavam praticamente junto à rua, separas apenas pela calçada, o quintal era grande, ficava nos fundos e se estendia até o rio que cortava a pequena cidade, a casa ficava próxima à ponte na rua central e a ponte bem próxima da estação de trem e do hotel de onde partia o ônibus, ainda de madrugada, pelas 5 da manhã e só retornava no principio da noite. Os dois irmãos já bem cedinho estavam de pé pelo quintal, gostavam de ouvir os pássaros cantando nas árvores e principalmente o som do pica-pau nas árvores altas lá pelos lados do túnel.
- Escuta o pica-pau – disse o mais velho
- Ele vai comer a árvore toda? – perguntou o mais novo
- Não sei, mas acho que não
Era hora de buscar leite na cooperativa e o pai os chamou
- Vocês vão comprar leite
Cada um pegou uma garrafa e foram brincando pela rua, pararam em frente ao bar do poeta, que ficava numa elevação, bem em frente a rua da única escola da cidade
- Bom dia poeta
- Bom dia meninos, venham até aqui e peguem uma bananada cada
O poeta gostava de crianças e sempre tinha um doce e um sorriso para elas. Os irmãos pegaram os doces, agradeceram e seguiram o caminho para a cooperativa, enquanto conversavam olhavam as chaminés das casas soltando a fumaça que nascia na cozinha, do fogão à lenha, onde o almoço era lentamente preparado. Depois que compraram o leite voltaram pelo outro lado, atravessaram a ponte perto da cachoeira e chegaram na linha do trem, tomando o rumo de casa, entraram no túnel, naquela hora da manhã não havia perigo, o próximo trem só chegaria pelo meio dia, no interior do túnel a escuridão causava um certo frio e eles ficaram em completo silêncio, ouvia-se apenas o pinga-pinga da água que escorria pelas paredes de pedra, saíram do túnel e reencontraram o céu azul com algumas nuvens brancas.
- Olhe como é bonito o céu – disse o mais velho
- As nuvens parecem desenhos
- É mesmo, vários desenhos
- Algumas parecem árvores brancas desenhadas no céu
Talvez um dia eles pudessem voltar a caminhar pelo caminho do trem, mas não existiria mais trem, o trem Maria fumaça, não existiria mais a fumaça das chaminés, nem chaminés nas casas, não existiria mais casa.
No cair da tarde estavam na janela da sala olhando a rua, em frente a casa, um pouco para a esquerda ficava o armazém do feijão, um português obeso que tinha sempre um palito de fósforo no canto da boca e uma caneta na orelha, tinha também um jeep Willys e uma rural willys que ficavam o tempo todo estacionados na porta do armazém e nas noites de chuva, os meninos saíam escondidos de casa e ficavam brincando com o limpa para brisa dos carros. Eles estavam na janela esperando a chegada do ônibus, aquele que saiu de madrugada, que fazia a única linha de ônibus da cidade, eram três ônibus, apenas um saia e os meninos os apelidaram de “chorando, sério e sorrindo”, geralmente é “chorando” que era o mais antigo que trafegava, o “sério” só aos sábados e domingos e o “sorrindo” em dias de festa na cidade. O ônibus entrou na rua central, lá em cima, em frente ao bar do poeta e da janela da casa o irmão mais velho apontou.
- Olha o ônibus
- É o “chorando”, sempre ele, gosto mais dos outros
Mesmo sendo o “chorando” esperaram de olhos arregalados até que passasse na frente da janela e deram adeus de sorriso aberto e Seu José, o motorista buzinou como todas as noites.
- É hora de jantar – chamou a mãe
Os irmãos foram jantar e depois iriam ficar esperando o encanto da cidade no fim de noite, a chegada do trem Maria fumaça, que chegava pelas 21 horas, mas sempre atrasava, a estação ficava cheia, o trem era a alegria maior das crianças nas noites desertas da pequena cidade.
Ouviu-se o apito ao longe, antes do túnel
- Ele ainda não entrou no túnel – disse o mais velho
- Quando vai entrar?
