Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Homem Peixe, Você Não Conhece Todos os Meus Versos (Márcio Rufino)

                                                              Homem Peixe
                                              Bica da Mulata em Belfgord Roxo  RJ
              Márcio Rufino interpretando na peça Inspertor Geral na Praça de Belford Roxo RJ
                    Poeta Márcio Rufino na Casa de Cultura Sylvio Monteiro (Nova Iguaçu RJ)





HOMEM-PEIXE
Marcio Rufino




Pulou para fora do aquário
Rastejou no carpete
Procurou um mar imaginário
Sem que ninguém soubesse.

Rolou da escada
Querendo alcançar a rua
Chegou até a escada
Saiu embaixo da chuva.

Seguiu pegadas
Deixou vestígios
Descamou em estradas
De delírio.

Atravessou pistas
Chafurdou na lama
Prejudicou as vistas
Machucou as barbatanas.

Mergulhou em poças
Refugiou no cais do porto
Esbarrou em louças
Sem nenhum conforto.

Buscou um barraco
Um pedaço de vitrine
Uma peça de teatro
Um roteiro de filme.

Um conto
Uma canção
Ficou sem ponto
Sem noção.

Nada encontrou
Nem mesmo um tema
Só se encaixou
Neste poema.

Marcio Rufino


VOCÊ NÃO CONHECE TODOS OS MEUS VEROS
Autor Márcio Rufino


Você ainda não conhece os versos
que nascem na calada da madrugada fria
embaixo do cobertor.

Você não conhece os versos que nascem
quando sozinho, preocupado e sem graça
ando pelas ruas insossas de Belford Roxo
e vejo suas paredes descascadas,
seus comércios decadentes,
os adolescentes indo para a escola em bandos histéricos,
os homens nus da cintura para cima bebendo cerveja,
as mulheres carregando sacolas de supermercado,
as crianças brincando,
os muros pixados,
os terraços das casas perdidos entre as abóbadas das árvores,
o asfalto sujo e corroído de excremento de cavalo.

Você não conhece os versos que nascem
quando ao ouvir canções de amor
me derreto como o sorvete
que se derrete ao calor da língua,
pois somente nos meus versos
posso, quero e devo fazer amor,
não só com mulheres e homens,
mas também com crianças, bichos,
plantas, coisas, anjos, santos
e Deus muito além das orações.

Você não sabe que meus versos
querendo conquistar além de amizades
acabam saqueando corações e almas
e não conseguem saquear corpos.
É mais louvável, belo e heróico
saquear corações e almas,
mas meus versos, mesmo assim,
sentem inveja do versos que saqueiam corpos.

Eles também desejam as efemeridades,
as futilidades, as inutilidades, os escárnios,
as zombarias, os abusos, os excessos,
as orgias, as luxurias, o prazer.

Meus versos piratas
não querem o ouro,
não querem a prata,
não querem o euro,
nem o dólar.

Eles querem a bobeira, a palhaçada,
a maluquice, a brincadeira.

Portanto,
não me venha com seu falso equilíbrio,
seu cuidado, seu bom senso, seu "você há de convir",
seu "não é bem assim", seu "você tem certeza?",
seu "pense melhor", seu "você pode se arrepender".

Seu tudo aquilo que é a gaiola do mundo,
o cadeado do sonho,
a grade da vida
que quer encarceirar o céu
que pare a pomba branca da paz,
a terra que pare o lôdo,
o espelho que mostra a minha cara
parindo minha barba e meu bigode,
o sentimento que pare o gesto,
o pensamento que pare a palavra,
a natureza que pare a paixão.

É...
Você não conhece todos os meus versos.

Conheça um pocuo mais do trabalho do Márcio Rufino
Blog: http://emaranhadorufiniano.blogspot.com

Eu, Arnoldo Pimentel estou sendo entrevistado no blog da Anne Lieri, se puder faça uma visita e conheça um pouco do meu trabalho, desde já lhe agradeço, link abaixo




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

REFLEXOS EM GOTAS DE CHUVA




                                              
 Se o amigo(a) tiver um tempinho leia minha entrevista no blog da Anne Liere
 
 http://recantodosautores.blogspot.com/2012/02/recanto-entrevista-arnoldo-pimentel.html

