Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

terça-feira, 28 de junho de 2011

BANGLADESH

Quadro de minha amiga e parceira do Gambiarra Profana, artista plástica Gabriela Boechat
Blog da Gabi http://artemundogabriela.blogspot.com

.                                                BANGLADESH
Visite o blog do Gambiarra Profana, sempre poesias livres.
http://gambiarraprofana.blogspot.com


Vejo alguns prédios longe daqui
Não sei o que dizem
Nas imensas palavras que não li                                                          
Mas sei que meus sapatos
Pisam em chão largado
Onde os restos ficam esperando a colheita
E os rostos ficam esperando
Um sorriso
Só um sorriso
Antes que venham os furacões
Que assombram os pólos
É assim mesmo, basta olhar pra dentro
E não se enganar
Basta ver a verdade
E não o que está escrito
Pra você viajar






sexta-feira, 24 de junho de 2011

NEVE SOBRE O LAGO





                                                   NEVE SOBRE O LAGO

Gosto de ficar olhando
A neve cair em silêncio
Sobre o lago
De ficar em silêncio
Perto do lago
Apreciando os galhos
Das árvores que margeiam
O outro lado do lago
De ouvir os poucos pássaros no inverno
Até a tarde cair
E depois caminhar
Para casa
Até quem sabe encontrar
Até quem sabe me encontrar
Olhando em silêncio a neve
Cair em silêncio
Sobre o lago

segunda-feira, 20 de junho de 2011

MEU ALGOZ



Meu algoz está dentro do meu quarto
Não tem rosto figurado ou
Abstrato

Tem estilete nas palavras para cortar as minhas
Palavras

Fica em um dos cantos
Do quarto úmido apenas emboçado
Menor que 4x4
De olhos bem
Abertos

Com seu canto aberto
Vigiando a janela
Para o “monstro”
Não entrar

Visite o blog do Gambiarra Profana
http://gambiarraprofana.blogpot.com

quarta-feira, 15 de junho de 2011

PAISAGEM ABSTRATA DE SAIGON



                                         
 O vídeo é uma apresentação do Gambiarra Profana em 2009 no Cineclube Buraco do Getúlio, na Casa de Cultura Sylvio Monteiro em Nova Iguaçu RJ 

PAISAGEM ABSTRATA DE SAIGON
Autor: Arnoldo Pimentel 

Senti o olhar tênue
Sobre a relva seca que eu pisava
Antes que a chuva molhasse meu dia

Labirintos que não escrevo
Olhares que não vejo
Pessoas,  há muito não beijo

Desde que fui pra cidade
Além das paisagens daqui
Cidade que nunca vivi

Só me escondi num quarto
Com um ventilador de teto
Tipo a Saigon daqui

E ali entre palavras,
Promessas e água fria
Me esqueci

sexta-feira, 10 de junho de 2011

PORTA / LIBERDADE VIGIADA / LIBERDADE CONDICIONAL



ESTA POSTAGEM CONTÉM TRÊS POEMAS CURTOS DE MINHA AUTORIA

PORTA


Ao abrir a porta 
Poderei estar abrindo
Um céu de incertezas
Que nem mesmo sei
Se existem

  
 LIBERDADE VIGIADA
Do outro lado do muro
Vinham as vozes agitadas
 Da quietude livre,
Liberdade vigiada
Pela mão estendida para o alto,
 Que só no olhar já feria
E fazia cativo
O dia que amanhecia


LIBERDADE CONDICIONAL                                                      

Eu quero apenas
Poder olhar para o lado esquerdo
E também para o direito
Olhar sem ter medo
Para todos os lugares
Poder caminhar com meus próprios passos
Sem ter que pagar penitência
Ou abaixar a cabeça
Para o enfeite
Que está ao lado do aquário

Visite o blog do Gambiarra Profana
gambiarraprofana.blogspot.com

segunda-feira, 6 de junho de 2011

APENAS UM JEITO DE NÃO FICAR SÓ



                          APENAS UM JEITO DE NÃO FICAR SÓ


Nem tudo é ficar só
O pequeno fogão duas bocas
Alguns copos para água
Talheres só para você