- Já, já
Houve um silêncio
- Entrou no túnel
Ficaram tensos, esperando a apito do trem ao sair do túnel, os segundos pareciam uma vida na imaginação fértil dos dois pequenos irmãos.
- E o trem? – perguntou o mais novo
- Calma, fique quieto
Piiiii, piiii. Era o trem saindo do túnel, sua silhueta apareceu no final da reta, no meio das sombras da noite, os meninos arregalaram os olhos de emoção, o trem reduzia a velocidade conforme se aproxima da estação, tocando o sino e apitando, avisando à cidade que estava chegando e assim foi encostando na plataforma da estação, até que finalmente parou. Os passageiros foram descendo aos poucos e aos poucos a estação ficou vazia, tão vazia quanto ficaria um dia, um dia ficaria vazia para sempre. Os irmãos se olharam, sorriram de felicidade, da felicidade daqueles dias e devagar foram voltando pra casa, a rua foi ficando deserta, a noite estava estrelada, eram tantas estrelas que nem se podia contar.
- Olha uma estrela cadente – apontou o mais velho
- Estou vendo
- Faça um pedido, mas não conte
- Já fiz – disse o mais novo com um olhar de esperança
Entraram em casa e ficaram na sala, perto do pai que ouvia no rádio notícias do futebol, era um rádio de mesa preto, com a frente vermelha e botões dourados. Como a energia era fraca a voz ia e vinha.
- Já é tarde, hora de dormir – disse o pai de repente
- Só mais um pouco
- Não, daqui há pouco é hora da mula sem cabeça – disse o pai desligando o rádio
Foram para o quarto, deitaram, se cobriram, a mãe apagou as luzes, tudo escuro na casa. Pela meia noite eles ouviram o barulho lá na rua, era a mula sem cabeça passando perto da janela do quarto que dava pra rua, eles ouviram nitidamente o trotar da mula sem cabeça ecoando na noite, se encolheram embaixo das cobertas, pois a mula sem cabeça não podia ver unhas, dentes ou olhos e ali ficaram no pesadelo do medo até o silêncio finalmente voltar.
- Ela já foi – murmurou baixinho o irmão mais velho
- Que bom
- Você lembra a estrela cadente?
- Lembro, que pedido você fez?
- Que um dia possamos voar pelos céus, e você?
- Que a gente fique sempre juntos e sempre amigos, mesmo quando adultos
Assim adormeceram até o galo cantar, o galo sempre canta ao amanhecer de um novo dia e no fundo, bem no fundo do coração, eles sabiam que tudo ali ficaria pra trás, que um dia suas vidas iriam se separar, e então nada mais restaria além de lembranças, que no tempo virariam árvores brancas desenhadas no céu.
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Arnoldo, que gostoso viajar nos sonhos das crianças, inocentes desejos, inocentes brincadeiras, nossa adorei teu conto, faz um bem ler textos assim, leves, saudosos mas que sempre nos lembra da época de criança, onde tudo achávamos que podíamos, e a alegria se fazia presente em pequeninos acontecimentos, parabéns e obrigada por estes momentos,beijos Luconi
ResponderExcluirLINDO TEXTO POETA FALANDO DO TEMPO LINDO QUE SEFOI DA INOCENCIA DAS CRIANÇAS QUANDO ATÉ MESMO UMA IDA AO ARMAZEM ÉRA UMA LINDA AVENTURA CHEIA DE PUREZA E DE SONHOS E AS NUVENS BRANCAS PODIAM SER SEMPRE TUDO AQUILO QUE A IMAGINAÇÃO QUIZESSE VER SEM QUE FOSSEMOS CONTESTADOS ADOREI SEU LINDO TEXTO PARABENS UM ABRAÇO COM MUITO CARINHO,OBRIGADA POR ME FAZER LEMBRAR COISAS TÃO LINDAS E ESPECIAIS QUE FICARAM PERDIDAS TÃO LONGE MAS QUE CONTINUAM AQUI NUM CANTINHO DO CORAÇÃO BJS MARLENE
ResponderExcluirBoa tarde amigo querido!
