Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

30 ANOS DE AMIZADE (HOMENAGEM A CLÁUDIO RANGEL)



Um dia, há exatos 30 anos, numa “praia” pela manhã, onde o “verde era o inferno” eu conheci uma pessoa que mudaria minha vida, mudaria meu jeito de ver a vida, de ver as pessoas, daquele dia em diante eu passei a sentir a simplicidade, passei a ser mais humano, a ser mais humilde, a conhecer a amizade e suas fronteiras e seus muros, que ainda hoje às vezes atravesso e às vezes fico em prantos, às vezes erro, a partir daquele dia a poesia passou a fluir diferente, acho que comecei a aprender algo que não aprendi até hoje, a ser gente.


CARTA AO CLÁUDIO RANGEL
Eu comecei a escrever isso em 01 de fevereiro de 2011, data simbólica dos 30 anos de amizade que nos une, eu sei cara que é um poema bem simples, nada para impressionar, fiquei dias lutando com minhas limitações, e esbarrava no pouco talento que tenho e nas inspirações que vinham e iam, pois eu queria fazer algo que chegasse pelo menos perto do seu talento, da sua arte, e sei que nem perto cheguei, lembro-me que quando nos conhecemos éramos muito jovens, eu um desconhecido que engatinhava, e ainda estou engatinhando na poesia e você , apesar da pouca idade, já era rodado, já tinha experiência que somada ao seu talento e conhecimento só me ajudaram, lembro-me das tardes de sábado que eu passava com vocês e você sempre dizia, com o violão nos braços.
--“Você é um homem do mundo e não pode se prender numa cela”

É cara, eu sei disso, mas eu vivo numa cela, na cela do meu próprio isolamento, não sei porque, nunca deixei de ser assim, lembro-me quando estávamos com o Zé Luiz( padrinho desnaturado), e eu com esse meu jeito tímido, calado, sem me abrir muito e você dizia:

--“Arnoldo, não pertencemos a esse lugar”,

Hoje eu tenho certeza que não pertencemos a esse lugar e você sabe que cada vez mais chego a conclusão que a herança que deixarei é meu coração e o meu galardão aqui, aqui nesse lugar é apenas a terra umedecida, nada mais, então procuro meu caminho para além daqui, Deus queira que não seja em vão, sei que nós temos que ver além desse pequeno e limitado horizonte, pois o nosso "inferno verde" foi apenas a metáfora do que iríamos passar na terra de meu Deus.

Hoje além de você só uma pessoa conhece tão bem o meu trabalho, conhece tão bem como sou,a quem como você agradeço de coração tudo que fez e faz por mim como pessoa e por minha poesia, pois sem vocês com certeza minha poesia não seria a mesma e sei que ainda tenho muito, mas muito mesmo que aprender com vocês.


VERDE
Ao meu irmão de coração Cláudio Rangel

A varanda tinha uma cadeira de descanso
De cada lado
As paredes eram emboçadas
A porta estava sempre aberta
Na sala um som
Um quadro na parede
Uma mesa de centro
Enfeitada com uma flor
Uma porção infinita de amor
E um jogo de sofá
Para ouvirmos o violão
Para ouvirmos a bela canção
Como se estivéssemos a beira mar
Como se estivéssemos
Numa clareira
Ouvindo o luar
Ali naquela sala habitava
A simplicidade
O toque sutil da amizade
E eu ficava a contemplar
Pai e filho a cantar
A conversar
A tocarem o violão para me encantar
Dava pra sentir o calor da fogueira
Dava para ficar ali a vida inteira

quarta-feira, 27 de abril de 2011

PÉROLAS


Eu parei apenas para colher algumas conchas
E o mar nem mesmo estava verde
E a lua apenas traduzia as palavras
Que estavam escondidas dentro das conchas

A noite apenas fluía em minhas veias
Como a solidão buscando os olhos que não vê
Como coração tateando na neve
Algum anjo especial sentindo o mesmo frio

Eu apenas parei para ler as palavras
Para ler os versos que espalhariam as nuvens
E limpariam meu céu

São apenas pérolas que existem dentro das conchas
Que brilham na noite do meu viver
São apenas pérolas que me trazem você

Que tiram do meu coração a agonia por nada ser
Que me trazem a esperança de um dia voltar a viver
São apenas pérolas que preciso ter

domingo, 24 de abril de 2011

BALEIAS DE TRÓIA


                                                        
As baleias ainda suspiram
Sonhando ser felizes
Neste estranho sertão
Com uma placa indicando ser o mar

Toda vez que penso em fugir
Estou na contra mão
Como se não tivesse as notas para a sinfonia
Que me tiraria do campo de concentração

Hoje andei na garupa de uma moto
E vi que o asfalto é mais quente
Que as brasas vivas
Que cozinham lentamente
O feijão

Às vezes imagino como eu poderia ser feliz
Se não estou com as baleias
No terraço de frente pro mar

Mas ainda sobraram algumas saudades
Do tempo dos suspiros
Nas noites de chuva em que eu saia do cinema
E ia caminhando até esquecer
E ver-me abrir o portão de casa