Dois pratos fundos
E dois rasos
Uma mesa com cadeiras
E um armário

A cama de solteiro e guarda roupa
Decoram o quarto
Com o abajour  na cômoda
Que fica logo ao lado

A sala é o recanto
Tem um sofá perto da janela
Um PC, o som e a TV
Para fazerem companhia

Aos livros que ficam arrumados
Na estante
Basta isso para não sentir-se
Tão só

Poesia na Calçada - Projeto Gambiarra Profana
gambiarraprofana.blogspot.com


quarta-feira, 1 de junho de 2011

MAR E A ROSA



                                        MAR E A ROSA

“Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre” (Sérgio Salles-Oigers)

Dê vida de verdade à sua poesia, leve-a para passear em Centro Culturais, Escolas ou qualquer espaço onde a poesia possa realmente viver e ser livre. (Arnoldo Pimentel)

Poesia na Calçada, projeto Gambiarra Profana
Gambiarraprofana.blogspot.com

MAR E A ROSA
As ondas quebravam banhando-se na areia iluminada pela pouca claridade da lua, a praia estava deserta, entre a praia e a pequena elevação coberta de verde, um calçadão e uma estrada que hora ou outra era iluminada por faróis de algum automóvel que por ali passava, o vento levantava um pouco de poeira, que não chegava a esconder o mar, que parecia um pouco agitado naquela hora da noite, algumas palmeiras ilustravam a paisagem do calçadão, uns poucos banco e mesas de pedra para descanso ou outro passatempo que quase nunca eram usados. O automóvel preto com faróis baixos, cortava vagarosamente o vento, parecia estar escolhendo algum ponto para estacionar e na altura da quinta palmeira parou silenciosamente, a porta foi aberta e uma mulher jovem, pele morena clara, cabelos longos, um pouco magra e estatura mediana desceu, estava vestida com um vestido preto, não muito apertado, até um pouco acima do joelho, deixando um pouco das pernas à mostra, com uma rosa vermelha na mão, fechou a porta do automóvel com as chaves dentro e vidros fechados, caminhou lentamente para a praia, estava descalça e foi brincando de levantar a areia, olhou a lua, mandou um beijo, acenou um adeus para um barco que navegava lá no horizonte. A rosa estava em suas mãos e tinha os espinhos, ela levou-a até a altura do peito e esfregou os espinhos levemente por cima do vestido preto não muito apertado, os espinhos rasgaram o vestido e seu corpo e uma pequena mancha de sangue tocou o vestido preto, seus seios estavam arrepiados pela friagem, pelo toque do vento que vem do mar, seus mamilos pareciam querer furar o frágil tecido preto do vestido preto não muito apertado, ela chegou até a beira mar e caminhou sentido a água verde noturna do mar, virou de frente pro mar, sendo iluminada pela lua, cabelos ao vento, olhar distante e um sorriso nos lábios, esquecendo o lamento. Seus lábios não tinham marcas de batom, nenhuma maquiagem no rosto, abaixou-se e colocou a rosa na água verde noturna do mar, empurrou-a com os dedos, depois levantou-se, olhou o peito manchado de sangue e nem mesmo se importou, apenas olhou. Tem apenas um mar à sua frente, um mar na noite, logo ali onde termina os passos na areia,logo depois da ponta dos ventos que balançam seus cabelos. Despiu seu vestido preto não muito apertado e agora tem apenas um mar de águas verdes na noite, depois de despir o corpo nu de tanta espera, depois que a noite abrandou o leito, depois que a solidão se aqueceu na brisa, para invadir sua alma despida, sentida, quase sem vida, tem apenas uma solidão no mar vestido de preto, tem apenas esse mar que morrerá na noite vestido de preto e não há outro jeito. Olhou o mar, um olhar de leve e ficou sem jeito e então seguiu rumo ao fundo do mar de águas verdes, devagar, o mar foi engolido-a aos poucos, como se estivessem fazendo amor, bem devagar, até que ela, nua, ávida de amor, de dor sem seu vestido quase preto, foi em busca dos seus sonhos e desapareceu na noite, no fundo do seu mar, deixando apenas o automóvel preto, trancado com as chaves dentro na beira da estrada e o vestígio da solidão que não deu em nada.