Edicões Gambiarra Profana/Folha Cultural Pataxó




"Minha Poesia não usa vestes para se camuflar, é livre e nua" (Arnoldo Pimentel)

"Censurar ninguém se atreverá, meu canto já nasceu livre" (Sérgio Salles-Oigers)

"Gambiarra Profana, poesia sem propriedade privada, livre como a vida, leve como pedra em passeata" (Fabiano Soares da Silva)

"Se eu matar todos os meus demônios, os anjos podem morrer também" (Tenneessee Williams)

terça-feira, 29 de março de 2011

DIA NUBLADO (TRILOGIA) PRIMEIRO ATO




                                            DIA NUBLADO

Às vezes parece até noite
Mas são os olhos que lembram
Que ainda não te ouvi
E o dia fica assim
Tipo nublado
Quase calado
Esperando a tarde cair

quinta-feira, 24 de março de 2011

GÊNESIS, EXÍLIO, PARAÍSO (TRILOGIA DA SOLIDÃO)




Esses poemas falam da solidão em si, "Gênesis" é o começo, o nascimento, quando ainda existe a esperança que vai se desfazendo bem à frente, usei o título por achar que nada traduz começo como a palavra Gênesis, Exílio é quando tudo começa se mostrar, os sonhos estão evaporando e a alma se reclusa mostrando o que realmente está por vir, usei o título Exílio por achar que é ali que tudo se desmorona, que a realidade se mostra e as paredes do quarto, que é a própria existência podem ser o auto flagelo, Paraíso é o final de tudo, o ocaso, é ali que a solidão está, mas é também o auto conhecimento, o ocaso sempre foi, é  e sempre será o âmago da solidão de uma pessoa, pois é o seu fim, tendo ela sido feliz ou não.
Uma pessoa falou-me "Mesmo que escolha viver sempre sozinho, viva com Jesus no coração" e acho que só escapa do ocaso da solidão e pode ter um recomeço depois do fim é que tem Jesus no coração.

 GÊNESIS
                                                                     
As luzes ainda foram vistas
Mas logo se apagaram
Os passos foram ouvidos
E logo ali ao lado se calaram
O filme falado
Com cenas mudas
Ficou largado no sofá
O lanche imaginário
Não foi tirado do refratário
O sono cativou
E algemou
A noite acabou


EXÍLIO
                                                                   
Ficou apenas a ilusão
De ouvir o relógio
Ondas que vagueiam
No quarto
Vulto da lua
Que entra pela fresta do tempo
Abrindo a janela
Lembrando o que lá longe
Depois do bosque
O espera

PARAISO

As manchas
Ainda estão no canto da parede
A cama no meio do quarto
O cinzeiro com cinzas
Ao seu lado
Olhar tímido
Tempo perdido
Do amor
Que nunca será
Lembrado

domingo, 20 de março de 2011

WICHITA


                                            WICHITA

Deve haver algum lugar
Onde a dor estanca
Onde a mão alcança
A neve que não vai descongelar

Um lugar onde
Se possa sentir o frio
Daqui
Que corta a carne sem mesmo sorrir

Deve haver algum lugar
Onde se possa descansar
Encolher o corpo descoberto

Sem ter ninguém por perto
Apenas a neve que congela o deserto
Do beiral sem paradeiro certo


domingo, 13 de março de 2011

CASA NA ÁRVORE






                                      CASA NA ÁRVORE

Eu tenho uma casinha na árvore
Ali fico nas minhas pequenas tardes
Ela não tem muito espaço
Não tem nem mesmo móveis
Mas é lá que estão alguns livros
Alguns discos que gosto de ouvir
Apenas quando estou só
Apenas quando minha garganta
Sente aquele nó
Tem meus filmes preferidos
De Frank Capra até Woody Allen
Passando pelo De Sica
E o mestre John Ford
É quando sei que estou
“Sem Destino”
É ali que me isolo quando sinto
Aquele nó
Por estar só
Sempre só

sexta-feira, 11 de março de 2011

DALLAS

                                            DALLAS

Um olhar distante
Como pássaro errante
Perdido na planície do adeus

Um olhar sem fim
Sem sombra
Tentando sorrir

Amargando no calor do deserto
Esperando por braços abertos
Por um caminho nos campos abertos

Um olhar distante
Um rosto ausente
Num deserto sem gente

terça-feira, 8 de março de 2011

RIACHO SECO

                                          RIACHO SECO

Lá do outro lado do horizonte existe um rio, mas não um rio imenso, um pequeno riacho, com águas claras que desce da nascente, que fica por perto, margeado de um lado por flores campestres,  e de onde pode-se ver  uma casa, com janelas de madeiras, sala com lareira, um pequeno pomar com frutas frescas  e uma varanda com cadeiras de balanço para durante a noite apreciar-se as estrelas que ficam por lá, naquele recanto, a brilhar. Na outra margem não existe flores campestres, o riacho é margeado naquele lado, apenas por árvores secas, pois a água não pode chegar lá, a paisagem é um tanto incolor, mas não existe dor, pois ela já está incorporada no clima solitário do lugar, lugar para quem teve apenas a solidão para habitar, ali não tem casa com varanda, nem estrelas para olhar, nem cadeira de balanço para descansar ouvindo o som do silêncio, nem mesmo o som do vento, e talvez seja nessa margem do rio, pela brisa que sinto chegar, depois que eu for para o outro lado do horizonte, que devo me aprisionar.

quinta-feira, 3 de março de 2011

POMAR COM MORANGOS VERDES



                         POMAR COM MORANGOS VERDES

Sinto que o terremoto chegou
Já não existem pérolas
Para colher no meu pomar
Não adianta tentar

Não adianta pescar
O verbo amar
Onde não há
Nem cinzas para atirar ao mar

Nem mesmo o canto
Do bem-te-vi
Acabará com a dor que existe aqui

Até o sol se esqueceu de levantar
De olhar
A solidão do pomar

quarta-feira, 2 de março de 2011

ALGODÃO AGRESTE





                                     ALGODÃO AGRESTE


Quero apenas um lugar para dormir
Com um colchonete
Ou um algodão agreste
Mesmo sem minhas vestes

Apenas uma paz
Para abrandar a chuva
Que rompe meu peito
Desfeito

Apenas uma esperança
De me refazer
Viver sem me esconder

Quero apenas
Ver seu sorriso
Na curva que me espera para um caminho qualquer