REFLEXOS EM GOTAS DE CHUVA
Autor: Arnoldo Pimentel

                                                  
- Mãe, onde está o papai? Perguntou a filha mais nova
- Está viajando a trabalho – Respondeu a mãe
- Na escola também tem outros pais viajando, pra onde vão? – Disse o filho mais velho
- É melhor vocês jantarem – Disse a mãe já impaciente com as perguntas
Na mesa de jantar estavam a mãe e os três filhos, o filho do meio estava sempre quieto, não falava muito, ficava anotando coisas ou olhando o céu.  Terminaram o jantar em silêncio, a mãe recolheu as coisas da mesa com a ajuda dos três.
- Fiquem um pouco na sala enquanto lavo a louça e depois vamos dormir.
Os três foram pra sala e sentaram-se pelo chão
- Sinto falta do papai – disse a menina
- Dizem que os homens viajam pra guerra e alguns não voltam – Disse o mais velho
- Ele voltará – disse a mãe entrando na sala – Todos para quarto
Todos foram se deitar, a mãe apagou as luzes, desceu a escada, acendeu o abajour que ficava no criado mudo ao lado do sofá, onde sentou e ficou olhando o céu pela janela e imaginando seu esposo, se estaria bem tão longe, no pacífico. Ali ficou a esperar, como todas as noites, até o sono entrar pela janela, que sempre ficava aberta, e assim levantar-se, fechar a janela e também se recolher. O dia amanheceu e os irmãos foram para a escola, que já não tinha alegria há algum tempo, os alunos tinham olhares órfãos e alguns já eram órfãos, mas o dia estava diferente dos outros dias, as flores pareciam ter vida. A tarde chegou e os irmãos voltaram para casa, a mãe estava na porta da frente, dessa vez com um sorriso aberto.

- Que houve mamãe? Perguntou o filho do meio
- Entrem
Os irmãos entraram
-  A guerra acabou, vamos preparar a casa pro papai
- Quando ele vai voltar? – Perguntou a menina
- É, Quando? Hoje? – Perguntou o mais velho
- Eu não sei, mas logo entrará pela porta de braços abertos para abraçar vocês

Naquela noite quase não dormiram, ficaram brincando, cantado, contando histórias e ouvindo histórias.

- Mãe, papai vai trazer presentes? Perguntou a menina
- Eu quero uma boneca – Completou
- Quero uma bicicleta – Disse o mais velho
- Eu quero telescópio – Disse o do meio, que gostava de olhar estrelas e escrever
- E você mamãe, o que quer? Perguntou a menina
- Voltar a ser feliz com vocês

- Escrevi um poema pro papai – Disse o do meio
- Mostra, leia para nós – Disse a mãe

O menino tirou um papel meio amassado do bolso, ficou de olhos baixos, meio tímido

- Vamos leia, depois vai ler pro papai – Disse a mãe

Ele tomou coragem, abriu o papel
“ Choro de saudades papai
Por que você não volta?
Todo dia te espero
Todo dia te espero
Te ver entrar pela porta
É o que mais quero”

A mãe não conteve as lágrimas, abraçou os filhos e os levou para dormir. Agora que a guerra acabou era só esperar o homem que tanto amava voltar, enquanto isso iria sonhar com os dias que estavam por vir.

Era sábado e o sol já ia alto na pequena cidade do meio oeste, a mãe estava lavando roupas nos fundos e os filhos na sala quando um carro parou na frente da casa.

- Deve ser o papai – Gritou o mais velho
A menina foi chamar a mãe que veio apressada enxugando as mãos no avental
A mãe chamou o filho do meio
- Pegue o poema pro seu pai
O menino tirou o poema do bolso, estava sempre com ele, pronto para ler e ficou de pé do meio da sala.
- Espere até ele entrar
- Tá bom mamãe
Ela abriu a porta e viu três homens de uniforme
- Senhora Mary Doe
- Sim
-  A senhora é esposa do Ten. Doe
- Sim, o que houve? Quando meu esposo voltará? – Disse ela sentindo um tremor nas pernas, um aperto no coração
- Nós sentimos muito senhora.



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

NEVE SOBRE O LAGO






NEVE SOBRE O LAGO

Gosto de ficar olhando
A neve cair em silêncio
Sobre o lago
De ficar em silêncio
Perto do lago
Apreciando os galhos
Das árvores que margeiam
O outro lado do lago
De ouvir os poucos pássaros no inverno
Até a tarde cair
E depois caminhar
Para casa
Até quem sabe encontrar
Até quem sabe me encontrar
Olhando em silêncio a neve
Cair em silêncio
Sobre o lago

Arnoldo Pimentel


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

BARCO DE PAPEL

Às vezes fazemos escolhas
Que nem sempre são certas
O trovão ficou lá atrás
Mas a tempestade que leva ao naufrágio

Mostra no arco-íris que você não vê
Que o naufrágio servirá para mais tarde
Você encontrar a tranqüilidade para navegar

O barco de papel
Apesar de frágil
É a luz que mostrará o caminho
Para a humildade que sempre estende as mãos

E o vulto que oprime se vai
No vento
Que semeia a paz
Que você deixará habitar seu coração
Se assim desejar

Arnoldo Pimentel