Entrar
Sentar-me à mesa
E escrever um poema
Sonhando em ser lido um dia

quinta-feira, 21 de abril de 2011

TRILOGIA DA ALDEIA


                                TRILOGIA DA ALDEIA

 CANTO DA SEREIA

Tem noites que chegam
Durante o dia
Trazem o canto da seria
Que seduz minha aldeia
Passeando pelas ruas
Pertinho das janelas de madeira
Deixando seu perfume
Para encantar
A lua



 PASSEIO
Os sonhos estão nascendo com o sol
A estrada é de terra batida
Com buracos pra todo lado
Os tons verdes
Pintam o clima incolor
Que será exilado durante
O passeio
Sem ter conhecido o amor

                                      
 BARCO

O barco parte
Antes do amanhecer
A moça de vestido azul claro
E sandálias de dedo
Com os cabelos soltos
Ao vento
Fica na beira da ponte
Perto da praia
A sonhar
A olhar
O pequeno barco
Sumir lá longe
Sendo empurrado
Pelo sonho da terra distante
Que fica além do horizonte
Sem saber se um dia irá voltar
Para olhar seu olhar




segunda-feira, 18 de abril de 2011

VESTIDO XADREZ




Ainda hoje estive na cobertura
De um edifício qualquer da cidade
Fiquei admirando você
Passeando pela ponte
Olhando e sonhando
Com as gôndolas românticas
De Veneza
Em seu vestido xadrez
Que eu nunca vi


A gôndola é uma embarcação típica de Veneza, na Itália. Pelas suas características, foi, até a chegada dos meios motorizados , a embarcação veneziana mais adaptada ao transporte de pessoas. Em uma cidade como Veneza, os canais foram sempre mais utilizados como via de transporte. Atualmente é usada sobretudo para passeios turísticos.
A gôndola é considerada uma das formas de encontro mais românticos de Veneza.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

PONTE SOBRE A NEVE


Eu ando um tanto quieto
Não sei ao certo
Como você está
Não sei se ainda sinto
Saudades

Ou se a ponte que atravessa
O rio coberto de neve
Irá nos deixar

Ainda sigo tentando
Esconder minha angústia
Por não ouvir seu sorriso
Atrás da porta

Mas sei que mesmo assim
Você ainda pensa em mim
Ainda sente o carinho da minha voz
Ainda somos nós

Talvez a ponte nunca seja partida
Talvez seja só a neve
Que esconde o rio
E deixa esse estranho clima vazio

Eu sei que você deve estar
Esperando do outro lado
Da ponte sobre a neve

Esperando que eu a atravesse
Pegue suas mãos
E a traga pra mim

Mas às vezes sinto
Que a qualquer momento
A ponte será partida
E olharei pra você do outro lado

E seguirei pela estrada
Sem olhar para a ponte
Ainda coberta pela neve

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ORGASMO





ORGASMO

Sentiu todo orgasmo
Da solidão
Quando abriu
O pequeno portão
E viu as luzes da casa
Apagadas
Sentiu-se tão sozinha
Que nem mesmo olhou pro lado
Abriu a porta
E foi direto pro seu quarto
Despiu-se
Deitou-se
Ficou olhando pelas poucas
Telhas de vidro
Entregando-se nua
Pra lua



segunda-feira, 11 de abril de 2011

OLÁ (Eu também sinto saudades)


                               OLÁ (Eu também sinto saudades) 

Há dias assim
Que as flores perdem a cor
Pela falta que sentem
Do brilho do sol

Há dias assim
Que espera apenas o tempo passar
Fica ali esperando
Sem saber o que será

Há dias assim
Nublados
Esperando apenas um olá

Esperando um sorriso
Esperando as mãos que acariciam
Pra poder se alegrar

quinta-feira, 7 de abril de 2011

METRÔ DAS SETE


Embarquei no metrô
Por volta das sete
O vagão estava cheio
Mas vi alguém de cabelos pretos

Olhei pensando te encontrar
Para pelo menos te olhar
Mas não era você
E nem poderia ser

Pois ontem mesmo lhe telefonei
Você estava no carro
Então quase não falei
Ou quem sabe apenas sonhei

Sei apenas que você
É minha razão de ser
Então procuro te encontrar
Em qualquer lugar

Seja em alto mar
Ou onde for
Até mesmo no vagão lotado
Do metrô

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CORES DO OUTONO (TRILOGIA DIA NUBLADO) TERCEIRO ATO


                                                     
                                        CORES DO OUTONO

 O parque está deserto
Com as folhas de outono
Enfeitando o chão
Dá pra sentir
As gotas da chuva fina
Beijarem as folhas
Minhas pegadas se misturam
Com o tom amarelo
Ainda espero o céu se abrir
Para tentar ver entre as árvores
As sobras de nuvens
Que pintam o ambiente
E depois apenas seguir
Enquanto as folhas com som amarelo
Possam secar
Depois que a chuva passar

sábado, 2 de abril de 2011

VENTO COM NUVENS (TRILOGIA DIA NUBLADO) SEGUNDO ATO



                                       VENTOS COM NUVENS
A cena da moto é inspirada na liberdade poética do meu amigo e parceiro Sérgio Salles-Oigers

 Parece até que vi a praia
Que ouvi gaivotas
A minha volta
Quase senti suas palavras
Tocarem meu rosto
Olhei pro céu
E não vi o sol
Subi em minha moto
E segui sem destino
Sem sentir o vento
Nos óculos escuros
Apenas segui por ai
Sem pensar em nada
Na tarde nublada