A sala de
aula estava silenciosa, os quase quarenta alunos que tinham entre 08 e 09 anos
olhavam o coleguinha que estava no canto da sala, junto a porta, de frente para
a parede, com as mãos tapando os olhos, que estavam fechados. A professora
sentada à mesa olhava a frase que o menino escreveu em resposta a pergunta que
estava no quadro:
“O que
você pede a Deus quando reza na hora de dormir?”
A
professora leu todas as outras respostas e todas eram parecidas, sonhos de
crianças, mas a do menino que estava no castigo, de costa para a turma, de
frente para a parede era uma afronta, um sonho que parecia impossível, ele
poderia ter respondido até mesmo sobre futebol, meninos gostam de futebol e
outros meninos responderam que queriam ver o Brasil ser tetra campeão, afinal o
Brasil iria tentar o tetra na Alemanha, faltavam alguns meses para a copa,
outros queriam que seu time fosse campeão, afinal estava no meio do campeonato,
outros queriam ser felizes, agora ela pensaria em alguma coisa, ele levaria um
0 além do castigo. O menino abre os dedos e tenta olhar entre eles, mas só vê a
parede, parece sentir a sala girar e os olhares dos colegas em sua direção,
sentia o olhar da professora como um chicote açoitando seu corpo, sentia
tremores, sentia medo, o mesmo medo que o fez escrever aquela resposta e pedia
a Deus, ali no seu canto ermo, que o livrasse dos medos. Bateu o sinal do
recreio, a professora formou os alunos em fila e os liberou para o pátio da
escola, menos o menino, chamou-o e mandou-o sentar.
- Você
ficará sem recreio e nunca mais escreva uma resposta dessas, ouviu?
- Sim
professora
Ela olhou
novamente a resposta:
“Quero
comprar balas na padaria sem ter que me esconder ou correr da Kombi azul.”
- Por que
você escreveu isso? – Perguntou a professora
- Eu
tenho medo da Kombi azul – Respondeu o menino
- Ela
existe para proteger você, só recolhe quem está nas ruas à toa – Disse a
professora.
- Eu
tenho medo, ela é amiga dos homens verdes, que colocam pessoas de castigo,
viradas pra parede, assim como fiquei ali no canto e depois leva as pessoas
para longe - Respondeu o menino.
- Quem
disse isso a você? – Perguntou a professora.
- Minha
mãe – Respondeu o menino abaixando os olhos.
- Pode ir
para o recreio, e não faça mais isso.
O menino levantou e foi para o
recreio. A professora abriu a gaveta, pegou a caixa de fósforos, acendeu um
palito, uma lágrima nasceu em seus olhos e molhou a folha que era consumida
lentamente pelo fogo. A professora murmurou baixinho só para si enquanto olhava
a folha sendo lentamente consumida pelo fogo:
- Sem
vida aparente a liberdade fica escondida em veredas do coração de quem a sente
Olhou
para as janelas da sala de aula, seu pequeno mundo naquele momento e pensou em
seus alunos, que ela tinha que ensinar, mas também proteger mesmo desprotegendo
de alguma forma do mundo lá fora, pensou em seu pai que os homens verdes
levaram e que nunca mais voltará, ela no fundo também sentia medo e medos e
medos e medos, tornou olhar a janela, viu o vazio no céu, então murmurou
novamente baixinho para si mesma:
- Às
vezes é melhor, mais seguro, que os sonhos de liberdade não saiam do casulo, e
fiquem vivos, mas dentro do coração.
Arnoldo Pimentel
Esse conto faz parte da Trilogia dos Meninos
Leia os outros dois nos links abaixo
OI ARNOLDO!
ResponderExcluirLI ESTE PRIMEIRO TEXTO E COMO ESTOU SEM TEMPO, NÃO IA COMENTAR AGORA, DEIXANDO PARA VOLTAR MAIS TARDE E LER OS OUTROS DOIS, COMO PROPÕES.
O FATO É, QUE ACHEI TÃO EMOCIONANTE E SENSÍVEL, QUE NÃO PODERIA SAIR DAQUI SEM TE DIZER ISTO.
MUITO LINDO E EMOCIONANTE!
VOLTAREI.
ABRÇS.
zilanicelia.blogspot.com.br/
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oi Arnoldo,
ResponderExcluiradorei...
sonhos devem existir sempre,
e realizá-los deve ser nosso
objetivo de vida...
beijinhos
gostei Arnoldo..
ResponderExcluirveou ler os demais..
beijos perfumados.
Arnoldo,que beleza de conto!Muito criativo e tocante!Vamos a continuação...rssss...bjs,
ResponderExcluirNada mais a dizer alem de que me emocionei...Bjos achocolatados
ResponderExcluirQuando leio o que você escreve, termino, fico parada olhando o que você escreveu, releio. Não tem como não sentir nada. Sonhos, medos, realizações, seus contos são maravilhosos. Tenha uma semana abençoada e beijinhos carinhosos para ti.
ResponderExcluirparabéns pela trilogia..
ResponderExcluircomo sempre, vc se superando..
bjs.Sol
pôxa, poeta, sem palavras... bjuuu de linda semana.
ResponderExcluirUma bela mensagem..
ResponderExcluiradorei...
bjos
Eu quero um livro de contos. Já publicou? Então corra e publique,pois é um contista talentosíssimo. Me emocionei...
ResponderExcluirMil xeros e uma semana excelente com saúde e paz.
Um comovente e lindo conto que revela a realidade de um coração de uma criança que sofre vítima de tantos abusos e imcompreensão... e acaba educando a professora...
ResponderExcluirBeijos e boa noite!!
Lindo!
ResponderExcluirComo sempre...
Obrigado!
um anjo
Realmente escreves com sentimentos, beijos e tenha uma ótima terça-feira
ResponderExcluirReli...dvagar...
ResponderExcluir"Sem vida aparente a liberdade fica escondida em veredas do coração de quem a sente"...
Uma delícia!
Bj
Pura emoçao!
ResponderExcluirVou ler os outros!
Beijos!
É como dizem: "A maior prisão do mundo é a liberdade"
ResponderExcluirBonito texto.
Um bjo querido.
Ah..liberdade!!!
ResponderExcluirQuantos estão na busca?
Quantos já nem sabem buscar?
Quantos ainda não ouvram falar?
Amei vir aqui nesta noite de sexta!
Bjos meu querido!
Olá meu amigo, passando para desejar à você um excelente domingo. Beijinhos carinhosos para ti.
ResponderExcluirUma dura realidade, abraço Lisette.
ResponderExcluirLi e reli e...talvez me tenha emocionada:)!
ResponderExcluirAbraço amigo
O texto é tocante! Gostei muito Arnoldo, parabéns!
ResponderExcluirUm abraço.