ResponderExcluirQue bom poder te ver no meu cantinho,foi para matar saudades...
Nossa!!!!!!!!!!
Que texto lindo...cheio de vida em plena nuvens...
Bjs para te aquecer!
Olá,Arnoldo!
ResponderExcluirQue lindo! E mesmo separados que o sentimento que sentem um pelo outro os una sempre!!!
Beijos!
Olá meu amigo são lindas as suas árvores brancas no céu, o fumo dos comboios que eu tenho na minha memória desde menina, deliciei-me muitas vezes na beira da linha olhando os comboios a passar e a imitar o seu barulho, dizendo adeus aos revisores que se abeiravam da janelas para espreitarem as mocinhas que iam para escola.
ResponderExcluirhoje fico só por aqui já estou muito cansada, beijinhos de luz e muita paz.
Oi Arnold faz tempo que não venho curtir sua pagina, muito boa a cada dia..adorei amigo.
ResponderExcluirOps não vi se postei ...adorei seu texto seu lindO te cuida vil
ResponderExcluirOlá Arnoldo.
ResponderExcluirViajei na história e sinceramente lembrei de meus tempos de criança arteira lá nos idos anos 60...
O tempo as vezes é cruel...
Um abraço amigo, felicidades.
Olá Arnoldo.
ResponderExcluirViajei na história e sinceramente lembrei de meus tempos de criança arteira lá nos idos anos 60...
O tempo as vezes é cruel...
Um abraço amigo, felicidades.
Mais um belo trabalho, Arnoldo (=
ResponderExcluirObrigada por me honrar com tua visita.
beijos,
Fallen Angel
drl-life-essence.blogspot.com
Que história surpreendente, encantadora.
ResponderExcluirEncanta-me tanta simplicidade e doçura nesses versos, são fantasias e realidades envolvidas tratando de se fazer inundar de sonhos..ah adoro o céu, essas árvores brancas, os túneis, arco íris..ahhh estrelas..como adoro!
Bela reflexão!
Ju
muito interessante a sua história, Arnoldo, como sempre...
ResponderExcluirparabéns.
Olá Arnoldo,
ResponderExcluirBela narrativa!
Tudo muda, mas as lembranças permanecem intactas.
Abraço.
Estava tão acostumada a ler seus versos, sempre belos, e encontro aqui um texto maravilhoso. Você caminhou com sensibilidade e me envolveu. Parabéns!! Amei!
ResponderExcluirBjs.
Tens o condão de fazer recordar tempos antigos!
ResponderExcluirAbraço amigo
Com certeza a infância é a melhor época de nossa vida.
ResponderExcluirUma história encantadora, Arnaldo.
Beijos e uma linda semana.
Quando as crianças sonham o mundo se torna fantasia, feito de mel e de suspiro...Bjos achocolatados.
ResponderExcluirConheça meu novo blog...
http://sanchocolatequente.blogspot.com/
Saudade da minha infancia....
ResponderExcluirAmei tua historia!
Bj poeta
Soube-me tão bem a esta hora da noite ler este conto precioso...
ResponderExcluirTrouxe-me lembranças de um tempo em que ouvia cantar o galo e no céu, haviam muitas árvores brancas porque o fundo era de uma azul forte, quase divino!Hoje, vou adormecer com as minhas doces lembranças e agradecer-te por meteres avivado a saudade.
Beijo
Graça
ÓLA MEU AMIGO POETA VIM AGRADECER SUA VISITA DESEJAR UM DIA LINDO ILUMINADO POR ESTE SOL MARAVILHOSO DEIXO MEU CARINHO POR SEU EXELENTE TRABALHO UM ABRAÇO COM CARINHO MARLENE
ResponderExcluirGostei muito da história, a forma como escrevestes deu ainda mais vida ao texto!
ResponderExcluirUm abraço.